Covid-19: Quarenta por cento dos mortos eram idosos residentes em lares
Instituto da Segurança Social está a fazer “um acompanhamento permanente de cerca de 750” lares de idosos, revela ministério. Cerca de 15 mil trabalhadores já foram testados.
Os números não param de aumentar. Quatro em cada dez pessoas que morreram por covid-19 em Portugal eram idosos que viviam em lares, segundo os últimos dados. A percentagem de mortes de pessoas que vivem em estruturas residenciais para a terceira idade no total de óbitos associados à infecção pelo novo coronavírus tem vindo a crescer ao longo deste mês, à medida que os números oficiais vão sendo conhecidos. Passaram de 15% do total das mortes, há duas semanas, para um terço apenas uma semana depois, segundo os dados revelados pela Direcção-Geral da Saúde.
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Os números não param de aumentar. Quatro em cada dez pessoas que morreram por covid-19 em Portugal eram idosos que viviam em lares, segundo os últimos dados. A percentagem de mortes de pessoas que vivem em estruturas residenciais para a terceira idade no total de óbitos associados à infecção pelo novo coronavírus tem vindo a crescer ao longo deste mês, à medida que os números oficiais vão sendo conhecidos. Passaram de 15% do total das mortes, há duas semanas, para um terço apenas uma semana depois, segundo os dados revelados pela Direcção-Geral da Saúde.
Mas esta proporção continua a crescer. Até esta quarta-feira, 327 idosos que viviam em lares e que ficaram infectados não resistiram à doença, cerca de 40% do total de óbitos no país (820), adiantou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, no habitual balanço diário da situação epidemiológica em Portugal. Graça Freitas fez questão de acentuar, porém, que “estar num lar não é uma fatalidade” e que “a maior parte das pessoas que adoeceram em lares estão hoje recuperadas”.
“Este número ainda vai aumentar”, avisa Rui Fontes, da Associação dos Amigos da Grande Idade que, há um mês, alertava já para o “drama” que se iria viver nos lares de idosos, olhando para o que estava a acontecer em vários países. Tendo em conta a grande fragilidade desta população, a falta de condições de muitas destas estruturas para lidar com a contagiosidade de um vírus que afecta sobretudo pessoas de idade avançada e com doenças associadas, os responsáveis da associação reclamaram “a criação de uma estratégia nacional para a gestão da crise em lares de idosos”, que incluía, entre outras medidas, a transferência dos que ficavam infectados para outros locais, o fornecimento de máscaras, batas e outro equipamento de protecção aos funcionários e a testagem dos residentes e dos profissionais. Mas algumas destas medidas tardaram a chegar. Entretanto, “os idosos vão morrendo aos poucos”, lamenta Rui Fontes.
“Este número impressiona mas é preciso ver que muitos destes idosos estão em situação de grande fragilidade. Vivem todos no mesmo lugar e os funcionários vêm quase sempre de transportes públicos”, contextualiza João Ferreira de Almeida, presidente da Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso, que receia que tenha havido ainda mais mortes por covid-19 que ficaram por detectar, nomeadamente em lares clandestinos que, segundo calcula, serão entre 3500 a 3800 em todo o país. Crítico em relação à actuação das autoridades de saúde e da Segurança Social, sustenta que, “em vez de vir em socorro, o Governo devia era ter actuado preventivamente”.
Situação está “mais controlada”
Depois dos problemas iniciais, a situação agora está “mais controlada”, considera o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Lino Maia, lembrando que, apesar de tudo, os problemas não atingiram a dimensão vivida noutros países . “Para mim, o mais importante era encontrar alternativas para os doentes com covid e foram, entretanto, identificados vários espaços, como hotéis, pavilhões, seminários”, enfatiza Lino Maia.
Questionado sobre a monitorização da situação, o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social (MTSSS) respondeu ao PÚBLICO que o Instituto da Segurança Social “faz o acompanhamento de todos os lares” e que “neste momento faz um acompanhamento permanente de cerca de 750 instituições”.
Quanto ao anunciado reforço de recursos humanos destas estruturas para que possam dar resposta ao cada vez maior número de infectados, revelou que foram já aprovadas 2289 candidaturas através do mecanismo do IEFP (uma bolsa especial para desempregados) e recebidas cerca de quatro mil candidaturas no âmbito da campanha de voluntariado.
Sobre o programa preventivo de testes em lares, que é desenvolvido em parceria com universidades, politécnicos, centros de investigação e a Cruz Vermelha Portuguesa, o ministério indica que já abrangeu 15 mil trabalhadores e que pretende chegar aos 70 mil testes no próximo mês.
A campanha de voluntariado é aplaudida por Lino Maia e por João Ferreira de Almeida, mas ambos sustentam que por enquanto não está a ter grandes resultados porque, além de não terem experiência e formação, muitos voluntários desistem quando confrontados com a realidade dos lares. Há perto de 150 mil idosos residentes em lares em Portugal, somando os das instituições particulares de solidariedade social, das misericórdias e dos privados, calcula Lino Maia.