O entusiasmo de não jogar The Last of Us na televisão
A coqueluche da Naughty Dog será adaptada à HBO. Pela matéria-prima, pelos nomes associados e pelas possibilidades, será um marco na transição de videojogo para série.
Dia 5 de Março foi confirmado oficialmente algo que a comunidade ainda não esqueceu: The Last of Us será uma série de televisão. Publicada originalmente na PlayStation 3 em 2013, a obra da Naughty Dog marcou, marca e marcará o panorama dos videojogos. A adaptação para televisão está a reunir o músculo e o talento necessários para perpetuar o estatuto de culto.
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Dia 5 de Março foi confirmado oficialmente algo que a comunidade ainda não esqueceu: The Last of Us será uma série de televisão. Publicada originalmente na PlayStation 3 em 2013, a obra da Naughty Dog marcou, marca e marcará o panorama dos videojogos. A adaptação para televisão está a reunir o músculo e o talento necessários para perpetuar o estatuto de culto.
Primeiro, o que sabemos: o projecto será liderado por Craig Mazin e Neil Druckmann e será uma co-produção da Sony Pictures Television e da PlayStation Productions para a HBO. Druckmann é uma das figuras de proa da Naughty Dog. A saber: além de vice-presidente da produtora californiana, é também o argumentista e director criativo de The Last of Us, o videojogo. Mazin chega a esta adaptação depois de ter criado e escrito Chernobyl, uma das séries que marcou o catálogo da HBO em 2019.
A série dará destaque aos eventos que marcaram a primeira obra da série, ficando no ar a possibilidade de retratar acontecimentos relevantes da segunda parte, que se prepara para estrear no final de Maio, em exclusivo na PlayStation 4. Druckmann, recorrendo ao Twitter, confirmou um quinteto de personagens que marcarão presença, nomeadamente, Ellie, Riley, Tess, Marlene e Maria, “entre outras”. Ficou a dica sobre uma sexta personagem: o seu nome é composto por quatro letras.
Se Mazin e Druckmann são nomes de peso, não menos importante é o talento responsável pela banda sonora. Depois de ter assinado a magistral toada musical do videojogo, Gustavo Santaolalla “vai juntar-se a nós para levar The Last of Us até à HBO”. As palavras são novamente de Druckmann, que não se esquece de confirmar que Santaolalla terá também o seu nome associado à Parte II da saga.
Ainda falta muito para a estreia, como se suspeitava desde o anúncio. No podcast Scriptnotes, Mazin confirmou o que muitos suspeitavam: “não podemos começar já porque eles estão a terminar o segundo jogo. Temos estado a falar sobre isso há meses, pequenos planos e coisas”. Contudo, o desenvolvimento do projecto vai arrancar “integralmente” apenas “quando eles terminarem o seu trabalho final na sequela”.
Há um claro escudar do que será colocado no catálogo da HBO. A Sony e a Naughty Dog sabem perfeitamente que The Last of Us carrega uma expectativa de qualidade. A obra original e o conteúdo adicional Left Behind (originalmente publicado na PlayStation 3 em 2014) ganharam estatuto e ajudaram a elevar o que valem os videojogos como veículo narrativo, além de continuarem a estadia da produtora num patamar de qualidade técnica onde estão poucas casas.
Mazin parece saber o que deve ser esta transição para televisão. Foi ele, segundo é dito no podcast, que fez força para que fosse feita uma série e não um filme. “O meu sentimento foi ‘não podes fazer um filme a partir disto, tem que ser uma série. Precisa de longevidade’. É sobre o desenvolvimento de uma relação durante uma longa jornada, então tem que ser uma série de televisão,” disse antes de Druckmann concordar com ele.
The Last of Us conta a história de Ellie e Joel, sobreviventes de um surto zombie, enquanto se aventuram fora da zona de quarentena. O papel de Joel durante a aventura é proteger a jovem que tem 14 anos na altura em que o jogo começa. Há criaturas “infectadas” por um misterioso fungo, há armas e outras mecânicas vistas antes e depois nos videojogos.
Contudo, a Naughty Dog criou a beleza das emoções no meio da desolação; as cenas de diálogo entre os dois protagonistas, a forma como a confiança é conquistada e perdida. A jogabilidade não é má, o departamento técnico ainda impressiona (o jogo foi adaptado à PlayStation 4 em 2014), mas são os sinais de humanidade que tornaram a obra tão especial, querida e amada. São momentos como este, que nos fizeram colectivamente pousar o comando quando a aventura tinha apenas começado.
As relações e as suas complicações, transportando para uma época extraordinária e desoladora muito do que já era complicado e esbelto, em tempos normais, emulsionando as emoções. A adaptação a cadências de vida diferentes, a perda de vidas junto ao coração, a mão estendida no meio de nada, no meio de ninguém. Tudo isto espraiado por uma viagem pelos Estados Unidos da América durante as várias estações do ano; tudo matéria-prima de excelência para resultar como série de televisão.
Os jogadores estão habituados a adaptações trapalhonas de videojogos a filmes — e também a obras de entretenimento que fazem o caminho inverso de maneira pouco recomendável. The Last of Us pode vir a ser um falhanço na HBO, claro que sim, mas o entusiasmo e a confiança estão em alta neste momento: pelos nomes associados ao projecto, pela batida da obra como jogo, pelo respeito que a Sony Interactive Entertainment e a Naughty Dog têm pelo selo The Last of Us e pelo tempo de produção que parece estar a ser alocado ao projecto mesmo antes das filmagens começarem.
Será também uma continuação do entusiasmo afunilado e investido nestas vidas depois de The Last of Us Parte II chegar dia 29 de Maio. Que eventos da sequela é que a série poderá repescar não se sabe, obviamente, mas depois de jogarmos o exclusivo PlayStation 4 continuará a adivinhação de que actriz ou actor será escolhido para cada personagem, imaginando como o mundo em ruínas será retractado.
Neste momento, isto é o que se sabe sobre a parceria entre HBO, Sony Pictures Television e PlayStation Productions. Haverá quem não esteja entusiasmado, o que é compreensível, especialmente pelo medo normal de ver algo tão querido ganhar uma nova roupagem. Mesmo que venha a ser um falhanço, ninguém poderá roubar o que já temos. E o que já temos parece ser respeitado e mantido em âmbar por Mazin e Druckmann. Quando uma fã disse ao criador de Chernobyl que “é bom que mantenham o gay gay. Por favor e obrigado. Não apaguem essa representação por favor”, Mazin respondeu “tens a minha palavra”. E até à estreia do primeiro episódio, eu acredito nela.