João Lagos lidera movimento de candidatura à federação de ténis

Empresário quer renovar a modalidade e recorda o exemplo do antigo presidente Manuel Cordeiro dos Santos. Fazem ainda parte do grupo o Prémio Pessoa António Câmara, o ex-seleccionador Pedro Cordeiro e o árbitro internacional Jorge Dias.

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João Lagos Daniel Rocha

O empresário e ex-tenista João Lagos é o rosto de um movimento que pretende destronar Vasco Costa da presidência da Federação Portuguesa de Ténis (FPT). As eleições ainda não têm data marcada, mas estão previstas para o final deste ano. Até lá, o homem que durante um quarto de século foi responsável pelo Estoril Open quer rodear-se de massa crítica, elaborar um programa para renovar a modalidade e convencer as associações regionais e profissionais.

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O empresário e ex-tenista João Lagos é o rosto de um movimento que pretende destronar Vasco Costa da presidência da Federação Portuguesa de Ténis (FPT). As eleições ainda não têm data marcada, mas estão previstas para o final deste ano. Até lá, o homem que durante um quarto de século foi responsável pelo Estoril Open quer rodear-se de massa crítica, elaborar um programa para renovar a modalidade e convencer as associações regionais e profissionais.

Há 46 anos, após a Revolução do 25 de Abril de 1974, o ténis português vivia momentos conturbados. João Lagos, com 30 anos, estava a encerrar a sua carreira nos courts e iniciava uma de treinador. Inopinadamente, foi abordado pelo então presidente da FPT, José Herédia, que lhe pediu apoio para superar a crise directiva em que o organismo se encontrava. Muitos membros do seu elenco haviam saído do país face aos ventos revolucionários e os novos governantes não viam com simpatia este desporto que diziam ser de “fascistas”.

“Depois de pensar dois ou três dias, voltei a falar com ele e disse-lhe que o ia ajudar mas nestes termos: ‘Temos realmente de dar a volta a isto e o melhor que pode fazer pelo ténis, neste momento, é afastar-se’”, lembra João Lagos ao PÚBLICO. Ao contrário do que o antigo tenista esperava, José Herédia não levou a mal. Pertencia à aristocracia e compreendeu imediatamente que era parte do problema e não da solução.

Nos meses seguintes, João Lagos reuniu-se com dois jovens amigos, praticantes entusiastas da modalidade, para traçarem um plano. E foi ao longo de muitas noitadas, com António Câmara – futuro cientista na área da computação que viria a ser galardoado com o Prémio Pessoa em 2006 – e Filipe Soares Franco – empresário que viria a presidir o Sporting, entre 2005 e 2009 –, que começou a “organizar-se o ténis português”, no apartamento de Lagos nas Torres do Restelo, em Lisboa.

Democratização do ténis

Mas seria no Porto que encontrariam o líder perfeito para encaixar no projecto. O eleito seria Manuel Cordeiro dos Santos (falecido em Setembro de 2015), dirigente desportivo e antigo praticante, que presidia o Clube de Ténis do Porto (e o Boavista, entre 1972 e 1974). Apaixonado pela modalidade, realizara um trabalho notável na Invicta, tornando o ténis mais acessível aos jovens e, acima de tudo, menos elitista.

O convite foi feito por telefone. “Transmiti-lhe que não queríamos um presidente qualquer no ténis e que ele seria a pessoal ideal, pela sua dedicação e amor à modalidade e espírito empreendedor”, conta Lagos. “Disse-me que eu estava doido da cabeça, mas como vinha muitas vezes a Lisboa acabámos por o convencer.” Cordeiro dos Santos liderou a FPT entre 1976 e 1979 (teria mais uma curta passagem pelo cargo, entre 1991 e 1992) e a modalidade começou a evoluir em Portugal.

Como sintetizou o jornalista e historiador do ténis português Norberto Santos ao boletim da FPT de Julho de 2008, “Cordeiro dos Santos democratizou o ténis. Foi a pessoa certa na altura certa. Uma pessoa cheia de coragem, com muito amor pela modalidade”.

Este pedaço relevante da História do ténis doméstico recordado ao PÚBLICO por João Lagos, hoje com 75 anos, tem uma moral. Tal como acontecia em meados dos anos de 1970, o antigo tenista, multi-campeão nacional de Absolutos e com várias participações na Taça Davis no palmarés, considera que a modalidade vive agora um “momento crucial”, ainda que por motivos distintos daqueles que atravessava no pós-25 de Abril.

“Ao contrário de então, agora há meios financeiros [decorrentes das verbas milionárias das apostas desportivas do jogo Placard, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e do jogo online] que podem fazer crescer o ténis. Estes recursos têm de ser devidamente aproveitados”, defende, antes de criticar a gestão de Vasco Costa à frente da FPT, iniciada em 2012.

“Com oito anos de mandato já se pode fazer um balanço e ele não é bom para Vasco Costa”, garante, admitindo que algum trabalho do dirigente foi positivo, em especial na fase de aperto financeiro, antes do dinheiro das apostas entrar nos cofres do organismo.

“Estragar dinheiro”

“Nunca houve tanto dinheiro e agora que há estraga-se?”, questiona, lamentando que o actual presidente pense mais em garantir a permanência no lugar, “pagando viagens e estadias em hotéis aos responsáveis pelas associações regionais e associações profissionais, extensíveis às respectivas famílias em vésperas de assembleias gerais”. Para Lagos, isto não é mais do que “comprar votos”.

“Com estes meios e com resultados desportivos internacionais nunca antes alcançados, por tenistas como João Sousa, o ténis português deveria estar a crescer, mas não é isso que acontece”, prossegue. E dá exemplos: “Os federados diminuíram, não há grandes preocupações com a formação e o fomento, mas sim com os torneios de veteranos. Eu sou veterano e gosto de participar, mas não acho bem que se gaste tanto dinheiro com isto”.

Deste movimento, que procura impulsionar uma lista para concorrer às eleições e um programa para renovar o ténis nacional, faz também parte o mesmo António Câmara que esteve com Lagos em meados dos anos de 1970.

Integram ainda o grupo Pedro Cordeiro, antigo campeão nacional, ex-selecionador e capitão da Taça Davis  o maior torneio mundial masculino por países  e da Fed Cup – equivalente feminino da competição; Jorge Dias, árbitro internacional; e os ex-jogadores José Manuel Cordeiro, José Maria Santiago, Nuno Almeida, Hélder Lopes e Luís Figueiredo.