Ortega reaparece para desvalorizar impacto da covid-19 na Nicarágua
Presidente esteve ausente do espaço público durante mais de um mês. Num discurso televisivo, disse que o novo coronavírus só matou uma pessoa e defendeu-se das críticas à ausência de medidas restritivas no país.
Trinta e quatro dias depois da última aparição pública, o Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, falou ao país na quarta-feira à noite e defendeu-se dos que o criticam de falta de empenho no combate ao novo coronavírus. O antigo guerrilheiro sandinista revelou que ainda só morreu uma pessoa com covid-19 e que apenas foram registados nove casos de infecção. E desvalorizou os apelos internacionais para que decrete medidas de isolamento social, garantindo que a Nicarágua está preparada para travar a pandemia.
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Trinta e quatro dias depois da última aparição pública, o Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, falou ao país na quarta-feira à noite e defendeu-se dos que o criticam de falta de empenho no combate ao novo coronavírus. O antigo guerrilheiro sandinista revelou que ainda só morreu uma pessoa com covid-19 e que apenas foram registados nove casos de infecção. E desvalorizou os apelos internacionais para que decrete medidas de isolamento social, garantindo que a Nicarágua está preparada para travar a pandemia.
“Estamos preparados porque temos um sistema de saúde bom”, afiançou Ortega, defendendo que é isso que explica os “índices mínimos” de impacto do vírus na Nicarágua. Declarou ainda que os hospitais destruídos durante os protestos de 2018 – reprimidos violentamente pelo Governo – foram “totalmente reconstruídos e renovados e estão à disposição para enfrentar a pandemia”.
“Temos capacidade de atender a todos os pacientes com coronavírus”, insistiu o herói da Revolução Sandinista (1979), acusado de repressão, abuso de poder e violações de direitos humanos nesta sua segunda passagem pela presidência – foi eleito em 2006, mas liderou a Nicarágua entre 1985 e 1990.
A ausência prolongada do Presidente, de 74 anos, do espaço público e a não-adopção de um plano para a contenção da pandemia, fizeram crescer os rumores sobre se os seus problemas de saúde, que são conhecidos, estariam a limitar a sua capacidade para liderar a Nicarágua durante a crise sanitária global.
O país da América Central é um dos poucos Estados do mundo que, para além de não ter decretado medidas de confinamento, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde e seguidas pelos seus vizinhos na região, continua a permitir ajuntamentos de pessoas, a ter as escolas e as universidades abertas, e a manter os campeonatos e as provas desportivas em andamento.
A vice-presidente e mulher de Ortega, Rosario Murillo, promoveu mesmo uma série de programas culturais, religiosos e desportivos para os próximos meses, sob o chapéu de uma política chamada “Verão 2020: Nicarágua, toda doce, com amor” e, para o período da Páscoa, outro programa, de nome “Amor em tempos de covid-19”.
A posição oficial das autoridades sanitárias do país é a de que “declarar quarentena é alarmante e extremista”. Na mesma linha, o Governo desvalorizou recentemente o impacto da doença, rotulando-a como “ébola dos ricos”.
Ortega optou por sublinhar que a existência de armas nucleares e de “corridas armamentistas ao espaço” são bastante mais preocupantes que o novo coronavírus e respondeu desta forma aos apelos da OMS, da Organização Pan-americana da Saúde e dos países vizinhos para actuar contra o vírus: “A vida, a saúde e a integridade da população deve estar por cima de qualquer consideração partidária ou política”.
A Nicarágua atravessa uma enorme crise económica e social, com níveis de pobreza que afectam mais de 30% da população, e viu o Fundo Monetário Internacional rejeitar na terça-feira um empréstimo de 470 milhões de dólares (429 milhões de euros) ao Governo. Outrora aclamado como herói, Ortega perdeu o apoio da elite empresarial e da Igreja Católica e está cada vez mais isolado no poder.