#SOSCovid junta 50 empresas e produz milhares de viseiras em impressoras 3D

Movimento de empreendedores solidários das mais diversas áreas nasceu nos últimos dias de Março e já entregou quase 21 mil viseiras a profissionais de saúde. O lema é “proteger quem nos protege”.

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Nelson Garrido

Nos últimos dias de Março, um grupo de empreendedores começou a produzir viseiras de protecção facial nas suas impressoras 3D, de forma a auxiliar os profissionais de saúde que estão na linha da frente no combate à covid-19. Só entre 23 de Março e 3 de Abril conseguiram produzir e oferecer 7 mil viseiras; até às 13h deste domingo o número subiu para perto de 21 mil. Com o movimento a crescer e cada vez mais empresas a aderir, a expectativa é aumentar a produção diária para 5 mil viseiras, bem como iniciar o fabrico de outro tipo de objectos.

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Nos últimos dias de Março, um grupo de empreendedores começou a produzir viseiras de protecção facial nas suas impressoras 3D, de forma a auxiliar os profissionais de saúde que estão na linha da frente no combate à covid-19. Só entre 23 de Março e 3 de Abril conseguiram produzir e oferecer 7 mil viseiras; até às 13h deste domingo o número subiu para perto de 21 mil. Com o movimento a crescer e cada vez mais empresas a aderir, a expectativa é aumentar a produção diária para 5 mil viseiras, bem como iniciar o fabrico de outro tipo de objectos.

Como é que isto aconteceu? Em 2016, Francisco Tenente, com 24 anos na altura, funda a 3DSoft e a 3DWays. A 3DWays é uma empresa de “engenharia, prototipagem rápida, industrialização” e não desenvolve produtos próprios, mas sim para outras empresas, que os encomendam e colocam no mercado. Francisco, em chamada com o P3, resume os últimos anos, explicando que criaram “mais de 3 mil produtos, desde dispositivos médicos, peças de manutenção para veículos, cadeados para alto-mar, protótipos de moinhos eólicos — uma enormidade de mercados diferentes e produtos distintos com especificações inéditas”. Desta forma, têm “muita experiência em criar coisas rapidamente e colocá-las no mercado”, possuindo “uma das maiores fábricas de impressoras 3D em Portugal”.

Com a difusão do coronavírus em Portugal e os apelos repetidos dos profissionais de saúde a pedir mais material de protecção individual, a 3DWays cessou a actividade normal e os projectos de clientes que tinha em curso e dedicou-se exclusivamente “a criar produtos que fossem úteis às entidades de saúde em Portugal, ou a optimizá-los, investigá-los, e colocá-los no mercado”. O primeiro foi a viseira, por ser “básico de desenvolver e de industrializar”. Lançado o apelo, em conjunto com outras empresas, conseguiam “debitar para o mercado cerca de mil viseiras por dia”. Entretanto, conseguiram a ajuda de outra empresa para criar “um software eficiente para gestão dos pedidos das entidades, para gestão do stock destas viseiras e gestão de encomendas” e conseguiram “uma parceria com os CTT para o envio das encomendas, reduzindo o número de pessoas na rua”.

Assim, “por um lado, criamos aqui um processo industrial para produção das viseiras, com validação de qualidade, a montagem das viseiras, o acondicionamento e o envio; por outro lado, estamos a tentar associar, já há algum tempo, todas as pessoas, todas as empresas que tenham impressoras 3D ou vontade de ajudar, para aumentar o número de viseiras que conseguimos colocar no mercado”. Neste momento, “são quase 50 empresas associadas a este movimento, a ajudar de diferentes formas, desde doações de matéria-prima a dinheiro para fabrico de moldes, tempo, transporte”. Até 3 de Abril, conseguiram colocar no mercado 7 mil viseiras; uma semana passou e este domingo chegaram às 20.840. Como entretanto conseguiram ter três moldes de injecção prontos, a expectativa é de conseguirem chegar às 5 mil por dia durante esta semana.

A empresa está também a desenvolver outros produtos, “principalmente produtos de acessibilidade”, objectos que possibilitem “abrir portas sem usar as mãos, empurrar macas sem usar as mãos, empurrar carrinhos de compras da mesma forma, enfim, adaptar a nossa sociedade, as nossas cidades, a esta nova realidade”. Francisco Tenente salienta que a 3DWays, é agora “apenas uma micro parte disto, porque há mesmo imensa gente a ajudar de imensas formas”. Só tiveram “a sorte de estar lá no início e ajudar a alavancar tudo isto”.

A grande missão do #SOSCovid permanece a mesma: “ajudar quem mais precisa e juntar todas as empresas, todas as pessoas que queiram ajudar, de uma forma organizada, de uma forma eficiente, e sempre 100% gratuita”. Já entregaram quase 15 mil viseiras a entidades de saúde. Qualquer pessoa que tenha uma impressora 3D pode ajudar, basta ir ao site do movimento e descarregar o ficheiro do objecto 3D. Outra ajuda essencial é o fornecimento de matéria-prima, como rolos de filamento para impressão 3D, acetatos A4 transparentes e elásticos. Como o stock do fornecedor actual de rolo de filamento já se encontra esgotado, o #SOSCovid precisa urgentemente desta ajuda. Os materiais devem ser enviados para o centro operacional, que entretanto mudou da fábrica da 3DWays para a da ErgosTek.

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#SOSCOVID

Os parceiros solidários podem ser consultados no site do movimento, bem como as necessidades actuais mais urgentes. Também é possível acompanhar a produção em tempo real, o destino das viseiras e o dia-a-dia dos voluntários através de fotografias. O #SOSCovid já conta com embaixadores bem conhecidos, como Nuno Markl, Carla Andrino, Beto Pimparel, Joana Lemos, Nuno Gama, Ricardo Pereira e Nuno Delgado, entre muitos outros. Numa altura em que Portugal tem 16.585 infectados e 504 mortos por coronavírus, as redes solidárias multiplicam-se, motivadas em ajudar os profissionais de saúde a combater o vírus. “Basicamente, queremos fazer a nossa parte nesta crise.”