Indústria automóvel acelera a fundo na ajuda ao combate à pandemia
Não é a primeira vez que, num período de crise, a indústria automóvel assume um lugar na primeira linha. Entre colocar veículos ao serviço da comunidade e disponibilizar linhas de montagem para a realização de protecções, o sector mostra que não abrandou.
Ao longo de vários anos, a indústria automóvel atravessou “o” deserto, com quebras a ditar despedimentos em massa ao mesmo tempo que as políticas verdes obrigavam a um cada vez maior investimento nas tecnologias que, em muitos casos, tornaram possível as obrigações das (boas) normas relacionadas com o controlo de emissões de gases poluentes e consequente preservação do ambiente.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ao longo de vários anos, a indústria automóvel atravessou “o” deserto, com quebras a ditar despedimentos em massa ao mesmo tempo que as políticas verdes obrigavam a um cada vez maior investimento nas tecnologias que, em muitos casos, tornaram possível as obrigações das (boas) normas relacionadas com o controlo de emissões de gases poluentes e consequente preservação do ambiente.
Por isso, este não era um sector que, antes da crise do novo coronavírus, estava a progredir — ainda que alguns números nos possam enganar. Esta era uma área que estava à tona da água, a tentar encontrar um modo de sobreviver, sem motores a gasóleo e a inventar (literalmente) energias que obedecessem a tudo o que lhes era exigido e ao mesmo tempo a fintarem os desejos dos condutores, sedentos de tecnologias e sempre mais potência (mesmo que nunca a venham a usar).
No meio desta crise, mal assumida, surge outra, difícil de contornar: a de uma pandemia, que, primeiro, levou a uma quebra no fornecimento de componentes, cada qual feito num diferente “canto” do mundo, e, por fim, forçou linhas de montagem a parar, mandando operários para casa para o bem da saúde pública. E, sublinhe-se, foram várias as marcas a destacarem-se entre toda a indústria pela decisão de paralisação total: fosse nas operações de venda ao público presencial (há, de momento, possibilidade de comprar online e de ter o veículo entregue ao domicílio), nos parques para a imprensa (tenho à porta um carro que não consegui devolver; várias parceiras do júri do Women's World Car Of The Year – WWCOTY também) ou nas próprias fábricas. Ou quase…
Ou quase porque a indústria pode ter parado, mas não paralisou. Em Portugal, as instalações da Autoeuropa pararam de produzir automóveis para fabricarem viseiras — uma iniciativa de trabalhadores voluntários com o apoio da empresa. Em Espanha, a Seat avançou com a produção de ventiladores numa altura em que ainda não havia qualquer certeza de homologação — já há e a expectativa é de que se chegue às 300 unidades de produção diárias. Numa altura em que “já não há lugar para mais pessoas doentes ou vítimas em Espanha”, como descreve a presidente do WWCOTY, Marta García, o director de Comunicação da marca de Martorell (Barcelona), Carlos de Luis, não tem tido para onde se virar.
Mas, os esforços não se ficam por aqui. Em simultâneo, marcas como Honda, Hyundai, Lexus e Toyota, todas no país representadas por empresas do universo Salvador Caetano, disponibilizaram a frota para os profissionais de saúde — médicos, enfermeiros e farmacêuticos. No caso, da Lexus e Toyota, em caso de veículos disponíveis — e, desde dia 8 de Abril, alargado a todo o território nacional (continental e arquipélagos), ambas as marcas facilitam os empréstimos à radiologia, anatomia patológica, pessoal de emergência médica, técnicos de análise, fisioterapeutas, linha de saúde 24 e assistentes operacionais e de emergência. No caso da Honda e Hyundai, há um acordo com os Médicos Sem Fronteiras e com os centros de saúde (ARS Norte e Centro).
A Mazda, em parceria com a rede de concessionários, decidiu desenvolver uma acção que envolve a cedência de viaturas de demonstração às juntas de freguesia, enquanto a PSA em Mangualde doou às autoridades de saúde dois mil equipamentos de protecção, estando agora a colaborar com organismos nacionais para o desenvolvimento de ventiladores, recorrendo a componentes em stock, como motores de limpa-vidros. Já a Mercedes-Benz anunciou a disponibilidade de impressoras 3D, capazes de produzir componentes individuais que são urgentemente necessários na tecnologia médica.
A FCA, com sede em Turim, uma das zonas mais afectadas pelo surto em Itália, tem estado a apoiar o combate à pandemia em diversas frentes, nomeadamente na produção de equipamentos médicos e de protecção individual.
Mas estes são todos só exemplos. No conjunto, a indústria mostra como os tempos de crise são alturas para arregaçar as mangas — e, muitas vezes, em conjunto.