Idade não pode ser o único critério para definir prioridades no internamento em cuidados intensivos
Estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto com o CINTESIS mostra que maioria dos profissionais de saúde concorda que devem existir critérios éticos em caso de situação de escassez de recursos nas unidades de cuidados intensivos.
“A esmagadora maioria” dos profissionais e investigadores do sector da saúde, que participaram num inquérito feito pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) com o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), concorda que devem existir critérios éticos para a admissão de doentes de covid-19 em unidades de cuidados intensivos, caso venha a ocorrer uma situação de escassez de recursos materiais ou humanos.
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“A esmagadora maioria” dos profissionais e investigadores do sector da saúde, que participaram num inquérito feito pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) com o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), concorda que devem existir critérios éticos para a admissão de doentes de covid-19 em unidades de cuidados intensivos, caso venha a ocorrer uma situação de escassez de recursos materiais ou humanos.
Este é um dos resultados preliminares do inquérito online, realizado entre os dias 6 e 11 de Abril, feito a mais de 350 profissionais e investigadores, onde se incluem médicos, enfermeiros e psicólogos. De acordo com a informação prestada em comunicado, 51% dos inquiridos são médicos, sendo que 73% têm menos de 50 anos de idade.
O inquérito, coordenado pelo especialista em bioética Rui Nunes e pelo director da FMUP Altamiro Costa-Pereira, foi realizado na FMUP e no CINTESIS, mas nos próximos dias será alargado a todas as escolas médicas nacionais. A faculdade explica, em comunicado, que o objectivo foi procurar respostas a perguntas que já se colocaram em países como Itália e Espanha, onde o número de doentes covid-19 a precisar de cuidados intensivos foi superior à capacidade de resposta.
Assim, o inquérito permitiu concluir que 91% dos inquiridos consideram que, para além dos critérios clínicos, “devem existir critérios éticos universais, explícitos, transparentes e consensualizados para admissão em cuidados intensivos”. E 90% concordou que a decisão deve ser partilhada entre a equipa de saúde, o doente e a família, no sentido de promover “uma comunicação franca e transparente”.
Quanto aos critérios que deverão presidir à decisão de internar um determinado doente de covid-19 em detrimento de outro, em caso de escassez de recursos humanos ou materiais nas unidades de cuidados intensivos, “93% dos profissionais concordam que a idade não pode ser considerada como o único elemento de decisão”. Os resultados mostraram ainda que “4% acha que a idade serve para decidir quais os doentes prioritários” e que 3% não têm opinião.
Cerca de 80% dos profissionais entendem que “deve valorizar-se a maximização da sobrevivência até à alta hospitalar”, ou seja “se for necessário escolher, deve ser dada prioridade a doentes com mais hipóteses de sobreviverem”. Percentagem menor é a que diz respeito ao número de anos salvados como critério de priorização. “Cerca de 66% dos profissionais entendem que se deve valorizar a maximização do número de anos de vida salvados, enquanto 18% dizem que não e 16% admitem não ter opinião.”
O critério que mais divisão gerou foi o que se refere à aplicação do princípio do custo de oportunidade, “evitando como regra absoluta o critério primeiro a chegar primeiro a admitir”. Ao todo, 56% dos inquiridos respondem que se deve ter em conta o custo de oportunidade, “o que implica que nem sempre a admissão deve ser feita por ordem de chegada”, enquanto 27% discordaram e 17% disseram não ter opinião.