Cineclube do Porto adia comemoração dos 75 anos para depois da pandemia

Federação portuguesa propõe um dia internacional dos cineclubes a 14 de Abril, mas também só avançará com o seu programa nacional no pós-confinamento.

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O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene DR

Cumprem-se esta segunda-feira, 13 de Abril, os 75 anos da fundação do Cineclube do Porto, o mais antigo cineclube português em actividade. Mas as circunstâncias que estamos a viver, confinados ao isolamento doméstico por causa da pandemia da covid-19, levaram a direcção do cineclube a adiar para o segundo semestre do ano a celebração dessa data histórica em que um conjunto de jovens estudantes e cinéfilos, liderado por Hipólito Duarte (1927-2002), então aluno no Liceu Alexandre Herculano, fundou o Clube Português de Cinematografia, mais tarde institucionalizado como Cineclube do Porto (CCP).

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Cumprem-se esta segunda-feira, 13 de Abril, os 75 anos da fundação do Cineclube do Porto, o mais antigo cineclube português em actividade. Mas as circunstâncias que estamos a viver, confinados ao isolamento doméstico por causa da pandemia da covid-19, levaram a direcção do cineclube a adiar para o segundo semestre do ano a celebração dessa data histórica em que um conjunto de jovens estudantes e cinéfilos, liderado por Hipólito Duarte (1927-2002), então aluno no Liceu Alexandre Herculano, fundou o Clube Português de Cinematografia, mais tarde institucionalizado como Cineclube do Porto (CCP).

Deixando para “dentro de alguns meses” a apresentação da programação, a direccão do CCP antecipa, em comunicado, algumas das iniciativas que estão já em curso ou agendadas. Entre elas encontra-se a publicação de um livro com textos de vários autores e investigadores, que vai “contar a história da instituição e do seu património, explicando o contexto artístico portuense do seu aparecimento e que é também ‘fundamental para compreender a história de todos os cineclubes em Portugal’”, diz Joana Canas Marques, presidente da direcção do cineclube, citada no comunicado.

Duas outras iniciativas prometidas são a exibição de uma versão restaurada do documentário Auto da Floripes (1963) e de um cine-concerto com um clássico do expressionismo alemão, O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene.

O primeiro é uma produção e realização colectiva do próprio CCP, que em Agosto de 1959 registou uma representação popular, integrada na romaria da Senhora das Neves, no concelho de Viana do Castelo, das guerras entre cristãos e mouros, tradição que remonta ao século XVI.

Realizado por uma equipa que integrava o crítico e historiador de cinema Henrique Alves Costa, autor da ideia, e António Lopes Fernandes, responsável pela montagem, Auto da Floripes vai ser também editado em DVD.

Curioso é lembrar que a primeira exibição desta produção da Secção de Cinema Experimental do CCP aconteceu em 1963, o mesmo ano em que Manoel de Oliveira estreou Acto da Primavera, também a registar uma representação popular ancestral no norte do país, e em que Paulo Rocha estreou Verdes Anos, o filme charneira do Cinema Novo Português.

O Gabinete do Dr. Caligari, de que este ano se assinala o centenário, é considerado o precursor do movimento do expressionismo cinematográfico alemão, que marcaria sobremaneira a criação e a evolução da Sétima Arte.

Actualmente com duas centenas de sócios activos, o CCP promove sessões regulares na Sala Henrique Alves Costa da Casa das Artes – “desde 2017, o Cineclube programa uma média de 100 sessões de cinema por ano, com uma afluência média anual de mais de 5.500 espectadores”, nota a direcção –, estando a tratar do seu extenso acervo, que inclui, por exemplo, as lunetas de Aurélio Paz dos Reis (1862-1931), fundador do cinema português, e o espólio do cineasta amador, pintor e professor Vasco Branco (1919-2014).

Dia Internacional do Cineclube

Um dia depois do 75.º aniversário do CCP, a Federação Portuguesa de Cineclubes (FPCC) assinalará, pelo segundo ano, o Dia Nacional do Cineclube, tomando como referência a data de 14 de Abril de 1907, habitualmente referida como a do lançamento do primeiro cineclube, em Paris, pelo director da revista Phono-Ciné-Gazette, Edmond Benoit-Lévy, 12 anos após a invenção do cinematógrafo dos Lumière.

Lançada em 2019, a iniciativa da FPCC foi agora também proposta à Federação Internacional de Cineclubes (FICC), anunciou a instituição portuguesa em comunicado divulgado no domingo. No texto, citado pela Agência Lusa, a federação dá conta do mote dirigido à congénere internacional, sublinhando também que na terça-feira assinalará de novo o Dia Nacional do Cineclube, uma data dinamizada “em parceria com os cineclubes portugueses” e que se pretende “ser um momento anual de celebração da actividade cineclubista e lembrar o seu contributo histórico social, educacional e cultural”.

A FPCC decidiu assinalar este ano o Dia Nacional do Cineclube com um texto do arquitecto Alexandre Alves Costa, filho de Henrique Alves Costa e antigo membro dos órgãos sociais do CCP. As comemorações, inicialmente marcadas para decorrerem entre esta segunda-feira e o próximo domingo, foram também adiadas devido à pandemia de covid-19, “e serão reagendadas para uma altura em que as condições sejam adequadas”, refere a federação.

Na sua carta, Alexandre Alves Costa lembra o papel do seu pai como “o homem de todos os cineclubes”, expressão que lhe foi atribuída em 1987 pela direcção da FPCC.

O arquitecto e professor catedrático jubilado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto lembra o papel destas instituições “durante o Estado Novo” enquanto “actividade de resistência antifascista”, que mostrava “o mundo tal como ele é, sem a máscara inventada pelo regime”. “O cinema, com a sua inexcedível capacidade de comunicação, foi, no plano da cultura possível, o maior inimigo da ditadura. O cineclubismo foi subversivo, pela sua própria natureza”, argumenta.

Alves Costa considera ainda que a actividade dos cineclubes se reveste de particular pertinência num “mundo globalizado” em que o cinema foi “tomado como indústria do lazer e não pelos seus valores artísticos”, com circuitos de produção e distribuição “dominados por valores estruturalmente comerciais e enfeudados às leis do mercado”.

“Por estas razões, associar cidadãos que lutam pela defesa de um cinema independente e de qualidade, fora daqueles circuitos, proporcionando o seu usufruto colectivo, tem, hoje, um valor de resistência, política e cultural, semelhante ao do passado fascista”, refere o autor. Com Lusa

​Notícia corrigida: a autoria do livro sobre os 75 anos do Cineclube do Porto é colectiva, e não da presidente da direcção, Joana Canas Marques.