Covid-19: nos EUA, muitos procuram o conforto dos doces portugueses durante a pandemia

Do folar ao pão-de-ló de Ovar, passando pela massa sovada ou as queijadas. Mil e um doces portugueses ajudam a adoçar estes dias amargos na Califórnia, graças a Jeremiah Duarte Bills. E, também pelos EUA, diz, “as pessoas estão loucas por pão neste momento”.

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Uma das imagens de promoção da arte de Jeremiah Duarte Bills Jeremiah Duarte Bills

Pão, massa sovada ou queijadas são dos alimentos mais procurados pela comunidade luso-americana residente em Sacramento, Califórnia, por estes dias de pandemia da covid-19, segundo um pasteleiro luso-descendente, que não tem mãos a medir.

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Pão, massa sovada ou queijadas são dos alimentos mais procurados pela comunidade luso-americana residente em Sacramento, Califórnia, por estes dias de pandemia da covid-19, segundo um pasteleiro luso-descendente, que não tem mãos a medir.

“Pensei que por causa da pandemia as pessoas não quereriam guloseimas nem comidas especiais e poderia não haver espaço para o que faço”, disse à Lusa o pasteleiro Jeremiah Duarte Bills, que passou a fornecer doçaria portuguesa a partir de casa, como forma de continuar a servir a comunidade luso-americana durante a pandemia.

No entanto, a resposta da comunidade “foi incrível” e “muita gente ficou entusiasmada por poder comprar pastelaria portuguesa”, já que em Sacramento não há nenhum outro sítio que venda este tipo de produtos.

De acordo com Jeremiah Duarte Bills, que recebe as encomendas no seu site e faz as entregas na garagem de casa, o período da pandemia até parece ter trazido mais clientes.

“As pessoas estão loucas por pão neste momento”, afirmou, referindo especificamente o pão doce, ou massa sovada. “Este pão é muito reconfortante para a nossa comunidade de ascendência açoriana”.

Outros produtos de pastelaria que estão a ter muita procura neste momento são as queijadas de coco, bolinhos de caramelo inspirados nos bolos do Faial e Espécies de São Jorge.

Bisneto de portugueses que emigraram dos Açores para os Estados Unidos, Jeremiah Duarte Bills faz workshops de pastelaria portuguesa e vende os seus produtos em eventos temporários que organiza na região de Sacramento, normalmente em parceria com negócios ou restaurantes locais.

No entanto, a pandemia obrigou ao cancelamento de todos os eventos que estavam planeados, incluindo a presença na Festa do Espírito Santo que estava marcada para 31 de Maio no hall português de Sacramento.

“Tive de cancelar pop-ups e converti-os nas entregas em minha casa”, explicou, algo que lhe permitirá manter a ligação à comunidade e uma oportunidade pela qual se diz “agradecido”.

O que ainda está por definir é se a parceria com a Sagres Vacations para uma “tour de pastelaria” em Portugal vai mesmo realizar-se em Outubro, como estava previsto. “Esperamos que ainda possa acontecer”, afirmou, notando que serão feitas as modificações necessárias “conforme o que acontecer no futuro”.

Esta viagem, se ocorrer, levará entre 15 e 30 participantes a passarem 10 dias em Portugal, durante os quais percorrerão vários pontos do país com interesse gastronómico.

Jeremiah Duarte Bills vai dar workshops de pastelaria inspirados em cada região, mostrando como se faz o pão-de-ló de Ovar, os jesuítas e limonetes de Santo Tirso, os ovos moles de Aveiro e vários outros doces tradicionais, com passagens em Lisboa, Sintra, Cascais, Óbidos, Porto, Guimarães e Braga.

O luso-descendente, que é também professor de música, está a escrever um livro sobre pastelaria portuguesa, para o qual tem feito viagens de pesquisa e que espera publicar no próximo ano. “É um grande projecto em que estou a trabalhar”, descreveu, explicando que a ideia é misturar receitas e histórias de viagens, abrangendo o continente e as ilhas.

“Não há nenhum livro completo sobre as nossas sobremesas em inglês, por isso é algo que estou a fazer”, comentou.

Natural do condado de Placer, em Sacramento, Jeremiah Duarte Bills sentiu vontade de se conectar à herança étnica dos bisavôs quando estudava música na universidade, em São Francisco. “Decidi que aprender a cozinhar seria uma forma de o fazer”, contou.

“Passava noites ao telefone com a minha avó e ela ensinava-me a cozinhar certos pratos”. Depois, foi estudar durante um Verão em São Miguel para aprender melhor a falar português.

“Não sabia que havia mais sobremesas além do arroz doce, massa sovada e filhós, não sabia que havia centenas de doces e apaixonei-me”, afirmou.

Em 2016, participou no concurso televisivo The Great American Baking Show e optou por fazer sobretudo receitas portuguesas, expondo-as ao palco nacional dos Estados Unidos.

“Isso ajudou-me a dar os próximos passos para estes projectos e a tornar isto num negócio”.

Bills, que faz parte do conselho da Sociedade Histórica e Cultural Portuguesa de Sacramento, também é co-apresentador do podcast Flour Hour [Hora da Farinha] com Amanda E. Faber. “Sempre senti que tinha esta ligação a Portugal”, disse o luso-descendente, que visita o país todos os anos.

Os EUA são o país do mundo com mais casos de infecção e de mortes causados pela pandemia da covid-19.