O regresso ao “novo quotidiano”: algumas sugestões práticas e (relativamente) fáceis

Para melhorar o bem-estar e o dia-a-dia das famílias, existem algumas estratégias muito simples, que cada família pode adoptar, à medida das suas próprias realidades e condições específicas, e que não só permitem uma melhor adaptação às condições em que vivemos, como promovem uma maior coesão e equilíbrios familiares.

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Gerir o tempo e criar horários é a primeira estratégia a adoptar Mpho Mojapelo/Unsplash

Após a interrupção das férias da Páscoa, as famílias retomam o seu “novo quotidiano”, gerado pela situação de confinamento social.

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Após a interrupção das férias da Páscoa, as famílias retomam o seu “novo quotidiano”, gerado pela situação de confinamento social.

Se o facto de já vivermos, há umas semanas, nesta situação permite que se vão criando rotinas e respostas adaptativas, a verdade é que esse prolongamento da situação é, também, gerador de cansaço, de impaciência, de tensões e da percepção de incapacidade.

Para melhorar o bem-estar e o dia-a-dia das famílias, existem algumas estratégias muito simples, que cada família pode adoptar, à medida das suas próprias realidades e condições específicas, e que não só permitem uma melhor adaptação às condições em que vivemos, como promovem uma maior coesão e equilíbrios familiares.

  1. Gerir o tempo, criando horários: para acordar, para as refeições, para o exercício físico, para as tarefas da escola e para o trabalho e cumprir esses horários de forma rigorosa, sem cair na tentação da desculpa do “é só por uma vez” ou “é só um bocadinho”.
  2. Delimitar espaços: como aquilo que vivemos são situações em que, muitas vezes, há dois adultos em casa, em regime de teletrabalho, e crianças ou adolescentes em ensino à distância, é necessária a delimitação de espaços individuais. Assim, por mais pequena que seja a casa é fundamental que se defina quem trabalha onde – isto pode implicar a adaptação improvisada de um quarto ou de uma marquise em escritório – de modo a que todos consigam executar as suas tarefas com a maior tranquilidade e concentração possíveis, ou seja, com o mínimo de interferências.
  3. Não ceder à tentação de controlo permanente do que as crianças estão a fazer. Afinal, se no dia-a-dia comum não estamos na escola, a acompanhar ou a controlar as tarefas dos nossos filhos, também não o deveremos fazer agora. As “ajudas” devem ocorrer num momento pré-definido, por exemplo, ao final da tarde, exactamente, como aconteceria se estivéssemos a trabalhar fora de casa.
  4. Mostrar a ética de responsabilidade e de trabalho que todos devemos manter, independentemente da adversidade das circunstâncias – isto significa que nós cumprimos com o nosso trabalho, tal como os nossos filhos devem cumprir com os seus deveres, sem desleixo nem batotas (o que significa que não devemos fazer os trabalhos escolares por eles).
  5. Evitar a “confusão de tarefas”: o facto de estarmos em casa, e sermos mais a estar em casa, leva a maiores necessidades em matéria de tarefas domésticas a realizar. Todavia, também estas devem ser realizadas num horário definido, que não seja a meio do tempo de trabalho, porque isto diminui a concentração, aumenta o erro e potencia a tal percepção de incapacidade e insuficiência.
  6. A realização destas tarefas domésticas acrescidas deve envolver a colaboração de todos, miúdos e graúdos, na medida das suas capacidades. Além de isto ser responsabilizador é, também, uma forma de acentuar a dimensão de partilha, enquanto pressuposto essencial da vida em família.
  7. Envolver as crianças e os adolescentes na organização de álbuns de fotografias antigas será uma forma de lhes contar a história familiar, despertando a sua curiosidade e reforçando o seu sentimento identitário e de pertença.
  8. Para os mais pequenos, e nas actividades de arrumação, tentar encontrar materiais que possam ser reciclados e transformados. Além de ser uma forma de ocupar o tempo e de desenvolver a criatividade, permite uma consciencialização acerca da importância de evitar o desperdício e de reutilizar os objectos.
  9. Limitar a utilização da Internet, não esquecendo que é fundamental que sejam os próprios pais a dar o exemplo. Não se trata de proibir a utilização das tecnologias – nunca, como hoje foram tão necessárias – mas de definir tempos para a sua utilização, substituindo-a, por exemplo, pela recuperação dos velhos jogos de tabuleiro, pelo simples “jogo dos países”, ou por sessões de cinema com direito a pipocas.
  10. Propor, a toda a família, a escrita: de um conto, de um diário, de pensamentos, de poemas – é algo que, mais tarde, constituirá um interessante documento histórico-biográfico acerca da vivência desta fase.
  11. Evitar noticiários à hora das refeições e aproveitar esse tempo para conversar em família, esclarecendo dúvidas, recordando momentos divertidos e fazendo planos de futuro – isto cria uma maior sensação de segurança, reforça o sentimento de esperança e a crença na capacidade de superação.
  12. Recuperar velhas habilidades e ensiná-las aos mais novos: coser, bordar, trabalhar madeira, construir um tear. Será, para eles, uma revelação e, para a maior parte de nós, a surpresa de reencontro com habilidades que julgávamos esquecidas.
  13. Evitar discussões conjugais, que são, como se sabe, mais comuns em situações de tensão, de incerteza e de uma convivência “anormalmente forçada”, mas que prejudicam todo o ambiente familiar e aumentam as inseguranças.
  14. Fomentar as relações intergeracionais: telefonar aos avós, fazer videochamadas (se possível) são formas de ajudar os mais velhos a combater a percepção de isolamento e a tristeza, sentindo que, mesmo à distância, continuam a ser lembrados e amados. E, nestas conversas, apelar às suas memórias e à sua experiência de vida, pedindo-lhes conselhos úteis para o quotidiano ou, até, receitas de culinária.