Lakecia: Um benjamim sob o signo dos Coltrane

Não é apenas um dos álbuns mais aguardados do jazz americano dos últimos anos: a “grande perseguição” a alta velocidade de Lakecia Benjamin a John e Alice Coltrane constitui-se também num objecto de um enorme amor e liberdade. Não há meta — a corrida é infinita.

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Elizabeth Leitzell

Lakecia Benjamin [lê-se “Lakishia”] olha pela janela. Uma semana antes, havia estado em concertos na Polónia. “Não há ninguém nas ruas… Só polícia. Tenho televisão, comida… É Primavera e toda a gente está a ficar doente”. Fala das ruas da cidade onde nasceu e que conhece como a palma das mãos. “Nova Iorque é um hotspot neste momento. Antes de me telefonar, estava a falar com os meus padrinhos. Pediram-me para ir ter com eles enquanto posso, para norte, para as montanhas, porque ninguém sabe o que vai acontecer”. O inimigo, invisível e bem armado, não é, para desgosto de Trump e quejandos, um ser humano. Aí, a coisa seria mais fácil. É um vírus e, por altura dos primeiros dois concertos de apresentação (12 e 13 de Março) agendados para o Lincoln Center (onde Lakecia também é professora), em Nova Iorque, de Pursuance: The Coltranes, o novo disco de uma das mais aclamadas figuras do jazz americano contemporâneo e saxofonista de inesgotáveis recursos, havia já desembarcado em Nova Iorque com pompa e circunstância. “É a primeira vez que vejo uma coisa assim. Quinta-feira passada [5 de Março], não havia nada. Voltei para cá na segunda e, terça de manhã, o Mayor estava na televisão a anunciar que estávamos no olho do furacão”. Das duas datas previstas só a primeira teve lugar, tendo o concerto de quinta-feira sido cancelado já na sequência da adopção de fortes medidas de restrição. “Na quarta, já estávamos receosos, mas pensámos: ‘Whatever, talvez seja a última vez que vamos poder tocar’. Na quinta-feira, telefonaram-nos a cancelar o concerto. Ambos os concertos estavam esgotados. As pessoas que vieram na quarta foram corajosas. Beberam, compraram CD, riram-se… Toquei 75 minutos na primeira parte e 100 minutos na segunda. Disse-lhes: ‘Não sei quando é que vou tocar outra vez para vocês. Por isso, vou dar-vos tudo o que tenho”.