Células no nariz podem ser porta de entrada do novo coronavírus

Os cientistas dizem que esta identificação poderá ajudar a explicar a elevada taxa de transmissão do novo coronavírus.

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Profissional de saúde tira amostras do nariz de um homem no Paquistão Akhtar Soomro/Reuters

Dois tipos específicos de células do nariz foram identificados como prováveis pontos iniciais de infecção do coronavírus SARS-CoV-2. É a conclusão de um trabalho publicado na última edição da revista científica Nature Medicine. Os cientistas dizem que esta identificação poderá ajudar a explicar a elevada taxa de transmissão do novo coronavírus.  

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Dois tipos específicos de células do nariz foram identificados como prováveis pontos iniciais de infecção do coronavírus SARS-CoV-2. É a conclusão de um trabalho publicado na última edição da revista científica Nature Medicine. Os cientistas dizem que esta identificação poderá ajudar a explicar a elevada taxa de transmissão do novo coronavírus.  

Cientistas em todo o mundo estão a estudar como o SARS-CoV-2 se transmite. Em estudos anteriores já se tinha mostrado que as amostras do nariz tiradas com zaragatoas de doentes com covid-19 tinham concentrações virais mais elevadas do que as amostras da garganta. Isto poderia significar que o nariz poderia ser uma potencial porta de entrada da infecção.

Para descobrir quais as células que podem estar envolvidas na transmissão da covid-19, cientistas analisaram dados da iniciativa internacional Atlas das Células Humanas, que tem a missão de mapear a actividade genética de todas as células do nosso corpo. Estudaram-se mais de 20 tecidos de pessoas não infectadas com o vírus e analisaram-se células dos pulmões, nariz, olhos, coração, rins ou do fígado. Depois, procuraram-se quais as células que expressavam duas das principais proteínas de entrada no nosso corpo (a ACE2 e a TMPRSS2) usadas pelo SARS-CoV-2.

Além de confirmarem a expressão da ACE2 em vários tecidos, também observaram a expressão das duas proteínas em tecidos que ainda não tinham sido analisados. A equipa encontrou uma elevada expressão da ACE2 e da TMPRSS2 nas células caliciformes e ciliadas do nariz, que produzem muco. A equipa sugere assim que estas células são o local da infecção inicial e são possivelmente a fonte de disseminação dentro do corpo e entre pessoas.

“É a primeira vez que estas células em particular são associadas à covid-19. Embora haja muitos factores que contribuem para a transmissibilidade do vírus, os nossos resultados são consistentes com as rápidas taxas de infecção do vírus vistas até agora”, afirma Martijn Nawijn, investigador do Centro Médico e Universitário de Groningen (nos Países Baixos) e um dos autores do artigo, num comunicado do Instituto Wellcome Trust Sanger (no Reino Unido), que teve investigadores envolvidos neste trabalho. “A localização destas células na superfície interna do nariz torna-as altamente acessíveis ao vírus e pode ajudar na transmissão a outras pessoas.”

A equipa diz ainda que estes resultados poderão vir a ter implicações em futuros tratamentos e na prevenção da covid-19. Sarah Teichmann, investigadora do Instituto Wellcome Trust Sanger, faz questão de realçar que ainda se está a construir o Atlas das Células Humanas, mas que esta ferramenta já está a ser útil para compreender a covid-19. “Esta informação pode ser usada para se perceber melhor como o coronavírus se transmite. Conhecer exactamente quais os tipos de células que são importantes para a transmissão do vírus também nos dá uma base para se desenvolverem potenciais tratamentos”, refere.

Por agora, a equipa continua a analisar os dados deste atlas para desvendar mais informações sobre as células e alvos que estarão envolvidos na covid-19, bem como relacioná-los com as características dos doentes.