Covid-19: nos transportes semi-colectivos de Moçambique, não há nem um centímetro de distância entre os passageiros
Baldes de plástico com torneiras improvisadas foram distribuídos pelas autoridades pelos terminais rodoviários das rotas urbanas, interdistritais e interprovinciais, mas por vezes não têm água, nem cloro.
A desinfecção das mãos com água e cloro à porta dos transportes públicos passou a ser obrigatória nos terminais rodoviários em Chimoio, no centro de Moçambique, mas a sobrelotação é fornece um cocktail fértil para a transmissão do novo coronavírus.
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A desinfecção das mãos com água e cloro à porta dos transportes públicos passou a ser obrigatória nos terminais rodoviários em Chimoio, no centro de Moçambique, mas a sobrelotação é fornece um cocktail fértil para a transmissão do novo coronavírus.
Os semi-coletivos - veículos ligeiros de passageiros apinhados de gente - são o transporte privilegiado para circular pelas capitais provinciais moçambicanas, todos os dias. “O número é um pouco complicado”, disse à Lusa Mendes Miquitaio, um transportador local, defendendo que a sobrelotação é um mal necessário para suportar as despesas de operação.
O transportador reconhece que a medida de desinfectar as mãos nos terminais é ineficaz, sobretudo para os carros que levam mais passageiros do que deviam e sugere que, o ideal, era as autoridades pulverizarem as viaturas.
Baldes de plástico com torneiras improvisadas foram distribuídos pelas autoridades pelos terminais rodoviários das rotas urbanas, interdistritais e interprovinciais, mas por vezes não têm água, nem cloro.
“Há passageiros que se recusam a lavar as mãos, dizendo que têm os seus próprios desinfectantes”, conta Farai Francisco, um angariador de passageiros. “Nós obrigamo-los a descer do carro e só sobem depois de lavar as mãos” acrescentou.
Auria Páscoa fica espantada quando repara que viaja com outras 19 pessoas numa carrinha com lotação recomendada de 15. Não haverá sequer um centímetro de distância, quanto mais um metro de distanciamento social recomendado pelas autoridades de saúde para prevenir a transmissão do novo coronavírus.
“Sinto-me mal, mas não há como [fazer de outra forma], porque preciso de viajar”, diz à Lusa, visivelmente desconfortável, já dentro do semi-coletivo, encostada a outros quatro passageiros.
Aida da Conceição, outra passageira, diz que as condições são “das piores”. “Mandam-nos lavar as mãos, mas depois temos de seguir em bancos estragados”, num espaço em que “os vidros não abrem”.
Estas condições, diz, mostram como “o país não está preparado para enfrentar a doença”.
Moçambique tem oito casos registados da covid-19, seis importados e dois por transmissão local, sem mortes.
O número de mortes em África subiu para pelo menos 152, com 4871 infectados acumulados em 46 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia divulgadas pelo Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças (CDC) da União Africana.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 750 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 36 mil. Dos casos de infecção, pelo menos 148.500 foram considerados curados.
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