O escritor brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza, criador do detective Espinosa e autor de muitos policiais ambientados no bairro de Copacabana, morreu esta quinta-feira num hospital do Rio de Janeiro. Estava internado há um ano com uma doença neurológica e a notícia foi dada numa rede social pela sua mulher, a escritora Livia Garcia-Roza, segundo o jornal O Globo. Formado em Filosofia e em Psicologia, foi também professor catedrático da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

O escritor brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza, criador do detective Espinosa e autor de muitos policiais ambientados no bairro de Copacabana, morreu esta quinta-feira num hospital do Rio de Janeiro. Estava internado há um ano com uma doença neurológica e a notícia foi dada numa rede social pela sua mulher, a escritora Livia Garcia-Roza, segundo o jornal O Globo. Formado em Filosofia e em Psicologia, foi também professor catedrático da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Era um dos principais autores do género noir no Brasil. Com O Silêncio da Chuva (1966), que em Portugal foi editado anos mais tarde pela Gótica, recebeu o Prémio Jabuti​. Foi nesse romance que nasceu o inspector Espinosa, um detective com a alma de um filósofo. O livro foi adaptado ao cinema por Daniel Filho, com o actor Lázaro Ramos no papel principal, mas ainda não se estreou no Brasil.​ Em Portugal, estão ainda publicados na mesma editora Achados e Perdidos, convertido em filme por José Jofflily,​ e Uma janela em Copacabana. Uma série intitulada Romance Policial – Espinosa foi realizada por José Henrique Fonseca (filho do escritor brasileiro Rubem Fonseca, que morreu na quarta-feira) e passou no Brasil no canal GNT. Outro livro, Berenice procura (onde não entra Espinosa), foi levado ao grande ecrã por Allan Fiterman. 

Numa entrevista à revista brasileira Piauí, em 2017, explicava que não gostava de dar um final fechado às suas histórias (uma das suas marcas que por vezes perturbava os leitores). E quando o jornalista Mateus Baldi lhe perguntou porquê, disse que se isso acontecesse estaria a satisfazer o leitor. “Se eu mantenho os finais fechados, dou ao leitor aquilo que ele quer ler, que é o escritor fazendo o trabalho completo. Eu não quero satisfazer o leitor. É uma ilusão a gente achar que vai satisfazer alguém nessa vida. Você pode dar forma à fantasia dos sujeitos, mas realizar? Nunca. O leitor tem que buscar o final dele, interpretar aquele final. Se eu der o caminho, estarei contribuindo activamente para o leitor morrer, porque aí ele se priva de alcançar a verdade e sua própria inescrutabilidade”, defendeu.

“O Luiz Alfredo era um homem bonito, amável e gentil. Os seus livros ressentem-se dessa espécie de cavalheirismo, que é muito rara em escritores e, ainda mais, em autores de policial”, sublinha ao PÚBLICO Francisco José Viegas, criador do inspector Jaime Ramos. O escritor português conheceu Luiz Alfredo Garcia-Roza em 2001, “naquele escritório fantástico que ele tinha, com uma das paredes toda em vidro, voltada para a baía da Guanabara — e uma parede totalmente coberta pelo mapa de Copacabana”. Lembra agora que todos os seus livros se passavam nesse espaço de Copacabana, entre a delegacia central da zona Sul e o Bairro do Peixoto — ou seja, onde trabalhava e onde vivia o detective Espinosa, respectivamente. “Enquanto escrevia, o Luiz Alfredo voltava-se para trás e acompanhava os movimentos de Espinosa e dos personagens pelo mapa. Um mapa gigantesco, formidável.” Viegas viria a entrevistá-lo duas vezes em 2004, para a revista LER e para a Antena 1.

“O que me fascinou sempre na personagem do Espinosa, além da sua melancolia e do facto de se chamar Espinosa, era a sua vida como leitor e o que ele comia — lia bons livros mas não tinha estantes, deixava-os empilhados, encostados às paredes, e comprava-os só em sebos, alfarrabistas; e comia mal, muito mal, lasanhas congeladas, ou comida sírio-libanesa, esfihas, quibes, além das torradas do pequeno-almoço. É curioso porque, não sendo comida de primeira ordem, o Luiz Alfredo punha muito cuidado naquelas descrições”, conta sobre o autor de Fantasma, que no Brasil tem a sua obra publicada na Companhia das Letras e que influenciou a escrita de outros autores da jovem geração do policial brasileiro, como Raphael Montes. 

“O Espinosa era um solitário, divorciado, o filho vivia nos EUA... Admito que era uma figura muito atraente. Não tinha nada a ver com o modelo tradicional do detective americano ou, sequer, brasileiro. Era muito ponderado, como o próprio Garcia-Roza, mas isso talvez se deva ao facto de se chamar Espinosa, como o filósofo, e de o Garcia-Roza ser psicanalista. Os seus livros ressentem-se muito dessa melancolia: é um vastíssimo universo de gente triste no meio do Carnaval carioca, digamos. Mulheres, homens, novos, velhos, tudo comunga da melancolia daqueles títulos: Uma Janela em Copacabana, O Silêncio da Chuva, Perseguido, Vento Sudoeste”, acrescenta.

Para Francisco José Viegas, Luiz Alfredo Garcia-Roza "é um caso único na literatura brasileira”. E, sendo único, é provavelmente o mais completo dos autores policiais, levando com ele outros dois, como o Tony Bellotto ou o Marçal Aquino. Acima de todos eles só estava o Rubem Fonseca, o de A Grande Arte, incomparável.”