Milhões de crianças em risco de contactos por predadores sexuais online, avisa Unicef

A Unicef prevê que mais de 1,5 mil milhões de crianças e jovens estejam a ser afectadas pelo encerramento de escolas em todo o mundo. Muitas não sabem ainda como navegar o mundo online

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A Unicef está preocupada com as crianças que não estão habituadas ao mundo online Reuters/Daniel Becerril

O aumento substancial do tempo que as crianças têm de passar na internet põe milhões em risco de contactos por predadores sexuais, roubo de dados e invasão de privacidade, alertou, esta quarta-feira, a Unicef. A organização prevê que mais de 1,5 mil milhões de crianças e jovens estejam a ser afectadas pelo encerramento de escolas em todo o mundo.

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O aumento substancial do tempo que as crianças têm de passar na internet põe milhões em risco de contactos por predadores sexuais, roubo de dados e invasão de privacidade, alertou, esta quarta-feira, a Unicef. A organização prevê que mais de 1,5 mil milhões de crianças e jovens estejam a ser afectadas pelo encerramento de escolas em todo o mundo.

“Sob a sombra da covid-19, o mundo de milhões de crianças está temporariamente limitado às suas casas e aos seus ecrãs. Precisamos de os ajudar a navegar nessa nova realidade”, disse, em comunicado, a directora executiva da Unicef, Henrietta Fore, notando que muitas jovens não têm as ferramentas e conhecimento necessário para usar algumas ferramentas digitais.

A organização destaca crianças com menos de 13 anos (idade limite para aceder a plataformas como a rede social Facebook, ou o YouTube) que podem estar a usar ferramentas que não se adequam à sua faixa etária por necessidade. Além do perigo com predadores sexuais a aproveitarem-se da pandemia da covid-19, a Unicef chama a atenção para a possibilidade da desinformação online aumentar o pânico e ansiedade dos mais novos, e o aumento da exposição a conteúdo violento e racista.

Os mais novos não são as únicas vítimas. Com a redução do contacto cara a cara, a Unicef prevê mudanças nos hábitos de alguns jovens que podem estar mais disponíveis a riscos como enviar fotografias comprometedoras para compensar a falta de contacto com parceiros.

“Apelamos aos governos e à indústria para unirem forças para manter crianças e jovens seguros online através de funcionalidades mais seguras e novas ferramentas para ajudar pais e educadores a ensinar os seus filhos a usarem a Internet com segurança”, frisou a directora-executiva da Unicef Henrietta Fore.

Para ajudar, a organização elaborou um documento com orientações para governos, plataformas virtuais, educadores e pais mitigarem os riscos e garantirem que as experiências online das crianças são seguras.

Os governos, por exemplo, devem fornecer informação sobre as formas correctas de usar a Internet e garantir que escolas, pais e serviços de segurança social sabem quais são as linhas de apoio que devem contactar. Já as plataformas de Internet devem garantir que há tutoriais de segurança e privacidade disponíveis para educadores, crianças e pais. Também deve ser fácil denunciar conteúdo impróprio e devem existir políticas de moderação para proteger os mais novos.  

Além de usar plataformas seguras, as escolas devem apoiar e recompensar bons hábitos online e garantir o acesso a serviços de apoio psicológico. A Unicef pede aos pais que actualizem os computadores, usem um antivírus, criem regras sobre o tempo que as crianças devem passar online, e estejam conscientes de linhas de apoio para pedir ajuda.

A nível Internacional, deve-se denunciar problemas através da Internet Watch Foundation. Em Portugal, pode-se ligar para a linha SOS Criança e a Linha Internet Segura.

Apesar das preocupações de alguns adultos, os jovens portugueses sentem que sabem lidar com os perigos da Internet. O relatório mais recente da rede de investigação EU Kids Online, publicado em Fevereiro, com base em respostas de 25.101 crianças europeias mostra que quase dois terços (72%) das crianças portuguesas (entre os 9 anos e os 17 anos) afirmam saber o que fazer numa situação desagradável (que inclui bullying, visualização de conteúdo sexual, mensagens impróprias) e 53% referem sentir-se seguros na Internet. 

A Unicef frisa que a solução não é impedir o acesso à Internet, ou monitorizar tudo o que as crianças e jovens fazem no mundo digital. “É importante que as medidas para mitigar os riscos estejam adequadas ao direito das crianças à liberdade de expressão, direito de informação e privacidade”, lê-se no guia da Unicef. “Manter as crianças informadas, atentas e capacitá-las com as habilidades necessárias para usar a Internet com segurança é uma linha de defesa crítica.”