BE diz que Câmara de Braga só deve cortar 39 das 130 árvores destinadas a abate
A concelhia do Bloco argumenta que o diagnóstico a partir do qual a autarquia está a conduzir as operações de abate só recomenda o abate de 39 árvores, apesar de ter identificado 135 exemplares com necessidade de intervenção.
O abate de 130 árvores em espaço urbano projectado pela Câmara Municipal de Braga até ao final de 2020 é, para o Bloco de Esquerda (BE), uma operação “inaceitável”. Num comunicado emitido esta sexta-feira, a comissão coordenadora da concelhia do partido reitera que o diagnóstico pedido à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) aconselha somente o abate de 39 exemplares.
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O abate de 130 árvores em espaço urbano projectado pela Câmara Municipal de Braga até ao final de 2020 é, para o Bloco de Esquerda (BE), uma operação “inaceitável”. Num comunicado emitido esta sexta-feira, a comissão coordenadora da concelhia do partido reitera que o diagnóstico pedido à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) aconselha somente o abate de 39 exemplares.
“Como refere a equipa da UTAD, as árvores identificadas para abate apresentam danos irreversíveis, como fissuras, cancros ou podridões, provocados por podas grosseiras realizadas sem conhecimento técnico apropriado”, lê-se na nota assinada por Alexandra Vieira, deputada na Assembleia da República e na Assembleia Municipal de Braga. O BE sublinha também que algumas árvores plantadas “sem qualquer protecção” em zonas de estacionamento da Avenida Central, uma das zonas contempladas pela operação da Câmara, estão identificadas após terem sofrido “traumatismos graves provocados por automóveis”.
O coordenador desse diagnóstico, Luís Martins, confirmou ao PÚBLICO a identificação de 39 árvores para abate, 31 delas vivas e oito, localizadas no Parque da Ponte, já mortas. Esse espaço conta ainda com oito das espécies vivas identificadas para abate, ainda distribuídas pelo Campo das Carvalheiras, pela Avenida 31 de Janeiro, pela Rua Professor Machado Vilela, pelo Largo Monte d’Arcos e pela já mencionada Avenida Central, de acordo com um quadro a que o PÚBLICO acedeu.
O documento da UTAD indica ainda que os exemplares para abate fazem parte de um conjunto de 137 árvores a precisar de intervenção; com base no estudo, o partido alega que 52 necessitam de podas de manutenção, 19 requerem podas de segurança e 13 podas de formação, sendo ainda recomendadas, em menor número, podas cirúrgicas, podas fitossanitárias, podas de arejamento e podas de equilíbrio. Entre as 288 árvores avaliadas, o relatório adiantou que 151 não precisam de qualquer intervenção.
O especialista do Departamento de Ciências Florestais e Arquitectura Paisagista da UTAD esclarece que o tipo de poda varia consoante a espécie, a idade e as condições fitossanitárias da árvore, bem como as podas anteriormente realizadas. “Uma poda de manutenção implica a remoção de ramos secos, entrelaçados ou doentes, enquanto uma poda de formação ocorre normalmente em árvores mais jovens”, explica.
Em resposta ao abate de 130 árvores, o vereador municipal com o pelouro do ambiente, Altino Bessa, confirmou o objectivo de se plantarem 400. Para o Bloco, essa é uma decisão “arbitrária”, sem “planeamento ou estudo prévio”, nem “identificação de locais apropriados” para a plantação, à qual faltam ainda “critérios e tipologias de espécies a plantar” e “um programa de manutenção do parque arbóreo a médio e alongo prazo”.
O partido salienta ainda que a selecção e a gestão de árvores em ambiente urbano, bem como as operações de poda, os transplantes e os critérios para abate requerem “conhecimento técnico especializado de arboristas, botânicos ou arquitectos paisagistas”, que a autarquia “ignora”.
As decisões do vereador do ambiente, que, segundo o comunicado, carecem de sustentação técnica, “ameaçam o ambiente da cidade”, numa época em que são conhecidos os “benefícios do arvoredo urbano”, como a “redução de riscos para a saúde pública devido a ondas de calor, a filtração da poluição, o enriquecimento da diversidade de vida nas cidades e os efeitos positivos na saúde mental das pessoas”.
Há ainda ruas que esperam avaliação da UTAD, diz vereador
Confrontado com as críticas do BE, Altino Bessa reiterou que nem todas as 130 árvores identificadas para abate foram avaliadas pela UTAD. Esse número, acrescentou, baseia-se numa avaliação realizada em 2019 pela Divisão de Ambiente e Espaços Verdes da Câmara Municipal, tendo depois a autarquia encomendado um diagnóstico à UTAD. Os abates nas ruas examinadas já estão em marcha, mas há outras ruas com árvores identificadas que não foram ainda estudadas pela equipa de Luís Martins, explicou. “Só na freguesia de São Vicente, há 68 árvores identificadas. A UTAD só estudou as do Largo Monte d’Arcos, mas há outras cinco ruas sinalizadas pelos serviços municipais que ainda não foram avaliadas pela UTAD”, disse o vereador da maioria PSD/CDS-PP que governa Braga.
Altino Bessa lamenta, por isso, o que considera ser um “aproveitamento político” do Bloco, querendo-se colocar num papel de “protector” das árvores, ao mesmo tempo que apresenta uma “desconfiança vergonhosa” relativamente aos serviços da Câmara Municipal. “A avaliação feita pela UTAD coincide até agora em cerca de 90% com a avaliação da Divisão de Ambiente e Espaços Verdes”, reiterou. O vereador lembrou que Braga tem um parque arbóreo com muitos exemplares entre 30 e 40 anos, “maltratados com podas inadequadas”, e que este executivo é o primeiro a ordenar a avaliação que está em curso.