É tempo de agir!
Estas duas semanas vão ser determinantes em vários aspetos e importa começar já a planear qual será a estratégia a adotar para a fase de recuperação, pois o impacto desta pandemia será seguramente tremendo em termos económicos. E não é preciso uma pandemia para sabermos que o determinante que mais impacto tem na saúde é precisamente a pobreza.
Seguramente que após conseguirmos ultrapassar esta pandemia haverá lições importantes a serem aprendidas e vamos necessitar de um processo rigoroso e independente de avaliação de tudo o que se passou. Vamos provavelmente ter indicadores importantes sobre a necessidade de uma verdadeira Reforma da Saúde Pública, como vimos defendendo há longo tempo.
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Seguramente que após conseguirmos ultrapassar esta pandemia haverá lições importantes a serem aprendidas e vamos necessitar de um processo rigoroso e independente de avaliação de tudo o que se passou. Vamos provavelmente ter indicadores importantes sobre a necessidade de uma verdadeira Reforma da Saúde Pública, como vimos defendendo há longo tempo.
Mas penso que no momento presente é importante focar a mensagem em três pontos:
“Testar, testar, testar”
As palavras não são minhas, mas subscrevo integralmente o apelo do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, no sentido de proceder ao diagnóstico laboratorial de covid-19 de todos os sintomáticos, tendo em vista o seu isolamento e a realização de inquérito epidemiológico que permita identificar todos os contactos próximos e que estes sejam colocados em quarentena e vigilância ativa. A definição de caso demasiado restritiva e as barreiras na validação de casos que sentimos até agora (pelas dificuldades na Linha SNS24, na Linha de Apoio ao Médico e na validação pelos Hospitais de Referência) poderá ter impedido que tivéssemos um conhecimento mais abrangente da real situação epidemiológica. E para podermos tomar decisões informadas e adequadas, seguramente que ter um diagnóstico de situação é fundamental.
A passagem à fase de mitigação e a possibilidade de passar a validar casos com base apenas em sintomatologia compatível com covid-19 e, portanto, prescindindo da ligação epidemiológica (ter estado num país/área com transmissão mantida ou ter contacto próximo com um caso confirmado de covid-19) será muito útil. Havendo capacidade diagnóstica com volume suficiente para responder às solicitações, poderemos rapidamente passar a ter uma perceção mais clara da real situação epidemiológica e implementar ainda medidas de contenção para os casos. Portanto, será extremamente importante acompanhar a evolução dos dados nos próximos dias.
Libertem os dados
Sendo certo que a própria OMS já em 2018 tinha identificado o coronavírus como uma das ameaças à saúde internacional e que, portanto, devia ser alvo de um investimento na sua investigação, é impressionante a quantidade de conhecimento produzido sobre um surto com apenas três meses de evolução.
A partilha de dados e informação tem sido essencial para que os países e as equipas envolvidas na resposta possam identificar as boas práticas e as possam implementar de forma célere. Tem sido notória a disponibilidade da Academia, das Instituições de Investigação e de cientistas/investigadores a nível individual para desenvolver soluções, seja no âmbito da análise de dados, seja na criação de soluções tecnológicas. Há mesmo organizações informais de pessoas com as mais diversas competências, que se disponibilizaram para ajudar. E portanto, nesse contexto, faz sentido que quem está a montar a resposta possa utilizar estes recursos de forma organizada e que estes contributos possam ser maximizados.
Adicionalmente, a comunidade científica nacional tem pedido que os dados da vigilância epidemiológica sejam disponibilizados de forma transparente, para que possam ser analisados e a informação produzida seja do domínio público. Não podemos deixar de nos associar a este pedido, tendo nós próprios criado e disponibilizado publicamente algumas ferramentas de análise que estão disponíveis em www.anmsp.pt. Uma das análises que estávamos a disponibilizar tinha a ver com os dados dos atendimentos da Linha SNS24, mas deixaram de estar disponíveis desde 9 de março. Seguramente que a disponibilização de dados permitiria análises muito mais detalhadas e úteis para a resposta ao surto, com a dinamização da comunidade científica para produzir conhecimento e fundamentar as medidas de Saúde Pública.
Fique em casa
Não é demais reforçar esta ideia de que as pessoas se devem resguardar o mais possível, principalmente aquelas que fazem parte de grupos de risco como as que têm mais de 70 anos ou com doença crónica. Para estes grupos, a melhor abordagem é mesmo ficar em casa, e sair apenas para questões absolutamente essenciais. Sempre que for possível, as famílias, os amigos ou os vizinhos podem colaborar para suprir qualquer necessidade, como compras de medicamentos e bens de primeira necessidade, ou o pagamento de contas.
Estamos já em pleno período das férias escolares e também da Páscoa e poderá haver alguma tentação de fazer “férias” e visitar a família. De facto, este não é o momento. Principalmente agora que entrámos na fase de mitigação, devemos todos cumprir com a nossa responsabilidade social e reduzir as possibilidades de transmissão e disseminação da doença. Será importante que se faça um esforço particularmente nesta altura, para reduzir o impacto da pandemia nos mais vulneráveis.
Portanto, deixamos mais uma vez o apelo para que a população de associe na campanha #EuFicoEmCasa. Seguramente que a quarentena é um desafio difícil, mas haverá que ser criativo e encontrar atividades que possam ser feitas no domicílio que sejam simultaneamente descontraídas e enriquecedoras.
Estas duas semanas vão ser determinantes em vários aspetos e importa começar já a planear qual será a estratégia a adotar para a fase de recuperação, pois o impacto desta pandemia será seguramente tremendo em termos económicos. E não é preciso uma pandemia para sabermos que o determinante que mais impacto tem na saúde é precisamente a pobreza.
Precisamos de ultrapassar este desafio com confiança.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico