Einstein: O homem que queria saber o que Deus pensa

Estar confinado a um espaço físico relativamente pequeno durante semanas ensina-nos algumas coisas. Entre outras, que a vida deve ser mais do que isto, ou que se o corpo está confinado, o intelecto deve tentar abraçar tudo. De quarentena durante a peste bubónica, Isaac Newton deu-nos a primeira descrição de como a gravidade funciona, uma teoria da gravitação universal. E hoje mesmo, 18 de Abril, celebramos os 65 anos da morte de alguém cujo intelecto foi mais longe do que era imaginável, passando por duas guerras mundiais e a maior pandemia de que há registo. O seu nome é Albert Einstein.

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Estar confinado a um espaço físico relativamente pequeno durante semanas ensina-nos algumas coisas. Entre outras, que a vida deve ser mais do que isto, ou que se o corpo está confinado, o intelecto deve tentar abraçar tudo. De quarentena durante a peste bubónica, Isaac Newton deu-nos a primeira descrição de como a gravidade funciona, uma teoria da gravitação universal. E hoje mesmo, 18 de Abril, celebramos os 65 anos da morte de alguém cujo intelecto foi mais longe do que era imaginável, passando por duas guerras mundiais e a maior pandemia de que há registo. O seu nome é Albert Einstein.

“Não estou interessado neste ou naquele fenómeno, estou interessado em conhecer os pensamentos de Deus – o resto são detalhes”, Einstein tinha afirmado em vida. E realmente, foram as suas reflexões sobre as coisas mais elementares e universais que lhe permitiram pelo menos conversar, se não com Deus, com o cosmos. O que é o tempo? Qual a natureza do tempo ou da luz? O que é a gravidade? Uma das suas proezas mais importantes foi a concepção da teoria da relatividade geral, a melhor descrição que temos da gravidade. Einstein conseguiu este feito com uma série impressionante de raciocínios. O seu argumento era, contudo, baseado numa observação simples: as coisas caem todas da mesma forma. Logo, deduziu ele, a luz também cai devido à gravidade.

Em 1919, depois da primeira guerra mundial e em pleno surto da gripe espanhola, um punhado de astrónomos ingleses viajou para a ilha do Príncipe e para a cidade de Sobral, no Ceará para ver um eclipse. Nas traseiras desse eclipse, viram estrelas que não estavam onde deviam estar. Esta ligeira diferença na posição das estrelas significava que a gravidade não funcionava como Newton a tinha descrito séculos antes. Os raios de luz das estrelas distantes eram encurvados pelo campo gravitacional do Sol, isto é, caíam para o Sol, exatamente da forma prevista por Einstein que assim se tornou, ele próprio, uma estrela. Ainda nesse ano, o jornal Times de Londres, anunciava uma “revolução na ciência” e uma “nova teoria do Universo”.

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Outro triunfo da relatividade geral foi a explicação da órbita do planeta Mercúrio em torno do Sol. Desde pelo menos 1859 que se percebeu que a descrição dessa órbita apresentava um problema, nomeadamente o ponto da órbita mais próxima do Sol precessava um pouco mais do que a teoria newtoniana previa, como na figura. Chegou-se até a propor a existência de outro planeta interno do sistema solar – Vulcano – para explicar essa anomalia, uma hipótese que se mostrou infrutífera. Com uma conta de não mais de uma página, que um aluno de qualquer curso de física moderno sabe fazer, Einstein mostrou em 1915 que a sua teoria fornecia o resultado exato que as observações pediam.

No meio da atual pandemia da covid-19, tivemos há dois dias o anúncio de que uma estrela está a dançar em torno do buraco negro supermaciço no centro da nossa galáxia.

O que observamos é uma dança lenta como a de Mercúrio, mas onde cada passo de dança leva mais de uma década. Esta dança e a sua evolução batem exatamente com as previsões feitas pela teoria da relatividade geral. Mais uma vez a teoria está correta.

Podemos nos perguntar como é possível que alguém tenha descoberto algo novo sobre um fenómeno como a gravitação, que está connosco desde sempre? A resposta é: ter uma curiosidade insaciável, uma intuição sobrenatural para se perceber quais os problemas importantes, e uma obsessão desmedida para encontrar as explicações e as soluções corretas aos problemas levantados. Tudo isto junto determina um génio. Assim era Einstein.

Conta-se que nas suas últimas horas no hospital, em Princeton onde vivia desde 1933, Einstein apenas pediu os seus óculos, uma caneta e os seus apontamentos com os seus cálculos matemáticos. Sabia que estava a morrer, mas continuava a trabalhar naquele que seria a sua maior obra: compreender tudo. Einstein nunca acabou essa obra, mas quem sabe o que o futuro nos traz?