Covid-19: Oposição de direita acusa Governo espanhol de manipular forças de segurança
Em causa está uma declaração do chefe da Guardia Civil sobre o objectivo de “minimizar o clima contrário à gestão da crise pelo Governo”, no âmbito do combate às notícias falsas partilhadas nas redes sociais.
O ambiente político em Espanha ficou ainda mais tenso este fim-de-semana, depois de o responsável máximo da Guardia Civil, o general José Manuel Santiago, ter dito que um dos objectivos das forças de segurança é “minimizar o clima contrário à gestão da crise por parte do Governo”. As palavras escolhidas pelo responsável, que respondia a perguntas sobre o combate a notícias falsas no meio da pandemia do novo coronavírus, foram interpretadas pelo Partido Popular (direita) como um ataque à liberdade de expressão e levaram o Vox, da extrema-direita, a dizer que está em curso “um golpe de Estado do próprio Governo”.
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O ambiente político em Espanha ficou ainda mais tenso este fim-de-semana, depois de o responsável máximo da Guardia Civil, o general José Manuel Santiago, ter dito que um dos objectivos das forças de segurança é “minimizar o clima contrário à gestão da crise por parte do Governo”. As palavras escolhidas pelo responsável, que respondia a perguntas sobre o combate a notícias falsas no meio da pandemia do novo coronavírus, foram interpretadas pelo Partido Popular (direita) como um ataque à liberdade de expressão e levaram o Vox, da extrema-direita, a dizer que está em curso “um golpe de Estado do próprio Governo”.
O conflito entre os partidos de direita e de esquerda em Espanha aumentou com o acordo de Governo entre os socialistas do PSOE e a Unidas Podemos, em Novembro, e não acalmou com a pandemia do novo coronavírus, que já fez do país o segundo com mais casos e o terceiro com mais mortes em todo o mundo, segundo os números oficiais. Até esta segunda-feira, Espanha registou 198.674 casos de covid-19 e 20.453 mortes.
No domingo, durante a conferência de imprensa diária com a presença dos chefes das polícias e dos militares, o general José Manuel Santiago disse que a Guardia Civil está a trabalhar “em duas direcções” para combater a propaganda nas redes sociais em forma de notícias, através das quais se partilham mentiras sobre questões de saúde e falsas esperanças sobre possíveis tratamentos e vacinas, por exemplo.
Mas no combate às chamadas “notícias falsas” um pouco por todo o mundo, há também um debate sobre o que é informação falsa que pode provocar um alarme social e o que são críticas legítimas às decisões dos governos.
Sem nenhuma fórmula para se separar uma coisa da outra, e com empresas como o Facebook – que controla também outros gigantes da comunicação em tempo real como o WhatsApp e o Instagram – a serem acusadas de não fazerem o suficiente, o problema tornou-se numa arma de arremesso na política de vários países.
“Por um lado, queremos evitar o stress social que estas notícias falsas produzem”, disse o general José Manuel Santiago na conferência de imprensa. “E, por outro lado, queremos minimizar o clima contrário à gestão da crise por parte do Governo”, concluiu.
E foi esta segunda afirmação que levou os partidos do centro-direita e da extrema-direita a acusarem o Governo espanhol de estar a manipular as forças de segurança a seu favor, para perseguirem quem critica as suas decisões.
“A Guardia Civil não existe ‘para minimizar o clima contrário à gestão da crise por parte do Governo’”, afirmou o líder do Partido Popular espanhol, Pablo Casado, no Twitter.
“Sánchez deve explicar se deu ordens às forças de segurança para coarctarem a liberdade de expressão dos cidadãos nas redes sociais para encobrir os seus erros. Seria gravíssimo”, disse Casado, cujo partido pediu a comparência no Parlamento do ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, para prestar esclarecimentos sobre o assunto.
Mais contundente, o líder do partido Vox, Santiago Abascal, escreveu no Twitter que há um “alarme democrático” no país.
“Um general da Guardia Civil anuncia que está a trabalhar para ‘minimizar o clima contrário à gestão do Governo’. Isto é o início de um golpe de Estado do próprio Governo, que ordena as forças armadas a violarem a Constituição”, disse Abascal.
As críticas às declarações do chefe da Guardia Civil estenderam-se também ao Cidadãos, através do deputado Edmundo Bal: “O chefe do Estado-maior da Guardia Civil diz que está a trabalhar com o objectivo de ‘minimizar o clima contrário à gestão da crise por parte do Governo’. É uma declaração gravíssima e muito preocupante. Pedimos a comparência do general e do ministro Marlaska no Congresso de Deputados.”
Da parte do Governo espanhol, o ministro do Interior disse que não ouviu as declarações do general Santiago, mas afirmou que, a serem verdade, tratou-se de um “lapso”.
“Se ele disse mesmo isso, trata-se de um lapso do general na sua resposta. As notícias falsas têm como finalidade causar um grande alarme social com um risco objectivo para a ordem pública”, disse Fernando Grande-Marlaska, citado pelo jornal El País.
“Não se trata de crítica política, porque isso diz respeito à liberdade de expressão. Como é evidente, a crítica é o que há de mais saudável num Estado de Direito, e ainda mais nesta circunstância”, disse o ministro espanhol.
Com a polémica já instalada, a Guardia Civil veio reagir também nas redes sociais, num curto comunicado em que salienta “o escrupuloso respeito pelo direito à liberdade de expressão”.
“O trabalho de monitorização das forças de segurança do Estado, e nas operações em que participa a Guardia Civil, destina-se exclusivamente a detectar as notícias falsas que provocam um elevado nível de stress e alarme social, especialmente em assuntos de saúde”, diz o comunicado. “Vigia-se apenas as notícias falsas que provocam alarme social, nunca a liberdade de expressão e a crítica.”