Covid-19: a fé moçambicana que cresce nas rádios e Internet
Nalgumas igrejas, os cultos já eram transmitidos em directo nas redes sociais, mas com a medida adoptada pelo Governo, estes foram intensificados e desta vez com os membros do outro lado do ecrã. Agora, as congregações fazem chamadas telefónicas e enviam mensagens diariamente aos membros que não conseguem ter acesso.
Rosy Queface, líder de uma igreja evangélica em Moçambique, reconhece que o novo coronavírus “paralisou o mundo”, mas diz que “a igreja não pode parar”. Agora mais do que nunca, acredita, é preciso espalhar a fé e a prevenção.
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Rosy Queface, líder de uma igreja evangélica em Moçambique, reconhece que o novo coronavírus “paralisou o mundo”, mas diz que “a igreja não pode parar”. Agora mais do que nunca, acredita, é preciso espalhar a fé e a prevenção.
Desde que foi declarado o estado de emergência no país, a 1 de Abril, os cultos na sua igreja são feitos online, através das redes sociais. Para a pastora, mais do que nunca, os crentes precisam de mensagens de fé e esperança para que se fortaleçam e para que se consiga conter a propagação da pandemia da covid-19. Em Moçambique, estão registados dez casos de infecções.
“Estamos a implementar vigílias e cada família em casa tem um acompanhamento através das redes sociais. Muitas coisas pararam, mas a igreja não pode parar, não pode morrer, esse é o tempo de estar mais forte que nunca”, disse Rosy Queface, pastora de uma igreja localizada em Maputo.
Moçambique vive em estado de emergência durante todo o mês de Abril com espaços de diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos, de aglomerações superiores a 20 pessoas e limitações na lotação de transportes.
As autoridades de saúde anunciaram na sexta-feira a primeira recuperação de um dos dez casos oficiais registados de infecção pelo novo coronavírus no país e não há registo de mortos. As manhãs de domingo na capital moçambicana, habitualmente agitadas pelo movimento de crentes, já não são as mesmas.
As cadeiras da igreja foram substituídas pelo sofá de casa e telefone à mão para acompanhar os cultos no Facebook. Grande parte das igrejas do país fechou as portas e realiza os seus cultos através de redes sociais como o Facebook, WhatsApp e Instagram. “Muitas coisas mudaram, desde a estrutura e horários dos cultos, por exemplo. A gente não previa isto. Estamos num processo de avaliação ainda”, comenta Janato Iussufo, também pastor de uma igreja evangélica.
Nalgumas igrejas, os cultos já eram transmitidos em directo nas redes sociais, mas, com a medida adoptada pelo Governo, estes foram intensificados e desta vez com os membros do outro ladodo ecrã. “O maior desafio é ter os membros conectados, estamos num contexto em que muitos ainda não têm acesso à tecnologia”, desabafa Janato.
Além de redes sociais, os cultos são transmitidos através da rádio e as congregações fazem chamadas telefónicas e enviam mensagens diariamente aos membros que não conseguem ter acesso. “Como não podemos ir às missas nas paróquias, agora são feitas a partir da Sé Catedral e acompanhamos de casa”, conta Térica Vilanculo, membro de uma congregação católica.
“A missa sempre existiu e era curta, mas agora aumentou-se o tempo e todas passam na rádio, o que não acontecia antes da doença”, acrescentou Arnaldo Rihiua.
Mudanças nos dízimos
Rosy Queface considera que o contacto contínuo com os membros da igreja também pode contribuir para o cumprimento das medidas recomendadas pelas autoridades de saúde, pois os líderes religiosos têm alguma influência sobre os mesmos. “Se um líder diz ‘fiquem em casa’, as pessoas vão obedecer, e se o líder diz ‘saiam, não tenham medo porque não vos vai acontecer nada’, as pessoas saem”, comenta a pastora.
Com os cultos, também mudou a forma de cumprir alguns mandamentos bíblicos. As igrejas em Maputo disponibilizam contas bancárias e mpesa (serviço financeiro móvel de muita adesão em Moçambique) para a deposição de dízimos e ofertas. “Cada família indicará um colector que será responsável por levantar e canalizar as ofertas e dízimos à tesouraria da igreja local ou por depósito”, lê-se num documento de uma igreja evangélica.
Apesar da mudança na forma de fazer os cultos em Maputo, o pastor Janato garante que o número de pessoas que assistem online é “quase o mesmo e às vezes superior aos cultos presenciais”. “Normalmente tínhamos na igreja uma média de mil pessoas no culto, e em formato online a presença tem sido notável também”, comenta Janato Iussufo.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou cerca de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 80 mil.