Covid-19: “Há dez médicos” infectados que estão internados nos cuidados intensivos
Ordem dos Enfermeiros pede a profissionais que respondam a inquérito com urgência para perceber quantos estão infectados. “É difícil para os hospitais estarem, neste momento, a dar números reais”, justifica.
Um em cada oito dos infectados com o novo coronavírus em Portugal é profissional de saúde. O número de médicos, enfermeiros, auxiliares e outros trabalhadores de hospitais e centros de saúde que estão contagiados não pára de aumentar e os dados mais recentes indicam que representam já mais de 13% do total dos casos positivos em Portugal. Dos 835 infectados, 209 são médicos e 177 enfermeiros. Os restantes são auxiliares, técnicos e outros profissionais de saúde, segundo os últimos dados revelados esta segunda-feira pelo secretário de Estado da Saúde no balanço da situação epidemiológica do surto de covid-19 em Portugal.
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Um em cada oito dos infectados com o novo coronavírus em Portugal é profissional de saúde. O número de médicos, enfermeiros, auxiliares e outros trabalhadores de hospitais e centros de saúde que estão contagiados não pára de aumentar e os dados mais recentes indicam que representam já mais de 13% do total dos casos positivos em Portugal. Dos 835 infectados, 209 são médicos e 177 enfermeiros. Os restantes são auxiliares, técnicos e outros profissionais de saúde, segundo os últimos dados revelados esta segunda-feira pelo secretário de Estado da Saúde no balanço da situação epidemiológica do surto de covid-19 em Portugal.
Os representantes dos médicos e dos enfermeiros estão, porém, convencidos de que estes números estão longe de corresponder à realidade. Adiantando que “há já dez médicos internados nos cuidados intensivos”, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, acredita que os dados dos casos positivos estão “subreportados” e lamenta a “insensibilidade que o Ministério da Saúde manifesta em relação aos seus profissionais”, por continuar a ser obrigatório testar apenas os que têm sintomas da infecção.
Também há enfermeiros “em estado grave, nos cuidados intensivos”, diz a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, sem precisar, porém, quantos são. Por não acreditar igualmente nos números que têm sido avançados pelo ministério e pela Direcção-Geral da Saúde, a bastonária decidiu colocar esta terça-feira no microsite da Ordem dedicado à doença um questionário que pede para ser respondido com urgência e dirigido a todos os enfermeiros que “estão na linha de defesa da pandemia da covid-19”.
“A OE estima que não sejam apenas 177 os enfermeiros infectados, como foi revelado, mas também compreende que é difícil para os hospitais estarem, neste momento, a dar números reais, pelo que a colaboração dos enfermeiros é fundamental para conseguirmos perceber a situação real”, justifica. E contesta o “racionamento” dos testes nas unidades de saúde. “É um disparate, não estão a ser cumpridas as orientações da Organização Mundial da Saúde”.
“Podíamos ter evitado que a situação chegasse a este ponto. E ainda podemos evitar que se agrave. Os médicos deviam ser testados de 15 em 15 dias. Os países que estão a ter sucesso [no combate à pandemia] fazem isso”, corrobora o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães. “Já digo há semanas que também os médicos sem sintomas devem ser testados com regularidade” e que “os que estão a tratar doentes nas consultas e nos serviços de urgência também têm que ter equipamentos de protecção individual, uma vez que estão igualmente expostos”.
Máscara para todos os doentes
No entanto, lembra o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Noel Carrilho, só desde este domingo é que ficou estipulado, através de uma norma da Direcção-Geral da Saúde, que todos os doentes devem usar máscara, tal como todos os profissionais de saúde. “Isto é o mínimo”, enfatiza.
As duas estruturas sindicais que representam os médicos já colocaram, aliás, nos seus sites minutas para “a recusa de prestação de actos médicos enquanto não forem fornecidos os indispensáveis equipamentos”. São documentos que “funcionam como pressão” para que os equipamentos de protecção, como máscaras, luvas, sejam distribuídos, justifica Roque da Cunha.
A elevada taxa de infecção nos profissionais de saúde não é um exclusivo português. Em Itália e em Espanha são milhares os médicos, enfermeiros e outros trabalhadores dos hospitais e centros de saúde que ficaram infectados e dezenas morreram, entretanto. Percentualmente, Espanha é o país que se encontra em pior situação a este nível. Os dados mais recentes adiantados pelo Ministério da Saúde espanhol nesta segunda-feira apontam para um total de 12.298 profissionais de saúde infectados, ou seja, 14,4% do total dos casos positivos neste país. Em Itália, eram perto de 9% (6.414) os profissionais de saúde infectados, de acordo com os últimos dados revelados pelo Instituto Superior de Saúde daquele país, na sexta-feira. Até este dia, tinham morrido 51 médicos.