Coronavírus: 75% da restauração e hotelaria encerrada e muitas empresas ponderam não reabrir
Inquérito divulgado esta sexta-feira pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) revela que, neste momento, estão encerradas 75% das empresas do sector e muitas ponderam não reabrir. Para a AHRESP, medidas aprovadas pelo Governo são “inadequadas” para o sector. Exige apoio monetário a fundo perdido.
A maioria das empresas na área da hotelaria e restauração encontra-se encerrada face ao surto de covid-19 e às medidas aprovadas pelo Governo para mitigar a expansão do novo coronavírus. Metade assume avançar para layoff, um terço diz já não ter conseguido pagar salários em Março e cerca de 80% estima uma “ausência total de facturação em Abril e Maio”.
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A maioria das empresas na área da hotelaria e restauração encontra-se encerrada face ao surto de covid-19 e às medidas aprovadas pelo Governo para mitigar a expansão do novo coronavírus. Metade assume avançar para layoff, um terço diz já não ter conseguido pagar salários em Março e cerca de 80% estima uma “ausência total de facturação em Abril e Maio”.
Estas são algumas das principais conclusões do inquérito realizado pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), apresentado esta sexta-feira durante uma conferência de imprensa online. No estudo “covid-19 – Impacto na actividade turística”, realizado entre 1 e 3 de Abril, participaram 1819 empresas associadas.
“Neste momento, temos cerca de 75% das empresas encerradas”, avançou Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP. Quase 70% dizem respeito à área do alojamento turístico e 33% à restauração. “A maioria das empresas não sabe o que lhe vai acontecer e já equaciona não voltar a abrir. Vai depender da evolução da pandemia e de como se vai apoiar a economia.”
Em Março, apenas 6% das empresas inquiridas despediu trabalhadores (destas, 44% referiu ter dispensado um trabalhador). Mas metade assume avançar para o layoff simplificado. Uma medida a aplicar “à totalidade dos trabalhadores” em 74% dos casos, sendo que a maioria (70%) alega não ter capacidade para pagar os dois terços do salário dos trabalhadores em Abril, caso a Segurança Social não faça a entrega atempada do apoio previsto, que deverá ser pago no dia 28.
Do universo das quase duas mil empresas inquiridas, um terço admite não ter conseguido pagar ordenados em Março e 63% prevê não ter como fazê-lo este mês, caso não receba apoios. Cerca de 80% estima “uma ausência total de facturação (zero vendas) em Abril e em Maio”.
Apesar do cenário pouco “animador”, 77% das empresas não recorreu a apoios financeiros, sendo que, das que o fizeram, dois terços utilizaram a linha de apoio do Turismo de Portugal, apenas disponível para microempresas, que contabilizam 50% dos inquiridos num universo, realça Ana Jacinto, em que 99% são pequenas e médias empresas.
“O impacto no emprego é tremendo, o impacto na facturação é tremendo e o cenário só vem confirmar aquilo que a AHRESP tem vindo a dizer”, afirmou a secretária-geral da associação.
Para a AHRESP, o layoff é “o único mecanismo de apoio” que as empresas têm, uma vez que, apesar de “reconhecer o esforço que o Governo tem feito”, muitas das medidas anunciadas são “inadequadas” para o sector. Por um lado, as linhas de apoio “não são de fácil acesso”, por outro, “entre o momento da candidatura e a aprovação pode mediar cerca de 40 dias úteis”, sendo um hiato de tempo incomportável para muitas empresas, apontou a responsável.
Para Ana Jacinto “não há outra alternativa” que não seja avançar com “dinheiro a fundo perdido para apoiar a tesouraria das empresas” e evitar o sobreendividamento.
“As empresas não vão aguentar”, vaticina. “Tudo o que está a ser feito são moratórias, alívios temporários, que nos vão causar, a breve tempo, custos enormíssimos que as empresas não vão conseguir saldar porque a retoma não se faz de um momento para o outro.”
Corre-se o risco de “não morrermos da doença”, “mas morrermos da cura”, avisa Ana Jacinto. “Urge tomarmos medidas sérias de apoio directo à tesouraria das empresas para que possam sobreviver e manter os postos de trabalho”.
Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (World Travel and Tourism Council), só na União Europeia, cerca de 6,4 milhões de empregos no sector vão ser afectados pela actual crise económica provocada pela pandemia de covid-19.
Em comunicado publicado esta quinta-feira, o WTTC anunciou ter instado as autoridades da União Europeia e o Governo do Reino Unido a “implementar flexibilidade em torno dos reembolsos aos consumidores” como uma “importante medida” para “aliviar a pressão insuportável” que o sector vive actualmente.