Em tempos de covid-19, isolamento pode aumentar casos de cyberbullying, alertam psicólogos
No Dia Nacional de Sensibilização para o Cyberbullying, a Ordem dos Psicólogos Portugueses lança recomendações para jovens e pais.
O período de isolamento obriga os mais jovens a utilizar com maior frequência a Internet para trabalhos escolares, entretenimento e socialização. Embora o mundo digital permita quebrar algumas barreiras físicas, acarreta também riscos. “Com o aumento da presença dos ecrãs, a tendência é para que aumentem os casos de cyberbullying”, alerta Raquel Raimundo, presidente da Delegação Regional do Sul da Ordem dos Psicólogos Portugueses, acrescentando que, em tempos de confinamento, verifica-se um aumento de casos e a “passagem de situações de bullying presencial para cyberbullying”. “A distância não tem inibido essas práticas”, remata a psicóloga, “antes pelo contrário”.
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O período de isolamento obriga os mais jovens a utilizar com maior frequência a Internet para trabalhos escolares, entretenimento e socialização. Embora o mundo digital permita quebrar algumas barreiras físicas, acarreta também riscos. “Com o aumento da presença dos ecrãs, a tendência é para que aumentem os casos de cyberbullying”, alerta Raquel Raimundo, presidente da Delegação Regional do Sul da Ordem dos Psicólogos Portugueses, acrescentando que, em tempos de confinamento, verifica-se um aumento de casos e a “passagem de situações de bullying presencial para cyberbullying”. “A distância não tem inibido essas práticas”, remata a psicóloga, “antes pelo contrário”.
No Dia Nacional de Sensibilização para o Cyberbullying, a Ordem de Psicólogos Portugueses (OPP) ajuda a explicar aos jovens, pais e professores quais os perigos a enfrentar e lança recomendações para uma maior segurança online.
O que é o cyberbullying?
Da adaptação do bullying às novas tecnologias, surge o cyberbullying, descrito pela OPP como “o uso da tecnologia para assediar, ameaçar, provocar ou embaraçar alguém de forma repetitiva e intencional”. Particularmente nefasto pela dificuldade em encontrar quem o pratica e do facto das barreiras físicas não se aplicarem, traduz-se, por exemplo, em “enviar mensagens cruéis, fazer um post insultando alguém, criar uma página falsa ou publicar uma imagem ou um vídeo desrespeitoso nas redes sociais”. Isto significa que “um cyberbullie pode incomodar alguém 24 horas por dia, garantindo que nenhum lugar (nem a casa) é seguro, humilhando alguém perante centenas de testemunhas e sem sequer revelar a sua verdadeira identidade”, lembram os psicólogos.
O problema pode afectar qualquer um: “a própria Unicef, que se normalmente vemos dedicada a outas questões, publicou um estudo no ano passado em que refere que um terço das crianças de cerca de 30 países já foi vítima destas agressões”, lembra Raquel Raimundo.
O cyberbullying não deve ser tomado de ânimo leve pelos pais, cuidadores e professores. A OPP lembra que as vítimas podem “desenvolver problemas de saúde psicológica, como a ansiedade e a depressão, tendo sido reportados em situações limite casos de suicídio”. Assim, é fundamental que estes adultos “conheçam e se envolvam no mundo digital”, percebendo que “a partir do momento em que a criança ou adolescente tem um telemóvel/computador/tablet está em risco”.
Recomendações para maior segurança online
A consciencialização dos riscos associados à Internet é a primeira recomendação deixada por Raquel Raimundo. A maioria dos conselhos deve ser tido em conta não só por jovens, mas também por todos os utilizadores da Internet em geral. Não divulgar passwords, não abrir mensagens não identificadas ou não fazer log-out das contas, sobretudo em dispositivos partilhados, são algumas das formas de minimizar riscos online.
Aos jovens é também recomendado que pensem bem antes de fazerem publicações. “Pensa que quem te quiser ferir ou prejudicar pode usar essas imagens para te chantagear ou humilhar”, lembra a OPP. Pesquisar o próprio nome num motor de busca pode ajudar a revelar conteúdos que os utilizadores não se recordem que tinham online, exemplifica Raquel Raimundo.
Numa primeira instância, o guia lembra aos pais que ensinar os mais jovens a lidar com situações problemáticas e superar obstáculos pode ajudar as vítimas a lidarem melhor com a situação, fazer com que as testemunhas denunciem os casos ou até diminuir o número de potenciais agressores por não sentirem a necessidade de “descarregar nos outros”. Aos pais e cuidadores recomenda-se também que aproveitem as funcionalidades de segurança e privacidade dos dispositivos e redes sociais. Por outro lado, os diálogos frequentes e o respeito pela privacidade dos mais jovens ajudam a não haver quebra de confiança.
Ainda assim, a OPP alerta que “a maior parte das crianças e adolescentes vítimas de cyberbullying não denuncia a situação” por medo ou embaraço. E enumera alguns sinais de alerta, como:
- Mostrar-se aborrecido ou perturbado durante ou após a utilização do telemóvel/computador/tablet;
- Mostrar-se triste, ansioso, preocupado ou alheado da realidade;
- Fazer da sua vida digital um segredo ou tentar protegê-la a todo o custo;
- Minimizar “janelas” na presença do adulto, pedir ajuda para eliminar contas ou bloquear amigos;
- Isolar-se e evitar a família, os amigos ou as actividades habituais;
- Recusar assistir às aulas à distância ou participar em situações de grupo;
- Diminuição do rendimento escolar ou aparente aumento do número de horas de estudo, sem grandes melhorias de resultados;
- Mostrar-se zangado e descontrolado;
- Mudanças de humor, comportamento, sono ou apetite, sem justificação aparente;
- Parar de usar o telemóvel/computador/tablet;
- Mostrar-se nervoso e ansioso sempre que surge uma nova mensagem;
- Evitar discussões sobre o uso do telemóvel/computador/tablet.
O que fazer em casos de cyberbullying
Ignorar, caso seja um incidente isolado, pode ajudar a não estimular o agressor. Contudo, caso seja persistente, a OPP sugere que a situação seja denunciada: “O teu silêncio pode permitir ao cyberbullie tornar-se cada vez mais violento.” Se o bloqueio e a denúncia através dos sistemas instaurados pelas diversas redes sociais não funcionar, deve-se recolher provas através de capturas de ecrã ou fotografias e, caso se suspeite o risco da segurança, devem ser contactadas as autoridades. Os psicólogos lembram que a ajuda de colegas pode ser essencial na denuncia de casos e apoio às vítimas destes ataques.
Já os pais devem levar as ameaças a sério, mas tentar controlar as emoções e evitar reagir de forma impulsiva. É essencial garantir ao jovem que a culpa não é dele e lembrar que pode acontecer a qualquer pessoa, afirma o guia. Também os pais devem ajudar a recolher provas e pedir a colaboração da escola, pois o agressor e a vítima podem frequentar a mesma, ou das autoridades. Há também instituições, como a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que dispõem de linhas de apoio específicas para casos destes.
E se o jovem for um cyberbullie?
“Há a tendência para pensar que os agressores são sempre os filhos dos outros”, assume a psicóloga Raquel Raimundo. No entanto, é preciso assumir o problema e perceber que “é o comportamento que é reprovável e é sobre ele que se deve agir, não sobre a criança”. É importante perceber o que desencadeou esses comportamentos e discutir com o jovem o impacto negativo que tem.
Os pais, nestas circunstâncias, devem definir “controlos parentais rígidos em todas as plataformas digitais” e recordar que “o uso das plataformas digitais é um privilégio”. Além disso, devem partilhar as suas preocupações com a escola ou com profissionais como os psicólogos.
Professores são fundamentais na prevenção
Os professores podem estar na linha da frente no combate ao cyberbullying e devem manter-se atentos a sinais de alarme e adoptar estratégias de prevenção. Sobretudo em altura de isolamento, os docentes devem promover a discussão do tema.
“O professor não deve demitir-se do seu papel, adoptando uma política clara e inequívoca de que este tipo de comportamento não será tolerado, dentro ou fora do período de isolamento”, recorda o documento da OPP.
Prestar atenção às interacções entre os alunos e intervir directamente nos casos de agressão, procurando ajuda do psicólogo escolar ou membros da direcção da escola são outras das recomendações dadas aos docentes.