Os riscos do teletrabalho, entre dificuldade em desligar e isolamento profissional
A Galp admite “dificuldade natural de desligar” entre os colaboradores, a EDP reconhece um “pico de trabalho” e a Ascendi lamenta a rapidez da mudança. Os peritos em recursos humanos já definiram estratégias e recomendações para o teletrabalho.
O teletrabalho é a nova realidade de grande parte dos colaboradores dos grandes grupos empresariais. Transversalmente, as empresas dizem estar a adaptar-se ao “novo normal” e multiplicam-se em esforços para apoiar os colaboradores, mesmo à distância. Garantem que o teletrabalho não afectou a produtividade e pode mesmo ter intensificado a comunicação interna.
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O teletrabalho é a nova realidade de grande parte dos colaboradores dos grandes grupos empresariais. Transversalmente, as empresas dizem estar a adaptar-se ao “novo normal” e multiplicam-se em esforços para apoiar os colaboradores, mesmo à distância. Garantem que o teletrabalho não afectou a produtividade e pode mesmo ter intensificado a comunicação interna.
Num questionário, levado a cabo pela Worx, empresa de consultores imobiliários, com o objectivo de compreender o impacto do novo coronavírus no mercado dos escritórios, foram inquiridas 100 empresas de vários sectores, desde a construção e imobiliário (24,2%), serviços a empresas (23,45%) consultores e advogados (12,85%), entre outros: 60% dos colaboradores destas empresas estão em teletrabalho e afirmam conseguir manter a produtividade (83,3%).
No geral, as grandes empresas querem que o teletrabalho seja uma experiência positiva com benefícios para as pessoas, as empresas e a sociedade. A Randstad, especializada em recursos humanos com enfoque no desenvolvimento de pessoas e empresas, criou estratégias e recomendações para o teletrabalho que partilhou não só com os colaboradores, mas também com os seus parceiros de negócio.
À semelhança da Randstad, a maioria das empresas também fez algumas recomendações aos colaboradores a trabalhar a partir de casa. Adelaide Martins, directora de recursos humanos da Ascendi, lamenta a rapidez com que foi necessário proceder à mudança para o regime de teletrabalho: “Não permitiu formar, ou, pelo menos, sensibilizar os colaboradores para as especificidades deste modelo de trabalho e para os seus impactos, positivos e negativos, na vida das pessoas no que toca ao equilíbrio da vida.”
Cerca de 50% dos 800 colaboradores da Ascendi estão em regime de teletrabalho. Numa primeira fase, as recomendações cingiram-se às “regras de funcionamento”, como a “utilização dos sistemas de informação fora das instalações de trabalho habituais”, a “protecção dos dados pessoais” e a “salvaguarda da informação da Ascendi”, explica Adelaide Martins.
Agora, a empresa considera fundamental “começar a comunicar mensagens dirigidas às pessoas e aos novos ritmos de trabalho”. “Vamos enviar uma infografia com diversas sugestões de organização pessoal, do espaço de trabalho, de manutenção de ritmos diários, de exercício físico e de comunicação, para evitar a sensação de isolamento social e profissional”, explica a directora de recursos humanos ao PÚBLICO.
Limites entre trabalho e vida pessoal
O isolamento do colaborador é um dos principais desafios. Inês Casaca, vice-directora de Human Consulting, Outplacement e RPO da Randstad Portugal, aconselha que se mantenha uma rotina de comunicação. A directora de Marketing e Comunicação da Galp, Joana Garoupa, sugere também este “reforço de contacto entre chefias, equipas e colegas, mesmo quando esses contactos não parecem necessários”.
“Atrevo-me a afirmar que, em geral, a comunicação interna se intensificou, face a esta necessidade de garantir que se mantém a ligação dentro das equipas, que estão dispersas, e aumentou também o conhecimento das actividades que cada colaborador está a realizar”, aponta Adelaide Martins, da Ascendi.
Separar os momentos de trabalho da vida pessoal é essencial, bem como manter uma rotina semelhante à que se tem no escritório. “As pessoas estão mais ligadas do que nunca e a continuar o seu trabalho com empenho”, destaca Joana Garoupa, da Galp. Sublinha, no entanto, que “a dificuldade natural em desligar” tem sido um comentário frequente entre os mais de dois mil colaboradores em teletrabalho.
Para “ajudar a encontrar o equilíbrio”, a Galp criou uma linha de apoio psicológico e desenvolve sessões de meditação online. Aconselha também aos colaboradores que trabalhem sempre nos horários que fariam habitualmente, antes da pandemia.
A adaptação ao teletrabalho é “exigente e requer, de todos, bastante disciplina e estabelecimento de limites”, defende, por seu lado, fonte oficial da EDP. “Tendo em conta o cenário destas últimas semanas, em que a companhia teve de replanear e redefinir prioridades para o novo contexto e plano de contingência, é seguro afirmar que poderá ter existido um pico de trabalho”, reconhece.
Para monitorizar os impactos do teletrabalho ao nível da produtividade e bem-estar dos colaboradores, a EDP está a desenvolver um questionário de auscultação interna que, mais tarde, permitirá ajustar as práticas de gestão dos seus recursos humanos.
No questionário realizado pela Worx, a falta de motivação (8,4%) e a dificuldade de concentração (11,8%) são dos problemas menos reportados pelos colaboradores, que se queixam sobretudo de contratempos com o equipamento e a Internet (19,1%) ou a partilha de informação (15,1%).
Quando questionados sobre se o teletrabalho pode ser uma tendência futura, 86,4% dos colaboradores das 100 empresas inquiridas consideram que sim. “Vamos passar a trabalhar, liderar e viver de forma diferente. Na nova normalidade, iremos encontrar um novo ponto de equilíbrio, de bem-estar para as pessoas e de dinâmica positiva para as empresas”, conclui Inês Casaca.
Texto editado por Bárbara Wong