Geolocalização móvel, medos e perigos
A História ensinou-nos que nada justifica a interrupção da Liberdade, seja para satisfazer a fome, combater a desigualdade ou, como agora, ter mais segurança.
O medo atávico do contágio tentou desde tempos imemoriais identificar os doentes sobretudo nos tempos de epidemias. Assim foi na Idade Média, com a peste, em que os doentes eram obrigados a movimentarem-se com um sino amarrado ao tornozelo para avisar as outras pessoas. Hoje, em pleno século XXI, com os meios de comunicação que chegam a milhares de pessoas, com imagens televisivas assustadoras de enterros em massa e de hospitais cheios de doentes em corredores e hospitais de campanha, como se de uma guerra mundial se tratasse, e, a agravar esta situação, o desconhecimento científico do novo vírus e das suas formas de contágio, leva a um pânico generalizado e compreensível.
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O medo atávico do contágio tentou desde tempos imemoriais identificar os doentes sobretudo nos tempos de epidemias. Assim foi na Idade Média, com a peste, em que os doentes eram obrigados a movimentarem-se com um sino amarrado ao tornozelo para avisar as outras pessoas. Hoje, em pleno século XXI, com os meios de comunicação que chegam a milhares de pessoas, com imagens televisivas assustadoras de enterros em massa e de hospitais cheios de doentes em corredores e hospitais de campanha, como se de uma guerra mundial se tratasse, e, a agravar esta situação, o desconhecimento científico do novo vírus e das suas formas de contágio, leva a um pânico generalizado e compreensível.
Esta pandemia pôs na ordem do dia a questão ética se se deve denunciar as pessoas infetadas pela covid. Autarcas querem possuir esses dados referentes aos seus munícipes, chegando a dizer: “andam umas bombas relógio à solta que deviam estar em casa (…) portanto o estado de emergência devia ampliar as condições – só que as entidades são obtusas para entregar os dados individuais dos positivos (…) eu entrego os dados em envelope fechado à Polícia Municipal (…)”. (Antena 1, 11.04.20).
Na Idade Média colocava-se um sino, hoje, com a tecnologia avançada made in China, coloca-se um chip.
A aplicação no telemóvel para identificar os infetados com o novo coronavírus começou na China e foi seguida pela Coreia do Sul e Singapura. Há anos que os informáticos chineses tinham à sua disposição centenas de milhões de caras para treinar os seus computadores no reconhecimento facial, o que se tornou muito útil para resolver problemas diários como compras no supermercado, transportes, entrar nos prédios, pagar as contas nos restaurantes ou ainda retirar dinheiro do banco. Basta fazer um scanner no código de barras e mostrar a sua cara na caixa. Aí, uma câmara inteligente reconhece-a e valida as suas compras. Daí a usar uma aplicação no telemóvel para identificar e seguir os covid positivos é uma brincadeira de crianças.
O medo está a levar países europeus (Itália e Espanha) a fazer contratos com start-ups chinesas e coreanas para identificarem e seguirem os seus concidadãos portadores do novo coronavírus, o que permite a qualquer um identificar se está próximo de um infetado, se existe alguém na sua rua ou no seu prédio com o vírus. O reverso da medalha consiste no saber se esta aplicação irá servir para vigiar os cidadãos a fim de criar uma sociedade de controle, verdadeiro Big Brother, que ultrapassa toda a imaginação de Aldous Huxley ou de George Orwell.
A memória é curta, mas todos estes países assinaram em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz no seu artigo 12, cito: “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.”
Este conceito abre as portas a outros direitos online e offline, como o direito à não discriminação
A Liberdade é o bem mais precioso que os povos conquistaram e a nossa foi alcançada há 46 anos.
A História ensinou-nos que nada justifica a interrupção da Liberdade, seja para satisfazer a fome, combater a desigualdade ou, como agora, ter mais segurança.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico