YouTube proíbe vídeos que associam redes 5G à covid-19
A informação falsa, que circula desde Janeiro, começou a ser utilizada para motivar vandalismo contra redes de 5G no Reino Unido.
O YouTube está a apagar vídeos com teorias de conspiração que associam a propagação da pandemia da covid-19 às novas redes 5G, depois de a informação falsa motivar pessoas a incendiar torres 5G no Reino Unido.
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O YouTube está a apagar vídeos com teorias de conspiração que associam a propagação da pandemia da covid-19 às novas redes 5G, depois de a informação falsa motivar pessoas a incendiar torres 5G no Reino Unido.
Até então, a estratégia da plataforma contra teorias da conspiração era apenas diminuir a probabilidade de vídeos sobre o tema serem recomendados, e adicionar informação factual de fontes como a Wikipédia.
A decisão de banir os vídeos da plataforma, surgiu depois de uma entrevista em directo na segunda-feira a David Icke, um conhecido criador de teorias da conspiração britânico, ser vista por 65 mil pessoas enquanto estava a acontecer. “Se o 5G continuar e chegar onde o querem levar, a vida humana como a conhecemos acabou… Por isso as pessoas têm de tomar uma decisão”, dizia Icke, a certa altura, no vídeo (entretanto eliminado do YouTube). Vários dos utilizadores a assistir começaram a falar sobre sobre novos ataques a antenas 5G.
A entrevista incluía ainda outras teorias da conspiração, com David Icke a falar de uma vacina contra a covid-19 com nanotecnologia para controlar os seres humanos.
“Agora, qualquer conteúdo que dispute a existência ou a transmissão da covid-19, da forma como é descrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades de saúde local, está a violar a política do YouTube. Isto inclui teorias da conspiração que argumentam que os sintomas são causados pelo 5G”, lê-se num comunicado partilhado pelo YouTube, após a remoção do vídeo. A equipa acrescenta que está dedicada a “oferecer informação oportuna e útil durante a crise”, ao dar destaque a vídeos de fontes de confiança e incluir painéis informativos com dados da OMS no site.
Rumores datam de Janeiro
A origem dos rumores sobre a covid-19 e as redes 5G é incerta, mas o primeiro desmentido feito pelo site britânico de verificação de factos Full Fact é sobre uma publicação de Janeiro no Facebook (entretanto apagada) que dizia que o epicentro do novo coronavírus, em Wuhan, foi a primeira cidade chinesa a receber postes de 5G.
Além de não existir qualquer base científica nos rumores, Wuhan foi, de facto, uma de várias cidades piloto a receber as novas redes de comunicações. Em Outubro de 2019, cidades como Pequim e Shanghai já tinham acesso à tecnologia 5G.
A teoria voltou a ganhar a força nos últimos dias, com o actor norte-americano Woody Harrelson a falar sobre relatórios “que alertam sobre os efeitos negativos do 5G” e a relação com a covid-19 numa publicação do Instagram (também entretanto apagada).
Também não existe sustentação científica que associe directamente as novas redes 5G (que ainda estão nos primeiros passos de implementação) e problemas de saúde. “Não há provas que relacionem o surgimento de certas doenças com o 5G à potência a que as radiações são emitidas”, explicou ao PÚBLICO Rui Aguiar, investigador do Instituto de Telecomunicações. “As pessoas que falam mal do 5G e alertam para riscos de saúde não estão a falar do 5G em específico, estão a falar das comunicações rádio que funcionam com radiação electromagnética.”
Rui Aguiar nota que nos estudos feitos são identificadas muitas vezes uma correlação entre o uso de radiações electromagnéticas (em aparelhos como televisões, microondas e telemóveis com as antigas redes 3G e 4G) e o surgimento de algumas doenças em sociedade. Mas uma correlação não é uma casualidade – a primeira mostra que duas coisas estão associadas (por exemplo, acontecem no mesmo período de tempo) e a segunda prova que uma é o resultado da outra.
Numa fase inicial, as grandes vantagens das redes 5G serão comunicações mais rápidas e com menos tempo de resposta. Com isto, as redes 5G vão permitir maior qualidade em videojogos online, videoconferências, e transmissão de vídeos em directo. As vantagens mais ambiciosas, como cirurgias realizadas remotamente, poderão demorar anos a chegar aos consumidores.