Trompetista americano Wallace Roney morre de covid-19 aos 59 anos
Tocou com Miles Davis, o seu ídolo, mas também com Tony Williams, Herbie Hancock e Ornette Coleman. Deu entrada na passada semana num hospital de Nova Jérsia com sintomas do novo coronavírus e não lhe resistiu. Miles era, dizia, “o maior de sempre”.
Trompetista de jazz que se celebrizou como intérprete da música de Miles Davis, Wallace Roney morreu na terça-feira na sequência de complicações decorrentes da covid-19. Tinha 59 anos e estava internado há uma semana num hospital de Nova Jérsia, segundo a sua noiva, Dawn Felice, escreve o diário britânico The Guardian.
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Trompetista de jazz que se celebrizou como intérprete da música de Miles Davis, Wallace Roney morreu na terça-feira na sequência de complicações decorrentes da covid-19. Tinha 59 anos e estava internado há uma semana num hospital de Nova Jérsia, segundo a sua noiva, Dawn Felice, escreve o diário britânico The Guardian.
Roney, considerado um dos grandes trompetistas do jazz norte-americano da sua geração, teve no icónico Miles Davis, também trompetista e compositor, e no baterista Tony Williams os seus mentores.
Sempre comparado com Miles – os mais críticos dizem que soava demasiado como o mestre, os que mais apreciavam a forma como interpretava a sua música defendem que tinha um estilo próprio e era “brilhante”, lembra Yahvé M. de la Cavada, crítico de música do jornal espanhol El País –, Wallace Roney teve uma carreira de 40 anos, intensamente vivida entre diversas formações.
“Eu nunca me farto das comparações com o Miles – só me farto daqueles que tentam fazer com que isso seja uma coisa negativa”, disse no ano passado o músico, aqui citado pelo Guardian. “Porque, para mim, não há comparação. Miles Davis é o maior de sempre. O que procuro fazer é continuar, levar mais longe o que aprendi com ele.”
Trompete aos sete, Miles aos 23
Nascido em Filadélfia em 1960, começou a tocar trompete aos sete anos e antes dos 20 já integrava a sua primeira big band. Formado na Duke Ellington School of the Arts, na Howard University e no Berklee College of Music, Roney cedo começou a dar nas vistas.
Em 1981 juntou-se aos Jazz Messengers do lendário baterista Art Blakey, em substituição de Wynton Marsalis, que tinha começado a tocar com outro dos grandes do jazz norte-americano, Herbie Hancock. No ano seguinte viria a juntar-se ao grupo do saxofonista Chico Freeman, tocando em simultâneo noutras formações nos clubes nova-iorquinos, até que o baterista Tony Williams o contratou, em 1985.
Foi entre Freeman e Williams, quando tinha 23 anos, que o trompetista viria a conhecer Miles Davis, indiscutivelmente a sua grande influência. Williams tinha feito parte do célebre quinteto de Miles nos anos 1960 e tornou-se mentor de Roney, que começaria a sua própria carreira como líder de uma banda em 1987, um percurso inaugurado com Verses, o primeiro de 22 álbuns.
Com este registo inaugural, escreve o crítico do El País, o trompetista “ajudou a definir a nova vaga do neoclassicismo no jazz norte-americano da época”, nunca se distanciando muito do mítico quinteto de Miles, que contava com Williams, Wayne Shorter, Ron Carter e Herbie Hancock .
Em 1991, e a pedido do próprio trompetista e compositor, Wallace Roney participou no último concerto de Miles Davis, em Montreux, na Suíça. Depois da morte deste músico lendário, em Setembro desse mesmo ano, viria a substituí-lo na nova versão do seu quinteto, com Hancock, Shorter, Carter e Williams, grupo que ficou encarregue de o homenagear.
Nesses anos 1990 trabalhou também com músicos como Chick Corea, Bill Evans, Helen Merrill e Geri Allen. Foi com esta última, pianista, que casou e teve três filhos.
Em 1994 ganhou um Grammy pelo álbum A Tribute to Miles, interpretando as partes que caberiam a Miles com os restantes quatro músicos do quinteto original.
Durante a sua longa carreira tocou ainda com músicos como Ornette Coleman e Elvin Jones, e editou álbuns como Mistérios (1994), que inclui algumas versões de temas brasileiros, Home (2012) e Blue Dawn (2019).
“Improvisador fluido e melódico, imaginativo, Roney fazia lembrar muito Miles, é verdade, mas também soava inconfundível e original”, escreve o crítico de música do diário espanhol. “Com a sua morte o mundo do jazz norte-americano perde um dos trompetistas mais importantes das últimas décadas.”
Wallace Roney apresentou-se várias vezes em Portugal, nos festivais de jazz de Matosinhos, Guimarães, Funchal e Estoril.