Temos um problema com a DGS
Como há semanas disse o primeiro-ministro, não se mudam generais a meio da batalha. Não é isso que se pede. Pede-se sim que o Ministério da Saúde reforce a DGS com meios e competências para apurar números como é devido e comunicar com o país como é indispensável
Nos últimos dias tornou-se público e notório: temos um problema com a Direcção-Geral da Saúde. Um problema de comunicação desastrada, um problema de números de infectados, um problema com a decifração e entendimento da estratégia para a protecção dos idosos dos lares, um problema para percebermos afinal o que deve, o que pode ou o que está a ser feito em relação aos testes. Temos defendido neste espaço a necessidade de se proteger a credibilidade da DGS, criticando autarcas que se insurgiram contra alguns dos seus dados ou lembrando que vivemos um problema novo para o qual não havia ordem de marcha. Continuamos a não ter razão para duvidar da honestidade ou do empenho de quem dirige a DGS. Mas não há forma de iludir a realidade: temos um problema que ou é resolvido a curto prazo ou as críticas vão crescer e a confiança ruir.
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Nos últimos dias tornou-se público e notório: temos um problema com a Direcção-Geral da Saúde. Um problema de comunicação desastrada, um problema de números de infectados, um problema com a decifração e entendimento da estratégia para a protecção dos idosos dos lares, um problema para percebermos afinal o que deve, o que pode ou o que está a ser feito em relação aos testes. Temos defendido neste espaço a necessidade de se proteger a credibilidade da DGS, criticando autarcas que se insurgiram contra alguns dos seus dados ou lembrando que vivemos um problema novo para o qual não havia ordem de marcha. Continuamos a não ter razão para duvidar da honestidade ou do empenho de quem dirige a DGS. Mas não há forma de iludir a realidade: temos um problema que ou é resolvido a curto prazo ou as críticas vão crescer e a confiança ruir.
Não faz sentido que na sexta-feira a directora-geral reconheça “discrepâncias” no número de infectados e proponha “afinações” para, na segunda, apresentar números para o Porto que supostamente duplicaram porque tinham entrado no domingo na contabilidade nacional e não na concelhia. Não se entende como pode estar o número de doentes recuperados estagnado dias e dias a fio. Não se percebe como há municípios onde o número de casos congela ou regride de um dia para o outro. E não apenas porque os números em si são absurdos ou incompreensíveis; não se entende também pela gritante falta de explicações e de respostas – o PÚBLICO, por exemplo, pode fazer uma pergunta por semana nas conferências de imprensa diárias e não encontra respostas para questões de óbvio interesse público por parte da DGS.
Mais grave ainda foi nesta segunda-feira Graça Freitas ter dito sobre a aplicação de um cordão sanitário no Porto: “Provavelmente será hoje tomada uma decisão.” Uma decisão desta gravidade não se admite como cenário: toma-se (ou não se toma) e só depois se anuncia, até para evitar que todos os que têm mais recursos possam sair a correr da cidade e, como aconteceu em Milão, espalharem eventualmente o vírus pelo país.
Como há semanas disse o primeiro-ministro, não se mudam generais a meio da batalha. Não é isso que se pede. Pede-se sim que o Ministério da Saúde reforce a DGS com meios e competências para apurar números como é devido e comunicar com o país como é indispensável. A continuar assim, arriscamo-nos a confundir fragilidades com incompetência ou erros de método com mentiras. Um cenário terrível para o enorme desafio que, como país, temos pela frente.