Estudo na “Wuhan alemã” mostra que um em cada sete habitantes está imune ao coronavírus
O cenário mais perigoso para o coronavírus parece ser quando há grupos de pessoas juntas por algum tempo. Seja música e dança, sejam cerimónias religiosas. Na Alemanha, foi o Carnaval de Gangelt.
Quantas infecções houve realmente pelo novo coronavírus num determinado local? Há muito que se tem noção que o número real será mais alto, mas quão grande poderá ser a diferença? No distrito de Heinsberg, na Alemanha - um dos primeiros e mais afectados pelo novo coronavírus - uma equipa apresentou esta quinta-feira uma primeira resposta. Resultados preliminares de um estudo mostram que 15% dos habitantes estiveram em contacto com o coronavírus, quando a percentagem de casos registados entre os habitantes anteriormente era de apenas 5%.
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Quantas infecções houve realmente pelo novo coronavírus num determinado local? Há muito que se tem noção que o número real será mais alto, mas quão grande poderá ser a diferença? No distrito de Heinsberg, na Alemanha - um dos primeiros e mais afectados pelo novo coronavírus - uma equipa apresentou esta quinta-feira uma primeira resposta. Resultados preliminares de um estudo mostram que 15% dos habitantes estiveram em contacto com o coronavírus, quando a percentagem de casos registados entre os habitantes anteriormente era de apenas 5%.
O número de infecções “invisível” é uma das questões que ocupa cientistas e políticos, porque os dados com que se trabalha dependem muito da quantidade de testes disponíveis, de testes realizados e dos seus critérios. Sem esta informação, comentava o especialista em Investigação Biomédica Ulrich Dirnagl, numa entrevista ao Berliner Zeitung no dia anterior, as medidas tomadas são como andar às apalpadelas no escuro. Dirnagl falava de potenciais taxas de infectados totais entre 1% a 10%.
Um número maior destas infecções não detectadas causa preocupação pela possibilidade de transmissão do vírus por infectados assintomáticos. Mas a sua existência irá fazer demorar um pouco a progressão de novas infecções, porque estes 15% estão já imunes. A imunidade, dizem os investigadores, deverá durar entre seis a 18 meses.
Não é, no entanto, possível extrapolar esta percentagem real de infectados para a registada no resto do país, porque este é um local especial: Heinsberg ficou conhecida como a “Wuhan da Alemanha” (uma menção ao local de origem da pandemia, na China) porque foi o centro das infecções e o local com mais casos na Alemanha: o distrito de 42 mil habitantes registou 1442 infecções e 43 mortes.
Ainda segundo os dados preliminares deste estudo, a taxa de letalidade (número de mortes por números de infectados) é bastante mais baixa do que o que se pensava: 0,37% - segundo os dados da Universidade Johns Hopkins (EUA), a taxa no conjunto da Alemanha era de 1,98%.
O líder da equipa de investigadores, Hendrik Streeck, da Universidade de Bona, também disse, citado pelo diário britânico The Guardian, que a maioria das infecções não ocorreu em supermercados ou restaurantes, mas em aglomerações maiores de pessoas. Não só em Heinsberg, mas noutros locais do mundo, o padrão que estão a ver é “onde há música e dança, o vírus espalha-se mais rapidamente”, comentou Streeck.
Foi o caso do primeiro ponto de disseminação em Heinsberg: uma festa de Carnaval a 15 de Fevereiro na localidade de Gangelt. Um dos homens que participou no ballet tradicional, de 47 anos, foi o primeiro doente a precisar de cuidados intensivos na Alemanha, e várias pessoas que participaram no evento tiveram resultados positivos nos testes.
É uma tendência que tem eco noutros países: festas pós-ski na estância de Ischel, Áustria, um jogo de futebol em Bergamo, Itália, comunidades religiosas de Nova Iorque a Israel, grandes festas como o Mardi Gras em Nova Orleães, são todas vistas como potenciais focos de disseminação rápida do vírus.
Jovens versus idosos
Na apresentação dos resultados preliminares, Streek apontou que se a comunidade continuar a ser “tão activa e disciplinada” como até agora, poderá ser possível começar uma “segunda fase”.
Martin Exner, director do Instituto de Higiene da Universidade de Bona, disse que se pela trajectória da transmissão poderia considerar-se uma reabertura de escolas e infantários, esta apenas poderia ser feita se as crianças e os jovens continuassem a não se encontrar com os mais velhos, que continuam a precisar de protecção especial.
E isto pode querer dizer, previsivelmente, netos não verem avós até pelo menos ao final do ano, antecipou Exer.
No entanto, este é apenas um de vários estudos a ser levado a cabo no país. No mesmo dia, a chanceler, Angela Merkel, questionava medidas que pudessem prever o fim de restrições para jovens, mas não para idosos. “Temos de pensar em todos”, disse, em resposta a uma questão numa conferência de imprensa. “Devolver aos jovens a sua liberdade anterior” e deixar os idosos em isolamento não é, na opinião de Merkel, “compatível com humanidade”.
A chanceler disse que os próximos passos só serão decididos após a reunião de um grupo de cientistas de várias áreas da Academia Nacional de Ciências Leopoldina, que reúne não só especialistas em virologia, mas, também, em outras áreas desde a economia à ética, no início da próxima semana.
Cada avanço terá de ser feito com muito cuidado porque qualquer passo em falso pode “deitar a perder muito depressa todo o esforço que já foi feito”. Haverá espaço para avaliar, duas a três semanas depois, os seus efeitos.
Certo é ainda que mesmo com redução das medidas de isolamento, outras como manter uma distância de segurança de outras pessoas (idealmente dois metros), evitar apertos de mãos e lavar frequentemente as mãos, vão ter de continuar. Enquanto não houver uma vacina, previsivelmente durante um ano, vai ser preciso “viver com o vírus”.
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