Covid-19: Japão entra em estado de emergência na terça-feira

Medida vinha sendo pedida de forma cada vez mais insistente pelos peritos em saúde pública. Críticas à falta de resposta do primeiro-ministro Shinzo Abe estavam a aumentar.

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LUSA/KIMIMASA MAYAMA

Com o número de doentes infectados com o novo coronavírus a crescer, o Japão anunciou esta segunda-feira que vai declarar o estado de emergência a partir de amanhã, dia 7, e durante um mês. A medida, que abrange Tóquio, Osaka e cinco outras prefeituras, surge na sequência de pressões crescentes sobre o primeiro-ministro Shinzo Abe para conter o avanço da pandemia no país.

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Com o número de doentes infectados com o novo coronavírus a crescer, o Japão anunciou esta segunda-feira que vai declarar o estado de emergência a partir de amanhã, dia 7, e durante um mês. A medida, que abrange Tóquio, Osaka e cinco outras prefeituras, surge na sequência de pressões crescentes sobre o primeiro-ministro Shinzo Abe para conter o avanço da pandemia no país.

“Esta declaração do estado de emergência visa não só garantir que o sistema médico permanece intacto como pedir ainda maior cooperação da parte das pessoas para evitar contactos entre elas e reduzir as infecções tanto quanto for possível”, declarou Abe, que até agora tinha evitado avançar para o estado de emergência por considerar que a situação ainda não o justificava. A decisão só pode ser tomada com o acordo de um painel de consultores que inclui médicos e especialistas em saúde pública.

O Japão tem, de acordo com os números oficiais desta segunda-feira, 3900 pessoas infectadas com covid-19, com uma subida de 83 novos casos. No domingo, o país tinha registado a maior subida de sempre, com 143 novos casos. A estes somam-se ainda os doentes que se encontravam a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess, que esteve ancorado junto a Yokohama durante o mês de Fevereiro com 700 pessoas infectadas a bordo.

O The Japan Times explica que o estado de emergência no Japão não implicará as mesmas medidas de contenção que se viram em alguns países europeus ou em alguns estados norte-americanos. Muito mais do que o Governo central, é nas mãos das autoridades locais que ficam muitas das decisões sobre a dimensão das medidas a aplicar. Os governadores de cada uma das províncias abrangidas terão o poder de “pedir” à população que permaneça em casa, saindo apenas para tarefas essenciais como ir ao supermercado ou à farmácia.

Escolas, creches, teatros e outros espaços públicos são também aconselhados a fechar, enquanto as empresas devem aplicar as medidas de controlo da epidemia. Alguns, nomeadamente restaurantes e bares, já encerraram as portas nos últimos dias, optando por se antecipar ao anúncio do estado de emergência.

O jornal sublinha que no Japão a palavra “pedir” é entendida como “ordenar, com uma forte expectativa de que aqueles a quem se destina obedeçam as directivas”. No entanto, não estão previstas penalizações se tal não acontecer.

O estado de emergência – uma medida nunca tomada antes no Japão – prevê ainda que os governos locais possam requisitar terrenos para instalar serviços de apoio médico temporários ou “pedir” aos fornecedores de bens que os vendam às autoridades – e, neste caso, existe a alternativa de os obrigar a cumprir a ordem, caso tentem recusar.

Algumas indústrias e empresas de transportes, assim como a estação pública NHK são consideradas essenciais e poderão ser chamadas pelas autoridades a cumprir tarefas como distribuição de bens ou de informações.

O The Japan Times cita uma previsão da Goldman Sachs segundo a qual fechar Tóquio durante um mês irá significar uma queda de 40% no consumo da capital japonesa, com consequências muito graves para a economia do país. Daí que o Governo de Abe tenha considerado a declaração de estado de emergência como o último recurso na luta contra a pandemia.

O primeiro-ministro já anunciou um “ambicioso” pacote de medidas de apoio à economia, mas os economistas prevêem que o país caia numa recessão, para a qual contribui também a decisão (tomada apenas no final de Março) de adiar os Jogos Olímpicos de 2020, que se deveriam realizar em Tóquio, e que estão agora marcados para 2021.

A hesitação, demonstrada por Abe nos últimos dias, em avançar para a declaração do estado de emergência tinha feito surgir críticas à sua actuação, nomeadamente quando, na semana passada, o primeiro-ministro anunciou a entrega de máscaras gratuitas (duas por habitação) à população, abrangendo um total de 50 milhões de residências. O anúncio, relata o South China Morning Post, foi atacado nas redes sociais que se encheram da hashtag “Abenomasks”, uma referência à política económica de Abe, a chamada “Abenomics”.

Vários peritos têm repetido nos últimos dias que o Japão não tem feito o suficiente para conter o vírus. O país “precisa de ter a coragem para mudar quando percebemos que estamos no caminho errado”, disse Kentaro Iwata, especialista no controlo de infecções da Universidade de Kobe, citado pela CNN. Sem isso, alertou, “poderemos ver outra Nova Iorque em Tóquio”.