Aplicação em telemóvel revela que isolamento em Portugal caiu de 79% para 56% em dois dias

Estudo acompanha 3670 pessoas através de uma aplicação de telemóvel que mostra, dia a dia, a percentagem de portugueses que “fica em casa”. Os portugueses respeitaram as regras apertadas da Páscoa, mas agora já estão a começar a sair à rua.

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No domingo de Páscoa, 79% das pessoas não saíram de casa, segundo um estudo da empresa PSE PAULO PIMENTA

Entre os diferentes dados recolhidos pela empresa PSE (especializada em ciência de dados) há um gráfico que se destaca. É aquele que mostra a percentagem de portugueses que ficou em casa desde 1 de Março até esta terça-feira (incluída). O domingo de Páscoa registou a mais alta percentagem de isolamento (79%) em Portugal, mas nos últimos dois dias as pessoas começaram a sair de casa e o nível de isolamento caiu para 56%, um dos mais baixos valores desde a primeira declaração de estado de emergência. No “índice de risco de mobilidade” que abrange 45 municípios, Ílhavo aparece com o pior resultado e Ovar tem o melhor desempenho, com a mudança mais drástica nos hábitos. Estes são alguns dos resultados de um projecto sobre mobilidade que a pandemia da covid-19 transformou num estudo sobre a imobilidade.

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Entre os diferentes dados recolhidos pela empresa PSE (especializada em ciência de dados) há um gráfico que se destaca. É aquele que mostra a percentagem de portugueses que ficou em casa desde 1 de Março até esta terça-feira (incluída). O domingo de Páscoa registou a mais alta percentagem de isolamento (79%) em Portugal, mas nos últimos dois dias as pessoas começaram a sair de casa e o nível de isolamento caiu para 56%, um dos mais baixos valores desde a primeira declaração de estado de emergência. No “índice de risco de mobilidade” que abrange 45 municípios, Ílhavo aparece com o pior resultado e Ovar tem o melhor desempenho, com a mudança mais drástica nos hábitos. Estes são alguns dos resultados de um projecto sobre mobilidade que a pandemia da covid-19 transformou num estudo sobre a imobilidade.

“Os nossos dados provam que as pessoas estão a cumprir o isolamento e permitem concluir também que o abrandamento da progressão da epidemia é o resultado do trabalho de todos os portugueses, temos aqui a prova disso”, sublinha Nuno Santos, que coordena o projecto da PSE. O responsável pela análise dos dados explica que este estudo de mobilidade começou no início de 2019 ainda antes de qualquer suspeita e servia para apoiar empresas e entidades públicas de diversas áreas com dados sobre o movimento das pessoas. No plano não estava previsto que o projecto afinal ia transformar-se num “estudo de imobilidade”, como refere Nuno Santos ao PÚBLICO.

A recolha de dados é feita a partir de uma aplicação em smartphones (com recolha de dados contínua através de monitorização de localização e meios de deslocação via aplicação móvel) e abrange 3670 pessoas com mais de 15 anos das regiões do Grande Porto, Grande Lisboa, litoral norte, litoral centro e distrito de Faro. Os responsáveis da empresa garantem que a amostra é representativa da sociedade portuguesa, ainda que sublinhem que uma das limitações do estudo é o facto de não incluir as regiões do interior e do Alentejo. Nuno Santos salienta ainda que estão salvaguardadas todas as regras de protecção de dados e respeito pela privacidade. A participação neste projecto acontece apenas com uma “autorização expressa e explícita” dos envolvidos que descarregam esta aplicação e com a “garantia de um total anonimato” dos dados. A margem de erro do estudo é de 1,62% para um intervalo de confiança de 95%.

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Quem cumpre mais e menos?

Apesar de não existir um detalhe sobre os grupos etários mais (e menos) cumpridores, Nuno Santos adianta que “o cumprimento é transversal”. Sobre os concelhos mais e menos cumpridores o estudo mostra um gráfico do índice de risco de mobilidade em 45 municípios (que representam 57% da população portuguesa e 65% dos casos reportados de infecção por covid-19). Ílhavo regista o índice máximo de risco e Ovar tem o melhor desempenho, devido às regras impostas pela cerca sanitária que isola este município desde 17 de Março. No fundo, resume Nuno Santos, neste índice de risco “estamos ver quem alterou o nível de permanência em casa” face à média registada no período “normal”, ou seja, antes da covid-19.  

O analista faz, no entanto, questão de alertar que estes são cálculos complexos, que mostram um antes e depois (da declaração de estado de emergência) e que é preciso ter cuidado com conclusões precipitadas. “Nos diferentes municípios portugueses existem diferentes realidades de mobilidade em períodos normais. Tudo depende da realidade de cada concelho, do seu tecido produtivo, da densidade populacional, da estrutura etária dos residentes, das ligações de transporte e até de factores importados, como seja imigrantes ou viajantes.” Assim, exemplifica, se uma zona tiver mais pessoas que em situações normais já estão em confinamento em casa, provavelmente não alterou agora os seus hábitos de forma muito drástica. E confirma: “Ovar foi a zona que mais alterou o seu comportamento face à normalidade no sentido do confinamento em casa.”

É nessa perspectiva que Nuno Santos acredita que este estudo pode ser importante para identificar “os concelhos que estão a ser mais e menos cumpridores da recomendação de isolamento voluntário, e perceber se as alterações dos comportamentos de mobilidade antes e depois das orientações de isolamento tiveram impacto na progressão da covid-19”. No projecto fez-se “uma análise cruzando a taxa de contaminação covid-19, em cada concelho, com a mobilidade real das populações”, nota, acrescentando que os 45 concelhos acompanhados representam 57% da população portuguesa e 65% dos casos reportados de infecção. Nuno Santos revela que os dados deste estudo de imobilidade foram disponibilizados à Direcção-Geral da Saúde e que a empresa se encontra receptiva a colaborar com outras entidades.

Independentemente de possíveis rankings com interpretações mais ou menos flexíveis, o gráfico da “imobilidade” dos portugueses desde 1 de Março parece bastante claro. É possível ver a marca da sexta-feira, dia 13, antes da declaração do estado de emergência, quando os portugueses foram para casa. Assim, como se pode constatar que no dia 8 (a quinta-feira que antecedeu o fim-de-semana da Páscoa) havia mais pessoas na rua. “Talvez por necessidade de se abastecer para ficar em casa a seguir”, interpreta Nuno Santos.

No mesmo gráfico vemos também os naturais “picos” de isolamento ao fim-de-semana que acontecem independentemente de uma pandemia, mas que neste caso atingirem níveis bastante mais elevados. Assim, comparando o período antes da covid-19 com o período depois da covid-19, Nuno Santos refere que o nível de isolamento ronda em média os 20% em circunstâncias normais, podendo duplicar ao fim-de-semana – ou seja, a mobilidade nos dias úteis num ano típico está na ordem dos 80%. Agora, quase que podíamos inverter estes resultados.

No gráfico não aparece, mas a empresa também tem dados sobre a Páscoa de 2019 que podem ser confrontados com a Páscoa atípica de 2020. Assim, se no passado domingo, 79% das pessoas ficaram em casa, a 21 de Abril de 2019 apenas encontrávamos 36% dos portugueses em casa. Tão importante como olhar para trás, será esperar para ver se os portugueses vão continuar nos próximos tempos a cumprir o isolamento ainda em vigor.