Doentes que fizeram transplantes temem transferência de serviço do Curry Cabral. Administração mantém decisão
No Hospital de Santa Marta está a ser preparada uma sala adicional para a realização de transplantes, assegura o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, que afirma que a transferência de serviço e pessoal está a decorrer dentro da normalidade.
A petição foi colocada online na madrugada desta segunda-feira e ao início da tarde já tinha sido assinada por mais de 900 pessoas. Todas com um objectivo comum: a de que os doentes “de risco, entre eles os oncológicos e os imunodeprimidos, como os transplantados” continuem a receber todos os cuidados necessários e que o Centro Hepato-bilico-pancreático e de Transplantação (CHBPT) do Hospital Curry Cabral “seja integralmente preservado e a sua actividade mantida”.
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A petição foi colocada online na madrugada desta segunda-feira e ao início da tarde já tinha sido assinada por mais de 900 pessoas. Todas com um objectivo comum: a de que os doentes “de risco, entre eles os oncológicos e os imunodeprimidos, como os transplantados” continuem a receber todos os cuidados necessários e que o Centro Hepato-bilico-pancreático e de Transplantação (CHBPT) do Hospital Curry Cabral “seja integralmente preservado e a sua actividade mantida”.
Lançada pelo Grupo de Transplantados do Hospital Curry Cabral, a petição foi motivada pelo anúncio de que o hospital iria tornar-se um espaço exclusivamente dedicado ao tratamento de pessoas com covid-19. Como o PÚBLICO já noticiou, esta mudança vai implicar a transferência de quatro serviços desta unidade do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC) para outros hospitais do grupo, incluindo o CHBPT, que deverá passar a funcionar, temporariamente, no Hospital de Santa Marta. Esta decisão está a preocupar alguns clínicos deste serviço, até porque muita da tecnologia de ponta que ajudou a tornar este serviço um centro de referência não poderá sair do Curry Cabral.
A petição agora lançada indica que também os utentes estão preocupados com a decisão que os responsáveis do CHULC já garantiram que é para manter.
No texto da petição lê-se que o Curry Cabral e o seu centro de referência na área do tratamento e transplante hepático, renal ou pancreático “é a segunda casa para tantos transplantados de todo o país, e os seus profissionais altamente qualificados são a sua segunda família”. E os peticionários deixam claro o que pretendem: “Os recursos humanos e tecnológicos do centro de transplante do Hospital Curry Cabral têm de ser preservados e mantidos de forma integrada, porque há muitas vidas a salvar, em paralelo com as das vítimas desta pandemia.”
À Lusa um dos elementos do grupo responsável pela petição admite que este pode apelar directamente aos diferentes grupos parlamentares, caso o documento actual, dirigido ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, às autoridades de Saúde e à administração do CHULC, não tenha qualquer resposta. “Tudo o resto parece que não existe, mas existem transplantes renais, transplantes hepáticos e também o tratamento dos cancros que também se fazem naquele hospital e não os podemos esquecer”, disse Teresa Custódio à agência de notícias.
Num comunicado enviado ao PÚBLICO, o CHULC garante que as transferências de serviços previstas são para manter, assim como o prazo já avançado: o final desta semana. E garante que “mantém toda a sua actividade assistencial de acordo com as orientações estabelecidas pela DGS [Direcção-Geral de Saúde], de forma a garantir a defesa da saúde de todos os cidadãos que a ele recorrem”.
No caso da transferência do CHBPT para o Hospital de Santa Marta, o centro hospitalar argumenta que “a transferência do transplante hepático nesta fase decorre da necessidade de garantir aos doentes a máxima segurança.” Para tal, assegura-se no comunicado, esta unidade “assume um conjunto de regras excepcionalmente rigorosas e uma sala adicional para a realização de transplantação será terminada até ao final desta semana”. O CHULC afirma ainda que “a mudança de equipamentos e reorganização de equipas já está a decorrer com normalidade”.
Sobre o equipamento de ponta que não poderá ser levado para Santa Marta, incluindo um aparelho de cirurgia robótica, o CHULC confirma que este está “temporariamente suspenso”, mas não por impossibilidade de transferência para outro espaço. Segundo o hospital, a paragem deste equipamento prende-se com “recomendações de várias sociedades nacionais e internacionais (Sociedade Portuguesa de Cirurgia e American College of Surgens, por exemplo), que recomendam a não utilização de laparoscopia durante a pandemia covid-19”.
Além do centro de transplantes, e tal como o PÚBLICO já indicara, vão sair do Curry Cabral os serviços de Medicina Física e Reabilitação para o Hospital de Santo António dos Capuchos, e os serviços de Ortopedia e Cirurgia Geral para o São José.
Há médicos do CHBPT que temem as consequências da transferência do serviço para outro local e preferiam que o espaço permanecesse no Curry Cabral, com uma separação total do resto da unidade. Na semana passada, Filipe Veloso Gomes, médico radiologista de intervenção do CHBPT, deu voz a essas preocupações, argumentando que o atraso de três ou quatro meses no tratamento de um doente com cancro do fígado pode significar uma grande diferença nos resultados obtidos. “Fechar um centro com esta importância para a Grande Lisboa e todo o Sul do país é uma decisão errada que estamos perfeitamente a tempo de corrigir. Caso contrário, vamos ver aumentar a mortalidade em casos em que era perfeitamente evitável”, disse, na altura. O clínico defendeu ainda que o Hospital de Santa Marta “não tem as mínimas condições” para receber um serviço com a dimensão do CHBPT.