Ser cego, sem tacto: como a pandemia encolheu o mundo de quem não vê
O novo coronavírus tornou o tacto proibido, a proximidade um perigo, o volume do mundo diferente. Como se orientam, agora, as pessoas cegas? Como imaginam as cidades sem gente? ACAPO fala numa reaprendizagem e já adoptou medidas
Henrique Santos guarda o mapa da cidade na cabeça. Percorre-a todos os dias, sozinho, e conhece-lhe de cor a calçada irregular, as ruas mais ou menos estreitas, os caixotes do lixo e semáforos no caminho, os bancos de pedra e recantos de serenidade. Mas o mapa de Henrique desenhou-se antes da pandemia global e da revolução geográfica por ela imposta – e agora, nas mesmas ruas, praças ou avenidas, quase sem gente nem ruído, já nada lhe parece o mesmo. De repente, viu-se transportado para outro lugar, “silencioso e vazio”, bem longe do Porto. “É como se estivesse numa aldeia”, diz: “É uma nostalgia tremenda para quem se habituou a ver a cidade louca.” Henrique Santos é cego. Mas conjuga o verbo ver. Usa-o a toda a hora. “A gente não vendo, vê”, tenta explicar, rosto virado ao sol. “Apenas vemos de outra maneira.”
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Henrique Santos guarda o mapa da cidade na cabeça. Percorre-a todos os dias, sozinho, e conhece-lhe de cor a calçada irregular, as ruas mais ou menos estreitas, os caixotes do lixo e semáforos no caminho, os bancos de pedra e recantos de serenidade. Mas o mapa de Henrique desenhou-se antes da pandemia global e da revolução geográfica por ela imposta – e agora, nas mesmas ruas, praças ou avenidas, quase sem gente nem ruído, já nada lhe parece o mesmo. De repente, viu-se transportado para outro lugar, “silencioso e vazio”, bem longe do Porto. “É como se estivesse numa aldeia”, diz: “É uma nostalgia tremenda para quem se habituou a ver a cidade louca.” Henrique Santos é cego. Mas conjuga o verbo ver. Usa-o a toda a hora. “A gente não vendo, vê”, tenta explicar, rosto virado ao sol. “Apenas vemos de outra maneira.”