Isto é que vai uma crise
Dão-se riscos à população com intervalo de 30 anos sem qualquer aprofundamento – o que tem a ver o risco de um nonagenário num lar, provavelmente com doenças associadas, com alguém com 70 e poucos anos e saudável?
Há aspetos inexplicáveis nesta crise e um deles é a falta de coerência das informações que nos vão chegando. É espantoso verificar que a China, país de vanguarda em ciência e tecnologia, e que até se deu ao luxo de colocar autómatos a controlar doentes de covid-19, tem os seus mercados, com características medievais, a serem reabertos, incluindo o muito citado em Wuhan, como se eles próprios não acreditassem na origem oficial da pandemia. As mutações virais são outro tema escorregadio. O vírus é pouco mutagénico e há várias alternativas para este achado que são pouco discutidas.
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Há aspetos inexplicáveis nesta crise e um deles é a falta de coerência das informações que nos vão chegando. É espantoso verificar que a China, país de vanguarda em ciência e tecnologia, e que até se deu ao luxo de colocar autómatos a controlar doentes de covid-19, tem os seus mercados, com características medievais, a serem reabertos, incluindo o muito citado em Wuhan, como se eles próprios não acreditassem na origem oficial da pandemia. As mutações virais são outro tema escorregadio. O vírus é pouco mutagénico e há várias alternativas para este achado que são pouco discutidas.
Parece-me também inexplicável a total opacidade das informações diárias fornecidas pelas autoridades de saúde aos cidadãos portugueses, exemplarmente em casa, nomeadamente sobre as características dos infetados e também sobre a nossa morbilidade e causas da relativa baixa mortalidade numa população envelhecida. Dão-se riscos à população com intervalo de 30 anos (70-100) sem qualquer aprofundamento – o que tem a ver o risco de um nonagenário num lar, provavelmente com doenças associadas, com alguém com 70 e poucos anos e saudável? Porque estamos a ter esta baixa mortalidade relativa? Quem são os que já morreram – idade, género, localização no país, local de contágio (ignorado, lares, cuidados paliativos, idas ou estadia em instituições de saúde, etc.).
A justificação oficial destas opacidades com normas de ética é de facto... muito pouco ética! A ciência em Portugal está mesmo acantonada e continuará, porque não é estimulada no dia-a-dia. Apenas se transmitem resumidamente factos sem um olhar crítico e atento sobre eles e sobre as suas características comparadas. E todas as reflexões dos noticiários baseiam-se nos aprofundamentos que os jornalistas vão beber lá fora.
E as televisões, em vez de programas que animem a população, obrigatoriamente em casa, ávida de informações e assustada, mostram caixões, enterros em valas e o dramatismo das unidades de cuidados intensivos noutros países com menos sorte e começaram já a referir, o outro moderno papão – uma posterior necessidade de austeridade.
Na CNN, no programa de Amanpour, em vez do fado português, e porque é indispensável serem identificadas e estimuladas medidas para atenuar as infeções pelo vírus até à descoberta duma vacina, entrevistaram Gallo, um virologista de renome internacional e pioneiro na área do HIV. Este referiu, citando estudos anteriores, a elevada possibilidade de a vacinação contra a pólio ser protetora e a realização imediata dum duplo ensaio cego nos EUA. Uma boa notícia, partilhada pela população americana, para ser digerida pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), dado que somos um país com excelente tradição e condições de vacinação.
Por cá preferimos, contudo, avaliar em pormenor as desgraças dos vizinhos e nem nos interrogamos sobre os motivos da nossa sorte relativa – vacinação com BCG ou pólio, outro fator protetor? Os alemães “de Leste” com vacinações diferentes estão a ter menos casos do que os restantes e isto já foi por eles divulgado. Não parece que seja apenas a contenção precoce que muda as curvas de país para país e isto deveria já ter sido discutido publicamente. Mas não é. Limitamo-nos a papaguear os estudos dos outros. E começam a surgir, de fora para dentro, avaliações, porventura algumas até maldosas, do nosso êxito relativo ao lado da vizinha Espanha. Porque é que nós não discutimos e investigamos de forma aberta cá dentro? E porque não transmitimos de forma aberta aos cidadãos quais serão as interpretações mais adequadas mesmo que ainda por confirmar? Porquê?
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico