Covid-19: 250 operacionais e 20 postos de fiscalização na operação que isola os seis concelhos de São Miguel

Em São Miguel, nos Açores, foram decretados cercos sanitários em todos os concelhos para evitar a propagação da covid-19. Primeira morte na região autónoma devido ao vírus registou-se nesta quarta-feira.

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rui pedro soares

Uma ilha e seis concelhos isolados entre si. Desde sexta-feira que foram implementados cercos sanitários em todos os concelhos da ilha de São Miguel para evitar a transmissão comunitária de covid-19 na maior ilha açoriana. Para isolar Ponta Delgada, Ribeira Grande, Lagoa, Vila Franca do Campo, Povoação e Nordeste foram criados 20 postos de fiscalização entre os concelhos e destacados cerca de 250 elementos. No terreno, por turnos, mais de 80 operacionais asseguram a operação.

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Uma ilha e seis concelhos isolados entre si. Desde sexta-feira que foram implementados cercos sanitários em todos os concelhos da ilha de São Miguel para evitar a transmissão comunitária de covid-19 na maior ilha açoriana. Para isolar Ponta Delgada, Ribeira Grande, Lagoa, Vila Franca do Campo, Povoação e Nordeste foram criados 20 postos de fiscalização entre os concelhos e destacados cerca de 250 elementos. No terreno, por turnos, mais de 80 operacionais asseguram a operação.

“Temos no terreno e por três turnos de oito horas cerca de 250, 260 pessoas, conforme os postos e as necessidades”, avança ao PÚBLICO Carlos Neves, presidente da Protecção Civil e Bombeiros dos Açores. Nos vinte postos que delimitam as “fronteiras” de cada concelho estão 60 operacionais, entre forças de segurança e funcionários de apoio logístico. A este número, é somado o dos carros patrulha encarregues da fiscalização das estradas, perfazendo um total de mais 80 elementos a garantir que quem circula pela ilha com 137 mil habitantes só o faz por necessidade.

Dos mais de 250 operacionais, cerca de 130 são agentes da PSP, responsáveis por fiscalizar carro a carro as justificações dos passageiros. Segundo o conselho do Governo Regional, profissionais de saúde, pescadores, agricultores, jornalistas em funções, profissionais que assegurem bens de primeira necessidade e pessoas que trabalham noutros concelhos podem atravessar os cercos. Mas todos têm de apresentar uma declaração da Autoridade de Saúde Regional ou da entidade patronal que justifique a deslocação.

“Somos cerca de 130 agentes policiais em todos os turnos e depois ainda temos de garantir o patrulhamento em toda a ilha e isso também está garantido”, assinala o porta-voz do comando regional da PSP nos Açores Nuno Costa. O patrulhamento serve fundamentalmente para garantir que não haja contornos às imposições, sobretudo através de caminhos agrícolas (utilizados para os agricultores deslocarem-se até às lavouras), que fogem às vias mais utilizadas pelos micaelenses. “Alguns pontos têm barreiras físicas para determinar a deslocalização das pessoas aos pontos de fiscalização obrigatória”, explica o porta-voz da PSP açoriana. 

Os restantes membros da operação são funcionários do Governo Regional provenientes de três direcções regionais: obras públicas, ambiente e recursos florestais. “São vários operacionais, de diferentes áreas, para assegurar todo o auxílio logístico necessário”, afirma Frederico Sousa, director regional das Obras Públicas do governo açoriano, especificando que se trata de um “apoio suplementar” nos postos “fiscalizados” pela PSP.

“A operação está montada da seguinte forma: temos os postos no terreno e depois temos um posto de comando operacional de ilha onde recebemos a comunicação de todos os postos e onde tentamos resolver todas as situações que surgem”, explica Carlos Neves. O responsável máximo pela Protecção Civil açoriana destaca que no posto de comando de ilha existem diversos operacionais ligados a todas as áreas intervenientes na operação e que no final de cada dia é realizada uma reunião para a “avaliação da situação” e para “reunir” todos os “problemas” relatados. “Vamos adaptando diariamente as correcções necessárias, quer para melhorar cada vez mais o controlo, quer como para facilitar a passagem daqueles que estão autorizados”, afirma.

Aumento das filas de trânsito

Entre os “problemas relatados”, um tem sido notório desde o primeiro dia da imposição das cercas sanitárias: o aumento das filas de trânsito - um cenário não muito habitual nas ilhas açorianas e que contrasta com as estradas vazias relatadas um pouco por todo o mundo. “Não é necessariamente negativo. É uma consequência. Se fosse fluido, era sinal de que as pessoas estavam a circular”, defende o director regional das Obras Públicas, relativizando e assinalando que o trânsito apenas se registou nas vias entre Ribeira Grande e Ponta Delgada e entre Lagoa e Ponta Delgada. “E apenas em horas de ponta”, destaca.

Já o porta-voz da polícia açoriana frisa que o trânsito se deve sobretudo a profissionais que têm de se deslocar ao local de trabalho, porque apenas “uma pequena percentagem” circula sem a devida justificação. “Nem sempre é possível aligeirar a fiscalização. Se os cercos foram montando temos de efectuar a fiscalização de cada cidadão”, aponta Nuno Costa.

Para Carlos Neves, que sinaliza que a população “aceitou” e “percebeu” a importância dos cordões sanitários, como existem estradas que neste momento “só têm uma via em cada sentido”, mesmo que se coloquem mais operacionais a fazer o controlo, “apenas irá passar na mesma um carro de cada vez”. Ainda assim, o presidente da Protecção Civil regional diz que no fim-de-semana foram realizados “acertos” e que a situação já “correu de forma bastante positiva” no início desta semana.

“No geral tem corrido muito bem, tanto a nível de controlo, como a nível de escoamento do tráfego e no sentido de responsabilidade da população”, resume Carlos Neves, ressalvando que uma operação de “considerável envergadura” tem sempre de “demorar algum tempo” até que funcione “de forma oleada”.

Os Açores registaram nesta quarta-feira a primeira morte por covid-19, na ilha de São Miguel. Trata-se de um homem de 90 anos, que já se encontrava internado, tendo sido infectado por profissionais de saúde. É nessa ilha que estão 35 dos 71 casos activos de covid-19 na região. A Terceira conta com dez casos, a Graciosa com quatro, São Jorge sete, o Pico com 10 e cinco no Faial. No total, já foram registados 72 casos positivos no arquipélago, uma paciente da ilha Terceira já recuperou.