Tempo de ação, não de retórica
Portugal importa muito, é uma verdade, mas tem capacidade no pós-confinamento da covid-19 de se reinventar para produzir mais de forma competitiva, sustentável e realista em poucos meses ou anos?
José Reis, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e coordenador do Observatório de Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais, escreveu no PÚBLICO um artigo intitulado “O tempo das alternativas: criar uma economia do cuidado”.
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José Reis, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e coordenador do Observatório de Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais, escreveu no PÚBLICO um artigo intitulado “O tempo das alternativas: criar uma economia do cuidado”.
Nesse artigo, defende que “agora é tempo para acrescentar a formulação de alternativas e fazer aí o debate” e que “temos de criar uma economia que comece na organização do sistema produtivo, prossiga na capacidade permanente de criar valor, mesmo em tempos de paragem, e tenha no centro o princípio do cuidado (porventura na dupla aceção de prudência e de tratar da vida)”.
Defende ainda que “a agricultura é essencial. O seu esquecimento, assim como a redução do setor industrial, a diluição em ‘cadeias de valor internacionais’, a exposição desmedida ao turismo não foram apenas vulnerabilidades insensatas – elas retiraram recursos e capacidades à produção próxima de bens e serviços, alimentaram a vertigem das transações que delapidam o ambiente e, sabemo-lo agora, as comunidades.”
Todos estamos de acordo sobre estes princípios. A questão que se coloca é como fazê-lo com sucesso, com criação de valor acrescentado, com respeito pelos tratados que Portugal assinou e que ao abrigo destes tem recebido desde 1986 “carradas” diárias de dinheiro, que tem permitido à sociedade portuguesa ter usufruído de um nível de vida que o valor acrescentado económico gerado no seu território não o permitiria.
Como contrapartida aos fundos estruturais e outros, abrimos o nosso mercado interno agrícola e industrial, aderimos ao mercado único que nos permitiu integrar um bloco económico regional forte.
Estaríamos melhor sozinhos a cuidar dos nossos sistemas produtivos para o autoabastecimento? Ficaremos melhor no pós-pandemia se nos fecharmos sobre nós, em torno do nacionalismo?
Portugal importa muito, é uma verdade, mas tem capacidade no pós-confinamento da covid-19 de se reinventar para produzir mais de forma competitiva, sustentável e realista em poucos meses ou anos?
Como duplicar ou triplicar a quota da agricultura e da indústria no PIB português em dez anos? Deixo esta questão ao prof. José Reis, tendo em conta o que escreveu no artigo: “Regressemos, pois, à produção e definamos com consciência o sistema produtivo de que precisamos. Reindustrializemos (em sentido contemporâneo, claro) e interroguemo-nos sobre o que não podemos deixar de produzir.”
Como fazê-lo? Qual a estratégia? Concordo: “… a cooperação, o benchmarking e as interdependências saudáveis se podem promover”. Que passos dar para lá de retórica do que escreve?: “Não no estreitamento e nos desequilíbrios que desapossam. Não geremos as dependências que fragilizam.”
Quem faz o desenvolvimento e cria riqueza são as pessoas e as suas organizações. Na minha opinião, Portugal precisa de um choque de incorpóreo, de boa gestão, rigor, disciplina e compromisso, seja na gestão da coisa pública, seja na privada.
Prazos temporais que se cumprem, pagamentos dentro dos prazos combinados, processos burocráticos decididos dentro dos prazos legais, etc., etc. Em suma, Portugal precisa de liderança, de ética, de bons princípios.
Portugal precisa de um choque de formação profissional a todos os níveis da sociedade, que nos faça evoluir, ser melhores pessoas e melhores profissionais, com muito melhores resultados, com menos politicamente correto.
Deixo aqui um desafio ao Prof. José Reis e ao seu grupo de trabalho: elabore o 1.º draft do plano de ação público para envolver de forma clara os serviços, agricultura e indústria.
Todos nós, outros players com massa critica, daremos o nosso contributo para melhorar o documento e que todos juntos consigamos cumprir a conclusão do artigo: “Uma economia sujeita a governo em nome do bem comum e a uma finalidade clara, distinta da que nos trouxe até aqui: a finalidade da vida, da comunidade e do cuidado.”
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico