Compras online: menos bilhetes e apostas, mais comida e tecnologia
Primeiros dados completos das compras dos portugueses através da Internet revelam uma mudanças de hábitos de consumo. Compras electrónicas subiram, transacções com cartões caíram.
Pelos dados mais recentes das mudanças de hábitos dos portugueses, a pandemia do novo coronavírus está a fazer mais pela transformação digital em Portugal do que todas as medidas tomadas para promover a “terceira revolução industrial”, incluindo as grandes campanhas publicitárias que anualmente envolvem gastos de milhões de euros para desenvolver o negócio.
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Pelos dados mais recentes das mudanças de hábitos dos portugueses, a pandemia do novo coronavírus está a fazer mais pela transformação digital em Portugal do que todas as medidas tomadas para promover a “terceira revolução industrial”, incluindo as grandes campanhas publicitárias que anualmente envolvem gastos de milhões de euros para desenvolver o negócio.
Na semana entre 30 de Março e 3 de Abril, que apanhou o anúncio do Governo de que o país ia entrar num segundo período do estado de emergência reforçado, a SIBS, que gere a rede Multibanco (usada por 95% dos portugueses), registou um aumento à volta de 18% nas compras online de serviços e de produtos. A informação compara com os dados da semana anterior e deve ser observada com uma salvaguarda: a generalidade dos portugueses recebeu os vencimentos ao longo das duas últimas semanas.
À medida que o tempo de confinamento vai passando, na SIBS apuram-se as informações que vão ajudar a perceber como é que os portugueses se estão a comportar dentro das suas casas, desde que foram anunciadas as primeiras medidas do Governo de combate ao contágio pela covid-19 (no início de Março). E com um detalhe acrescido: a bitola por áreas geográficas.
Na prática, a interpretação dos dados recolhidos pela SIBS possibilita compreender se o padrão de consumo dos clientes da SIBS está a ser redesenhado. O que dá pistas aos decisores para que tomem medidas ajustadas. E já se apurou que o padrão mudou de repente (ainda que o peso do comércio online continue longe dos valores associados às vendas tradicionais).
Em Fevereiro, e antes de serem decretadas as medidas de confinamento da população às suas habitações, as quatro rubricas que mais pesavam na estrutura do consumo online (em termos relativos) desapareceram: transportes (passes, bilhetes intermodais); bilhética (bilhetes para concertos, cinema, teatro); alojamento local e hotéis; jogo de apostas desportivas. Em conjunto, as quatro rubricas colapsaram 80%.
Em contrapartida, a importância de outras disparou: a restauração (para entregas, sobretudo), que antes da crise tinha um peso de 6% no bolo geral, passou para 12%; os produtos alimentares, bebidas e tabaco estavam em 0,5% e estão agora em mais de 2%; o comércio de retalho não especializado (Amazon, EchoDot, Alibaba, AliExpress, sites que vendem de tudo um pouco) subiu de 5% para 9%.
Uma análise pormenorizada das decisões de consumo dos portugueses via online possibilita saber mais: na semana passada, a componente que mais cresceu no cálculo total foi a venda de equipamentos tecnológicos e através do Google. Já as compras (na hora), inscritas como over-the-top (OTT), ou seja, as aplicações de internet (Netflix, HBO, Apple TV), aumentaram de 2,9% para 4,5%.
Peso do MB Way aumenta
Em declarações ao PÚBLICO, Madalena Tomé, presidente da SIBS (empresa detida pelos principais bancos portugueses com uma rede 15 mil postos), observou que já “é possível identificar alterações” nos hábitos de consumo dos portugueses quando usam os cartões, ainda que possam ser de natureza temporária. “Em reflexo das medidas seguidas pelo Governo registou-se uma acentuada quebra do número de transacções, nesta última semana, superior a 50%, em comparação com as anteriores à covid-19”, o que foi “acompanhado de uma concentração de compras em super e hipermercados e em farmácias e parafarmácias, sectores que passaram a representar mais de metade (54%) das compras efectuadas em Portugal, e de um aumento do valor médio das compras (+21%)”. Valores que reportam à semana de 26 de Março.
Por seu turno, “o peso das compras com MB Way aumentou registando uma evolução que permite destacar a conveniência da utilização do MB Way para as compras, uma vez que permite que todos os pagamentos sejam efectuados “sem contacto” com o terminal de pagamento, qualquer que seja o montante”.
Para Madalena Tomé a adesão ao MB Way, resulta de ser uma solução fácil de fazer pagamentos, “não só no online, onde continua a ser uma das formas mais seguras, mas também em loja, nos casos em que é necessária deslocação, porque é integralmente sem contacto, nem com numerário nem com o terminal, qualquer que seja o montante.”
A presidente da SIBS reconhece que se está a assistir hoje à adopção “de novos hábitos digitais e no desenvolvimento do e-commerce [comércio electrónico] e dos serviços não presenciais”, contribuindo para a promover “a digitalização dos hábitos dos portugueses e empresas”. Madalena Tomé acredita que a “alteração será estruturante e vai perdurar no tempo, com o e-commerce a aumentar nas últimas semanas”. O número total de transacções em e-commerce decresceu apenas 30% neste período (face aos 50% de queda no comércio presencial), o que foi compensado por um ligeiro crescimento do valor médio (+8%).
E alerta que, no actual contexto de muitas incógnitas, “haverá uma reavaliação dos objectivos de curto prazo de todas as organizações, e porventura também de um ajuste ou revisão de algumas prioridades a médio prazo, e a SIBS não será excepção”: Concluiu: “É prematuro fazer projecções ou quantificar cenários”.