Costa considera discurso de ministro holandês “repugnante” e anti-União Europeia

No final do Conselho Europeu, primeiro-ministro disse que “foi um acordo possível mas manifestamente insuficiente” e considerou que pedido do ministro das Finanças holandês a pedir que Espanha seja investigada é contrário ao espírito europeu.

Foto
António Costa criticou as conclusões do Conselho Europeu extraordinário LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS

O primeiro-ministro disse esta quinta-feira, no final de um Conselho Europeu que decorreu por videoconferência, que as instituições europeias foram mandatadas para “começar a preparar um grande plano de recuperação para o período pós-crise” e confirmou que continua a haver divisões sobre a emissão de dívida conjunta, vulgo eurobonds (quatro estados-membros são contra). Mas o momento que marcou a conferência de imprensa foi quando António Costa, em resposta a um jornalista, considerou o discurso do ministro das Finanças holandês repugnante por pedir que Espanha seja investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O primeiro-ministro disse esta quinta-feira, no final de um Conselho Europeu que decorreu por videoconferência, que as instituições europeias foram mandatadas para “começar a preparar um grande plano de recuperação para o período pós-crise” e confirmou que continua a haver divisões sobre a emissão de dívida conjunta, vulgo eurobonds (quatro estados-membros são contra). Mas o momento que marcou a conferência de imprensa foi quando António Costa, em resposta a um jornalista, considerou o discurso do ministro das Finanças holandês repugnante por pedir que Espanha seja investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia.

“Esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia (UE). E a expressão é mesmo essa. Repugnante”, disse o primeiro-ministro, considerando ainda que “é uma absoluta inconsciência” e uma “mesquinhez recorrente” que “mina completamente aquilo que é o espírito da UE e que é uma ameaça ao futuro da UE”.

Se a União Europeia quer sobreviver é inaceitável que qualquer responsável político, seja de que país for, possa dar um resposta dessa natureza perante uma pandemia como aquela que estamos a viver”, indignou-se o português.

António Costa assumiu que a Europa está a preparar-se para um “período de três meses de crise profunda para chegar a Junho nas melhores condições”. Mas, acrescentou, “ninguém sabe qual é o momento zero do período pós crise”, e “não podemos viver eternamente nesta situação de interrupção da actividade”.

O primeiro-ministro português não se mostrou totalmente satisfeito com as decisões do conselho europeu, que considerou insuficientes. “Foi um acordo possível mas manifestamente insuficiente para uma crise com dimensão muitíssimo superior a qualquer outra”, defendeu.

Costa explicou que os governantes europeus falaram sobre fronteiras, tráfego aéreo, apoio a 17 projectos em curso para o desenvolvimento de vacinas e também apelaram a regras para acelerar os procedimentos de compra de equipamento médico e afins porque “há uma grande carência e uma grande corrida que justifica a aquisição, em pool”.

“Foi também dado um mandato ao Eurogrupo para, no prazo de duas semanas, definir as condições de mobilização de uma linha para financiar os estados-membros no combate à crise no valor de 240 mil milhões”, acrescentou António Costa. Cada país poderá levantar uma verba até ao limite de 2% do seu PIB para aplicar em investimentos necessários no sector da saúde, aquisição de equipamentos e materiais, apoio ao emprego, rendimento e estabilização das empresas.

No conjunto da reunião, de acordo com António Costa, foi dada atenção às consequências económicas e financeiras geradas pela paralisia que se vive actualmente.

O primeiro-ministro considerou ser “boa altura” de todos na União “compreenderem que não foi a Espanha que criou o vírus” ou “que importou o vírus”, salientando que “se algum país da UE pensa que resolve o problema do vírus deixando o vírus à solta noutro país, está muito enganado”.

“Porque numa União Europeia que assenta na liberdade de circulação, de pessoas e bens, em fronteiras abertas, o vírus não conhece fronteiras”, afirmou. com Lusa