Confiança dos consumidores e empresários com maior queda desde a troika

Mesmo sem o efeito total das medidas de contenção tomadas pelo Governo, as expectativas do portugueses em relação à situação económica registaram a maior descida desde a chegada da troika ao país.

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paulo pimenta

Apesar de a maior parte dos inquéritos realizados pelo INE ter sido feita antes do agravamento das medidas de contenção tomadas pelo Governo, o efeito negativo do novo coronavírus nas expectativas dos consumidores e das empresas já se fez sentir de forma drástica nos indicadores de Março.

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Apesar de a maior parte dos inquéritos realizados pelo INE ter sido feita antes do agravamento das medidas de contenção tomadas pelo Governo, o efeito negativo do novo coronavírus nas expectativas dos consumidores e das empresas já se fez sentir de forma drástica nos indicadores de Março.

De acordo com os dados dos inquéritos de conjuntura publicados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a confiança dos consumidores registou a maior redução mensal desde Setembro de 2012 e o indicador de clima económico, que mede as expectativas dos empresários, caiu de uma forma que não se via desde Abril de 2011, o mês em que a troika chegou ao país.

No caso do indicador de confiança dos consumidores, o índice passou de um valor de -7,6 pontos em Fevereiro para -13,7 pontos em Março. O principal contributo para esta descida veio das expectativas dos inquiridos relativamente à situação da economia portuguesa durante os próximos doze meses, que passou de -6,7 pontos para -23 pontos. E, em particular, há agora mais portugueses à espera de uma subida acentuada da taxa de desemprego.

Do lado das empresas, a deterioração das expectativas em relação à evolução dos negócios durante os próximos doze meses acontece em todos os sectores, estejamos a falar de indústria, comércio ou construção civil.

Ainda assim, se é verdade que é preciso recuar até ao auge da última crise económica para encontrar um mês em que a redução destes indicadores tivesse sido tão acentuada, o mais provável é que a totalidade do impacto negativo do novo coronavírus não esteja ainda reflectida nos indicadores agora revelados pelo INE.

Como assinala a autoridade estatística, uma parte substancial dos inquéritos realizados ocorreu nas primeiras semanas de Março, isto é, antes de algumas das principais medidas de contenção – que induziram uma paragem abrupta da actividade económica – terem sido postas em prática pelo Governo.

No caso da recolha dos dados do inquérito aos consumidores, diz o INE, 86,4% das entrevistas foram feitas até ao dia 10 de Março, o dia anterior ao anúncio do encerramento das escolas. No caso das empresas, os inquéritos foram recolhidos um pouco mais tarde, mas ainda assim, cerca de 80% das entrevistas realizaram-se antes de 16 de Março, a data do encerramento das escolas, clarifica o INE.

Esta quebra de confiança em consumidores e empresários deverá conduzir, como ocorreu já no passado, a resultados negativos na evolução de indicadores económicos como o consumo das famílias ou o investimento empresarial. As previsões realizadas mais recentemente para a economia portuguesa apontam aliás nesse sentido. Na passada quinta-feira, o Banco de Portugal avançou com uma projecção de contracção da economia de 3,7% num cenário em que o impacto é considerado “relativamente limitado”, e de 5,7% num cenário menos benigno. As quedas projectadas para o investimento são de 10,8% e 14,9%, consoante o cenário considerado. E no consumo privado de 2,8% e 4,8%, respectivamente.​