Um sinal de esperança da União Europeia
Se o desenho final das medidas for o que hoje se pode perceber, se os montantes finais rondarem o bilião e meio de euros, a Europa recupera nesta face crucial da sua história a sua aura de entidade capaz de responder aos anseios dos seus cidadãos.
Ainda é cedo para celebrarmos as decisões do Conselho Europeu desta quinta-feira como uma prova definitiva de que os líderes da União estão a par das suas responsabilidades perante o terrível desafio da covid-19. Não sabemos ainda se o plano de recuperação que será apresentado pela Comissão a 6 de Maio vai dispor de um montante suficiente para acudir à economia, proteger os elos mais fracos do mercado único, salvar o euro e lançar as bases para a difícil reconstrução que se adivinha.
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Ainda é cedo para celebrarmos as decisões do Conselho Europeu desta quinta-feira como uma prova definitiva de que os líderes da União estão a par das suas responsabilidades perante o terrível desafio da covid-19. Não sabemos ainda se o plano de recuperação que será apresentado pela Comissão a 6 de Maio vai dispor de um montante suficiente para acudir à economia, proteger os elos mais fracos do mercado único, salvar o euro e lançar as bases para a difícil reconstrução que se adivinha.
Desconhecemos também que peso terão as subvenções que salvam os países mais aflitos da asfixia da dívida e os empréstimos que deixam no ar o espectro de uma nova crise financeira ou a forma como serão repartidas. Como dizia há dias António Costa, os grandes problemas numa negociação desta complexidade e sensibilidade estão nos detalhes, e esses, para já, ainda nos escapam.
Mas o que podemos desde já perceber é que a Europa foi, pelo menos, capaz de assumir que os desafios e as ameaças com que se confronta não podem ser encarados com receitas convencionais nem com o espírito punitivo que presidiu à receita para a crise do euro. A medida que genericamente se adivinha é inovadora e com uma escala sem precedentes.
Pressupõe o reforço do quadro financeiro plurianual para o qual os mais ricos contribuem mais em favor dos mais pobres. E antecipa a emissão de dívida por parte da Comissão Europeia que permite condições de financiamento que beneficiam os Estados, como Portugal, com dívidas públicas mais elevadas.
Se o desenho final das medidas for o que hoje se pode perceber, se os montantes finais rondarem o bilião e meio de euros que altos responsáveis da Comissão Europeia admitem ser necessários, a Europa aparece nesta fase crucial da sua história como uma entidade capaz de responder aos anseios dos seus cidadãos e de fazer prova da solidariedade como um dos seus traços essenciais.
Para lá chegarmos, falta ainda ultrapassar os cinismos dos Estados, as pressões internas do populismo antieuropeu ou a ideia errada de que num momento de aflição cada país deve tratar da sua vida. Os blocos liderados pelos Países Baixos, do lado dos que recusam qualquer partilha solidária, e pela Itália, que lutam pelas subvenções, ainda terão muitas horas de tensão para dirimir os seus conflitos e as suas divergências.
Mas também aqui há um sinal positivo da história que legitima a esperança: sempre que o eixo Paris-Berlim se mobilizou, a Europa avançou. Com as quatro maiores economias europeias sintonizadas, será mais fácil à Europa reencontrar-se com o seu sentido e a sua missão.