Cientistas alertam para a necessidade da preservação da biodiversidade dos oceanos

Perda e degradação de habitats, poluição e o impacto das alterações climáticas são algumas das ameaças apontadas.

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Oceano Atlântico enric vives-rubio/Arquivo

Um grupo internacional de 150 investigadores alertou esta sexta-feira para a necessidade de preservação do genoma dos recursos marinhos oceânicos que têm potencial para aplicações biotecnológicas de interesse comercial, mas actualmente ameaçados.

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Um grupo internacional de 150 investigadores alertou esta sexta-feira para a necessidade de preservação do genoma dos recursos marinhos oceânicos que têm potencial para aplicações biotecnológicas de interesse comercial, mas actualmente ameaçados.

“É importante, por um lado, preservar a biodiversidade que permite esta variedade genética, mas, ao mesmo tempo, olhar para o oceano como tendo valor económico”, disse à agência Lusa Adelino Canário, investigador e director do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve. O investigador é um dos autores do artigo “O genoma oceânico: conservação, uso justo, equitativo e sustentável dos recursos genéticos marinhos”, juntamente com outros especialistas internacionais e portugueses, como Narcisa Bandarra, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Este trabalho serve de base a uma conferência online que se realiza esta sexta-feira no site do World Resources Institute, com os autores principais, que irão responder às questões mais relevantes sobre o tema “Genoma oceânico: desafios e oportunidades”.

Os especialistas apontam o excesso de exploração, a perda e degradação de habitats, a poluição e o impacto das alterações climáticas como algumas das ameaças ao genoma oceânico, que compreende os recursos genéticos presentes em toda a biodiversidade marinha e que os investigadores consideram ter um elevado potencial para aplicações biotecnológicas com interesse comercial.

“Do ponto de vista da biotecnologia, é importante conhecer estes organismos e saber que substâncias produzem – uma informação que faz parte do seu genoma – das quais pode ser possível tirar algum valor, retirando alguns compostos e obter produtos úteis para a sociedade”, adiantou Adelino Canário. Quando falam de genoma oceânico, os especialistas referem-se a toda a vida do oceano, desde os micróbios às baleias. “É basicamente o que está no ADN destes organismos que têm um valor enorme para a biodiversidade”, descreveu o investigador.

Criação de áreas marinhas protegidas

Os peritos propõem a criação de áreas marinhas protegidas “que abranjam 30% dos oceanos” e um apoio para uma “maior equidade na investigação e transferência de conhecimento de genómica”.

Paralelamente, defendem que é preciso garantir que as normas de propriedade intelectual “sustentem o equilíbrio e partilha de conhecimento” e assegurar uma “avaliação dos riscos e benefícios de novas tecnologias e práticas de biologia molecular aplicadas ao ambiente marinho”. Reivindicam, ainda, “um maior apoio financeiro e político para melhorar o conhecimento do genoma oceânico e a sua partilha”.

Adelino Canário defendeu também que a conservação dos recursos é importante, mas “não pode ser encarada apenas como um impedimento”, porque as áreas protegidas “permitem que haja um refúgio da biodiversidade”. Para o investigador, é possível a coexistência de actividades económicas na periferia das áreas protegidas, muitas vezes com uma “produtividade maior” do que aconteceria “se não houvesse essa protecção”.

“Portugal tem bons exemplos de compromisso entre a conservação e a exploração quer na costa continental quer nos Açores, até com reconhecimento a nível internacional”, exemplificou. “Criar áreas protegidas não significa uma perda de dinheiro, mas antes um investimento.”

O artigo agora publicado pelos peritos de um painel de alto nível é parte integrante de um relatório com 19 capítulos, que reúne 150 investigadores a nível internacional que analisam esta questão do ponto de vista legal, biológico e económico. O artigo faz parte de uma série de 16 relatórios chamados Blue Papers, que serão publicados até Junho de 2020 e que resumem as mais recentes inovações científicas sobre soluções oceânicas inovadoras nas áreas de tecnologia, política, governança e finanças.