Covid-19: Instituições do ensino superior emprestam computadores aos estudantes

Equipamentos que costumam ser usados nas aulas vão para casa dos alunos que não têm forma de aceder ao ensino à distância. Politécnicos querem que dados usados para aceder aos sites das instituições não sejam cobrados pelas operadoras.

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Nelson Garrido

A meio da terceira semana de aulas à distância, Alexandra Henriques espera pelo momento em que pode ir buscar um computador para poder acompanhar as matérias. “Até agora está a ser difícil”, conta. Está no 1.º ano da licenciatura em Línguas para as Relações Internacionais, do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), e é um dos mais de 100 alunos a quem a instituição vai emprestar, a partir desta semana, equipamentos para que estes possam continuar a estudar.

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A meio da terceira semana de aulas à distância, Alexandra Henriques espera pelo momento em que pode ir buscar um computador para poder acompanhar as matérias. “Até agora está a ser difícil”, conta. Está no 1.º ano da licenciatura em Línguas para as Relações Internacionais, do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), e é um dos mais de 100 alunos a quem a instituição vai emprestar, a partir desta semana, equipamentos para que estes possam continuar a estudar.

Alexandre Henriques está a cumprir o isolamento social recomendado pelas autoridades sanitárias a 230 quilómetros de casa. É natural de Santa Maria da Feira, onde “a situação está um bocado crítica”. O concelho é vizinho de Ovar, o primeiro município ao qual foi imposto um cordão sanitário, e conta 162 infectados com a covid-19, de acordo com os últimos números divulgados pela Direcção-Geral de Saúde.

Na casa onde vive em Bragança tem acesso à Internet. Mas não um computador. Por isso, teve que acompanhar as aulas nas últimas duas semanas e meia através do seu telemóvel. Uma solução pouco eficaz, explica: “Na primeira semana foi especialmente complicado. Nem consegui entregar os trabalhos que os professores pediram a tempo.”

Após os primeiros dias de ensino à distância, o IPB começou a receber queixas dos alunos que, como Alexandra, não tinham um computador – ou acesso à Internet nas casas a que estão confinados – para poder acompanhar as matérias que os professores disponibilizam online. “Não é um número muito elevado, mas temos que ter uma solução para eles”, explica o presidente daquele instituto politécnico, Orlando Rodrigues, que na semana passada lançou um programa de empréstimo de computadores destinado a estes estudantes.

O IPB disponibilizou 130 equipamentos, que costumam ser utilizados nas salas de aulas e começou a entregá-los esta semana à maioria dos 140 alunos que se candidataram a recebê-los. A instituição está a preparar uma segunda fase deste programa, esperando conseguir mobilizar computadores doados por empresas ou instituições públicas da região, para dar resposta aos restantes estudantes.

Também os institutos superiores de Setúbal – que além de empestar 100 computadores da instituição, apelou também aos estudantes que emprestam aos colegas equipamentos que possam ter em casa sem utilização –, Coimbra e do Cávado e Ave, com sede em Barcelos, têm programas semelhantes.

Entre as universidades, a do Algarve está também a ultimar uma iniciativa deste género. Depois de ter confirmado que o ano lectivo em curso vai terminar sem mais aulas presenciais, a Universidade do Minho (UM) mostra abertura para ajudar os estudantes desprovidos de computador a realizarem as actividades calendarizadas a partir do local onde estão isolados. A UM vai mapear os alunos com “dificuldades relativamente à posse de computadores ou de rede”, através de um levantamento já pedido à Associação Académica da Universidade do Minho e aos vários directores de curso, avançou o reitor, Rui Vieira de Castro, num encontro com a imprensa, por videoconferência, esta quarta-feira.

Depois de identificados os estudantes, a universidade tem em mente dois caminhos para suprir as suas necessidades: uma “campanha de sensibilização social” para o problema junto de antigos estudantes e a alteração do regulamento do Fundo Social de Emergência da instituição para financiar a oferta de equipamento.

Garantir acesso à Internet

Além do empréstimo de computadores, o Politécnico de Setúbal, em parceria com a sua associação académica, vai também entregar pontos portáteis (hotspots) de acesso à Internet aos alunos que não tenham uma ligação doméstica. Já o politécnico de Bragança está a estudar formas de aumentar a potência da rede interna de wi-fi, de modo a poder cobrir a área envolvente do campus onde mora a maioria dos estudantes da instituição.

O acesso dos estudantes à Internet é outra das preocupações das instituições de ensino superior, que preparam o prolongamento do ensino à distância para os próximos meses. Mesmo que as operadoras tenham disponibilizado 10 GB de dados de acesso à Internet a todos os seus assinantes, no início do período de isolamento social, a medida é insuficiente para responder às necessidades dos estudantes. “Esse pacote é gasto em meia semana se os alunos acompanharem as aulas online”, ilustra o presidente do IPB, Orlando Rodrigues.

Para responder a essa dificuldade, o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos propôs esta semana às operadoras móveis que criem soluções adaptadas às necessidades dos estudantes. Foram duas as soluções apresentadas: ou as empresas de telecomunicações deixam de contabilizar o tráfego gasto para o acesso aos IP’s das instituições, como já fazem com as aplicações das redes sociais em alguns tarifários; ou criam um pacote especial de acesso à Internet destinado aos alunos que possa ser usado durante o período de confinamento. A proposta não teve, até ao momento, resposta.