As muitas vozes de Deus e a distância social na canção dos Três Tristes Tigres
Mínima Luz, 22 anos depois de Comum, marca o regresso aos álbuns dos Três Tristes Tigres. Alexandre Soares e Ana Deus aproximam-se da canção guardando um distanciamento social que previne de se verem contaminados pelo vírus da normalidade. O encontro estonteante entre as muitas vozes dela e o arsenal de soluções de guitarra e electrónica dele tornam Mínima Luz uma criação gloriosa. Sai a 1 de Maio.
Naquele que durante muito tempo se imaginou ter sido o último sopro de vida dos Três Tristes Tigres, “aquela coisa estranha” — como lhe chama a cantora Ana Deus — que era o best of Visita de Estudo —, também o timing de edição e promoção do disco parecia um boicote. A maioria das entrevistas foi marcada para o dia 11 de Setembro de 2001 e, não é preciso ser Bandarra para adivinhar, acabou cancelada e tragada por dois aviões que colidiam e faziam ruir as nova-iorquinas Torres Gémeas, ao mesmo tempo que abalavam uma ideia que o mundo ocidental cultivava de si próprio. Passados quase 20 anos, os Três Tristes Tigres (TTT) planearam a sua ressurreição para o olho do furação — ou seja, largar um disco novo no meio do turbilhão que é a corrente pandemia que vivemos. “O mundo é assim — não se pode programar”, desabafa Ana Deus numa chamada tripartida com o Ípsilon (e o instrumentista Alexandre Soares), sem sombra de fatalismos.