Pandemia económica: combatê-la pela oferta ou pela procura?

A redução da circulação de pessoas e de mercadorias, o medo, a incerteza, o desemprego e a diminuição do consumo, do investimento e das exportações vão fazer decrescer brutalmente a procura dirigida às empresas. Sem procura, estas morrem, mesmo que congeladas.

Todos sabemos que esta pandemia, ao exigir que as populações se recolham, logo uma parte dela a não produzir e também a não consumir, colocará as economias nacionais e a mundial numa profunda crise, de que nem sequer temos ainda a verdadeira dimensão. Sabemos apenas que vai ser profunda e um autêntico tsunami, ainda no mar alto, mas que vai chegar de forma arrasadora.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Todos sabemos que esta pandemia, ao exigir que as populações se recolham, logo uma parte dela a não produzir e também a não consumir, colocará as economias nacionais e a mundial numa profunda crise, de que nem sequer temos ainda a verdadeira dimensão. Sabemos apenas que vai ser profunda e um autêntico tsunami, ainda no mar alto, mas que vai chegar de forma arrasadora.

Num espaço de moeda única e assente na liberdade de circulação de pessoas e de mercadorias, como a zona euro, a resposta terá de ser comum, sob pena de a UE se desintegrar e o tsunami ser ainda maior e ter mais réplicas.

Concorda-se que agora a concentração esteja na vertente da saúde pública e orientada para preservar vidas. O pensamento preventivo das políticas públicas, contudo, tem de estar já equacionado também na vertente económica e nas políticas de emprego e sociais.

Parece ser entendimento maioritário, neste momento, que todos os esforços sejam dirigidos para congelar a oferta, como se diz, garantindo a tesouraria das empresas, criando linhas de crédito, favorecendo os apoios públicos à manutenção do emprego, face à suspensão da atividade, deslizando-se o pagamento de impostos, ou diminuindo-os, sobretudo sobre o trabalho, ou seja, atuando do lado da oferta.

Num primeiro momento faz sentido, ajudando incluso a combater o pânico e a não destruir o aparelho produtivo, mas o problema que virá, contudo, é do lado da procura, e será profundíssimo. A redução da circulação de pessoas e de mercadorias, o medo, a incerteza, o desemprego e a diminuição do consumo, do investimento e das exportações vão fazer decrescer brutalmente a procura dirigida às empresas. Sem procura, estas morrem, mesmo que congeladas.

Em Portugal, onde o setor do turismo assumiu uma função fundamental, sendo muito trabalho intensivo, a crise vai criar uma redução de negócios significativa, além de agravar intensamente o défice e a poupança externos.

É então do lado da procura que se deve rapidamente concentrar a intervenção futura. Para garantir a viabilidade das empresas que são “congeladas” e a coesão social. Apoiar os desempregados, sobretudo os novos, com rendimento, e incrementar os apoios sociais e o emprego apoiado. A despesa pública assume aqui um papel fundamental, com sede no Orçamento do Estado, e não só na Segurança Social, pois as diminuições fiscais, em tempos de medo e incerteza, são entesouradas, em parte pelas empresas e pelos investidores, em regra.

Num país como o nosso, a ação do BCE tem de suportar e facilitar esta intervenção pública, evitando colocar o País numa situação de insolvabilidade e de juros proibitivos.

Se a Europa não servir para estes momentos, como disse o primeiro-ministro, para que serve então? Apenas para alimentar os superávites externos do Norte sem valorizações cambiais?

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico