Grécia espera que resposta rápida à covid-19 afaste rótulo de “ovelha negra” da UE

As autoridades gregas não esperaram muito tempo até porem em prática medidas de isolamento social. País tem apenas dois mil casos e 86 mortos.

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Medidas de isolamento social foram postas em prática muito cedo na Grécia Reuters/ALKIS KONSTANTINIDIS

Com pouco mais de dois mil casos de covid-19 confirmados e apenas 86 mortos, a Grécia tem gerido com sucesso a pandemia que noutros países europeus deixou em colapso os sistemas de saúde. A imposição de regras de isolamento social bem cedo tem dado frutos, apesar das críticas dos médicos à falta de material de protecção.

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Com pouco mais de dois mil casos de covid-19 confirmados e apenas 86 mortos, a Grécia tem gerido com sucesso a pandemia que noutros países europeus deixou em colapso os sistemas de saúde. A imposição de regras de isolamento social bem cedo tem dado frutos, apesar das críticas dos médicos à falta de material de protecção.

Mesmo tendo em conta as diferenças de população, a Grécia tem um balanço bem menos negativo do que países como Itália ou Espanha, onde o número de mortes foi 40 vezes superior. Comparando com Portugal, onde há 435 mortos, que tem uma população semelhante, os números gregos continuam a ser amplamente mais positivos.

Por trás do sucesso está a entrada do país em regime de quarentena muito antes de a epidemia ganhar dimensão. Ao contrário de Itália ou de Espanha, as autoridades gregas esperaram menos de duas semanas desde o primeiro caso confirmado para encerrar as escolas e cancelar grandes eventos – nos dois países europeus mais afectados, por outro lado, passou mais de um mês até que essas decisões fossem tomadas

A rápida implementação destas medidas foi decisiva para travar a propagação do coronavírus que no caso grego poderia ter contornos particularmente trágicos. Depois de uma década em que o orçamento da saúde foi reduzido para metade por causa dos programas de austeridade impostos pelos credores internacionais, o sistema de saúde grego estava em péssimas condições para lidar com uma pandemia como a actual.

Em Março, o país dispunha apenas de 560 camas nas unidades de cuidados intensivos, a que o Governo conseguiu entretanto acrescentar mais 300.

O analista da Fundação Helénica para a Política Externa e Europeia, George Pagoulatos, disse à Al-Jazeera que “talvez tenha ajudado o facto de a Grécia estar num estado quase constante de gestão de crise desde 2010”. “Não sofremos do tipo de complacência que as economias que estão em bom estado podem dar-se ao luxo de ter”, afirma.

O Governo conservador liderado por Kyriakos Mitsotakis não esconde que uma boa gestão da pandemia se tornou numa forma de o país recuperar credibilidade junto dos parceiros europeus. “A Grécia emergiu de uma crise económica de dez anos com a sua credibilidade atingida e queríamos ultrapassar o rótulo de ovelha negra da Europa”, disse à Al-Jazeera o conselheiro económico de Mitsotakis, Alex Patelis.

Apesar das boas notícias dadas pelos números, subsistem críticas. Sindicatos e grupos de profissionais de saúde têm multiplicado as queixas por falta de equipamento de protecção individual nos hospitais.

A dirigente do sindicato de médicos do hospital Asklipio Voulas, no sul de Atenas, Despoina Tosonidou, disse ao site Balkan Insight que recebeu instruções para poupar o máximo que possa no uso de máscaras e outros equipamentos. “Em vários hospitais de referência para o tratamento de casos de covid-19 as pessoas na linha da frente não têm os instrumentos adequados”, afirma.

Estima-se que cerca de 90 profissionais de saúde tenham sido infectados na Grécia, até agora.