Reflexão sobre a covid-19

A única forma se estimar o real número de infetados em Portugal vai ser infelizmente, e indiretamente, através do número de óbitos por covid-19. E a curva do número de óbitos por covid-19 em Portugal, em comparação com Itália e Espanha, não é mesmo nada animadora.

No gráfico em baixo, as linhas pretas correspondem à previsão do número de casos positivos de covid-19 para Portugal feita com modelos matemáticos baseados nos parâmetros de outros países em meados de março por Jorge Buescu. O modelo previa no final do mês de março entre 16.000 a 48.000 casos positivos, aproximadamente.

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No gráfico em baixo, as linhas pretas correspondem à previsão do número de casos positivos de covid-19 para Portugal feita com modelos matemáticos baseados nos parâmetros de outros países em meados de março por Jorge Buescu. O modelo previa no final do mês de março entre 16.000 a 48.000 casos positivos, aproximadamente.

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Temos ouvido na comunicação social muitos comentários animadores, realçando que os casos positivos reportados pela DGS (curva a vermelho) estão abaixo da linha inferior de previsão. Este fenómeno é frequentemente atribuído às medidas de contenção que estamos a levar a cabo em Portugal. Contudo, é necessário observar os números com cuidado e refletir se será mesmo assim.

Observemos os dados reportados pela DGS:

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A acreditar nos dados da DGS, vemos que o número de testes realizados não tem aumentado (antes pelo contrário) e que, de entre as pessoas testadas, nos últimos dias há uma muito maior percentagem de positivos. Isto pode significar que só estão a ser encaminhados para fazer testes os casos com grande probabilidade de serem positivos, e aparentemente nos últimos dias tem acontecido cada vez mais. Consequentemente, a linha dos casos positivos em Portugal fica abaixo das previsões realizadas, não por ser um cenário animador de que há menos positivos do que o previsto com parâmetros de outros países, mas talvez por ser um cenário assustador de que há muitos casos positivos que nem chegam a ser testados e, portanto, o verdadeiro número de infetados poderá estar de facto entre as linhas pretas. E, claro, havendo muitos casos de covid-19 que não sabem que estão infetados aumenta a probabilidade de contágio.

Uma vez que o número de casos com testes positivos não nos dá informação muito útil, talvez faça sentido analisar, em alternativa, os óbitos por covid-19. Embora possa também haver alguns óbitos por covid-19 não diagnosticados como tal, este número é, em princípio, mais “certo” que os casos com testes positivos.

No gráfico em baixo apresenta-se o número de óbitos por covid-19 em três países. O dia 1 do gráfico é para os três países o dia em que atingiram a meia dúzia de óbitos por covid-19. Esse dia em Portugal foi 20 de março, em Itália 24 de fevereiro e em Espanha 6 de março. A linha a laranja é Itália, a linha a azul é Portugal e a linha a cinza Espanha.

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Mantendo-se este número de testes realizados e, principalmente, a serem testados apenas os casos com grande probabilidade de serem positivos, a curva dos casos diagnosticados com covid-19 deixa de ter utilidade. A única forma se estimar o real número de infetados em Portugal vai ser infelizmente indiretamente através do número de óbitos por covid-19. A curva do número de óbitos por covid-19 em Portugal (azul), em comparação com Itália e Espanha (os dois países europeus a enfrentar as maiores dificuldades), não é mesmo nada animadora.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico