E se a poluição tivesse sido uma alavanca para as mortes na Europa por covid-19?

Novo estudo associa altas concentrações de gases poluentes na Europa, especialmente de dióxido de azoto, a uma maior taxa de mortalidade da covid-19.

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Poluição no mundo caiu a pique, mas os gases poluentes continuam a prejudicar o ar que respiramos paulo pimenta

A poluição poderá ter sido um dos principais contribuidores para as mortes pelo novo coronavírus. São vários os estudos que associam altas concentrações de poluição a elevados números de mortos em grandes cidades e um novo estudo publicado em Abril aponta também essa ligação.

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A poluição poderá ter sido um dos principais contribuidores para as mortes pelo novo coronavírus. São vários os estudos que associam altas concentrações de poluição a elevados números de mortos em grandes cidades e um novo estudo publicado em Abril aponta também essa ligação.

O estudo é da Universidade Martinho Lutero de Halle-Wittenberg, na Alemanha. A investigação de Yaron Ogen mostra que 78% das mortes por coronavírus nos quatro países mais afectados da Europa – Itália, Espanha, Alemanha e França – ocorreram em apenas cinco das 66 zonas administrativas em que estes países se dividem. Essas cinco zonas são, simultaneamente, as regiões mais poluídas e concentram-se no Norte de Itália e Madrid.

“Os resultados indicam que a exposição por um período prolongado ao dióxido de azoto pode ser um dos principais contribuidores para a mortalidade causada pela covid-19 nestas regiões e até no mundo”, refere Yaron Ogen no estudo, publicado na revista Science of the Total Environment

Outros trabalhos chegaram aos mesmos resultados. Um estudo italiano, publicado a 4 de Abril, refere que os elevados níveis de poluição no Norte de Itália “podem ser considerados como um factor adicional para o alto nível de mortalidade registado nessa zona.” Outro estudo, da Universidade de Harvard (EUA), confirmou que um pequeno aumento no número de partículas poluentes no ar “está associado a um aumento de 15% na taxa de mortalidade da covid-19” nos Estados Unidos.

Na investigação mais recente de Yaron Ogen, o indicador utilizado é o crescimento do dióxido de azoto (NO2). Como explica Célia Alves, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, o NO2 “é um bom indicador das emissões automóveis. É um dos principais gases emitidos e que, apesar das melhorias introduzidas no sector, como filtros de partículas, e com a melhoria da qualidade dos combustíveis, não se tem conseguido baixar significativamente comparativamente a outros poluentes”.

Yaron Ogen comparou os níveis de NO2 em 66 regiões administrativas entre Janeiro e Fevereiro com o número de mortes com o novo coronavírus até 19 de Março. Também considerou condições atmosféricas, para perceber se os gases se dissipavam ou se concentravam nas regiões.

À semelhança da província de Hubei, na China, onde a pandemia começou, as regiões mais atingidas foram regiões rodeadas por montanhas, nomeadamente Madrid e Norte de Itália, o que ajuda a “prender” a poluição: 78% das 4443 mortes no período de tempo estudado foram registadas em quatro zonas administrativas no Norte de Itália e uma em Madrid.

A correlação entre poluição e mortes por covid-19 é preocupante, especialmente se tivermos em conta que o reduzido tráfego e a menor poluição industrial não ajudaram para que a doença abrandasse. Os gases libertados ficam retidos na atmosfera, trazendo efeitos nocivos para a saúde.

A exposição ao dióxido de azoto pode originar graves doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes ou mesmo à morte. Em Portugal, os resultados da Agência Portuguesa do Ambiente mostram que a concentração de NO2 nos centros urbanos caiu drasticamente desde a implementação do estado de emergência.