Rússia bate recordes de infecções diárias por covid-19
Há três dias consecutivas que o número de novos casos bate recordes de crescimento. O Kremlin está sobretudo interessado em combater notícias falsas.
Depois de várias semanas em que a Rússia parecia imune à pandemia do novo coronavírus, enquanto os sistemas de saúde da Europa Ocidental colapsavam, o país parece ter entrado numa espiral crescente. Pelo terceiro dia consecutivo o crescimento de número de infecções bateu recordes.
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Depois de várias semanas em que a Rússia parecia imune à pandemia do novo coronavírus, enquanto os sistemas de saúde da Europa Ocidental colapsavam, o país parece ter entrado numa espiral crescente. Pelo terceiro dia consecutivo o crescimento de número de infecções bateu recordes.
Há pouco mais de duas semanas, as autoridades russas contabilizavam apenas algumas centenas de casos de infecção e diziam ter a situação controlada. Numa demonstração que visava transmitir confiança, o país enviou material de protecção para Itália e para os EUA, onde os números de infecções subiam vertiginosamente.
Nos últimos dias, tudo mudou. Em apenas 24 horas, as autoridades de saúde russas confirmaram 1175 novos casos, um crescimento superior a 15%. Na segunda-feira, tinham sido divulgadas 1154 novas infecções. O país conta já com mais de 8600 infecções e 63 mortes.
A maioria dos casos concentra-se em Moscovo, onde os seus 12 milhões de habitantes estão em regime de quarentena obrigatória pelo menos até ao fim de Abril.
A directora da Agência Federal Biomédica, Veronika Skvortsova, prevê que o pico de infecções seja atingido entre os próximos dez e 14 dias e que o número de casos apenas comece a cair em meados de Junho.
Os especialistas em saúde pública dizem que o número real de infecções foi sempre bastante superior ao que foi divulgado e uma das razões apontadas é a dificuldade burocrática em realizar testes.
O contágio está a atingir personalidades importantes do Estado russo. Nos últimos dois dias foi revelado que um deputado da Duma Municipal de Moscovo testou positivo e que a directora do hospital Davidovski, Ielena Vasiliieva, também está infectada, o que obrigou a que 500 pacientes e médicos passem a estar sujeitos a quarentena obrigatória, diz o Moscow Times.
Medidas contra “fake news”
Entretanto, o Kremlin está empenhado em combater a propagação de notícias falsas sobre o coronavírus. O Presidente Vladimir Putin aprovou legislação que prevê penas pesadas, que podem chegar até aos cinco anos de prisão, para quem divulgar informações falsas sobre a epidemia.
Elementos da oposição ao regime russo denunciam a campanha contra as notícias falsas como uma forma de censurar o escrutínio ao combate contra a pandemia e à divulgação de dados fiáveis. A médica Anastasia Vasilieva, que trabalha com o líder da oposição, Alexei Navalni, expôs, através do seu canal no YouTube, pormenores sobre as más condições dos serviços de saúde russos e foi contactada pela polícia.
“Eles querem assustar-me para que outros parem, a verdade não irá mudar por causa disso”, afirmou Vasilieva à Associated Press.
A epidemia do novo coronavírus aconteceu numa altura particularmente sensível na política russa. No início do ano foi iniciado um processo de revisão constitucional que, entre outras mudanças, deverá permitir a manutenção de Putin como chefe de Estado para além de 2024, quando o homem que preside a Rússia há duas décadas iria atingir o limite de mandatos consecutivos.
A propagação do coronavírus obrigou a uma mudança nos planos de Putin, que já teve de alterar a data prevista para o referendo sobre a revisão constitucional, inicialmente agendado para 22 de Abril.
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