Coronavírus: Trump muda de tom e elogia China em conversa com Xi Jinping

Presidente dos Estados Unidos declara “muito respeito” pela China, que “tem sofrido muito” com o novo coronavírus. Uso do termo “vírus chinês” pela Casa Branca pode estar relacionado com um aumento de ataques racistas contra a população de origem asiática.

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Donald Trump tem usado o termo "vírus da China" para se referir ao SARS-Cov-2 Reuters/Jonathan Ernst

No meio de uma guerra de palavras sobre a insistência dos Estados Unidos em chamar ao novo coronavírus “o vírus de Wuhan” – a cidade chinesa onde surgiram os primeiros casos da doença covid-19 –, o Presidente norte-americano, Donald Trump, elogiou o comportamento da China na resposta à pandemia, numa conversa telefónica com o Presidente chinês, Xi Jinping.

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No meio de uma guerra de palavras sobre a insistência dos Estados Unidos em chamar ao novo coronavírus “o vírus de Wuhan” – a cidade chinesa onde surgiram os primeiros casos da doença covid-19 –, o Presidente norte-americano, Donald Trump, elogiou o comportamento da China na resposta à pandemia, numa conversa telefónica com o Presidente chinês, Xi Jinping.

“A China tem sofrido muito e desenvolveu uma grande compreensão sobre o vírus”, disse Trump no Twitter, na madrugada desta sexta-feira, após a conversa com Xi. “Estamos a trabalhar em conjunto. Muito respeito!”, disse ainda o Presidente norte-americano.

Na conversa entre os dois líderes, o Presidente chinês disse que o trabalho em conjunto “é a única opção” para travar o novo coronavírus, e pediu a Trump que adopte “medidas substanciais” para que as relações entre os dois países “se baseiem num respeito mútuo e numa colaboração benéfica para ambos os lados”.

Tensão crescente

É uma mudança de tom tão marcada quanto inesperada, e surge no auge de uma frente comum na Casa Branca para retratar o Governo chinês como o principal responsável pela pandemia do novo coronavírus.

Ainda na quarta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, acusou o Governo chinês de representar “uma ameaça à saúde e ao modo de vida” da população dos Estados Unidos, “como ficou demonstrado com o surto do vírus de Wuhan”.

No mesmo dia, Pompeo insistiu que a declaração final de uma reunião do G7 incluísse uma referência ao “vírus de Wuhan”, o que foi recusado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros dos restantes países.

Desde o dia 16 de Março, o Presidente Trump tem-se referido ao vírus SARS-Cov-2 como “o vírus chinês”.

De acordo com o grupo norte-americano Asian Americans Advancing Justice, de defesa dos direitos da população de origem asiática nos Estados Unidos, o uso do termo pelo Presidente Trump contribuiu para o aumento de ataques de ódio no país nas últimas semanas.

“O uso deliberado de termos como ‘vírus chinês’ tem acendido as chamas do racismo contra os americanos de origem asiática neste país”, disse o director da organização, John C. Yang, ao canal NBC News.

“Temos casos de pessoas que associam o vírus a chineses enquanto atacam pessoas de origem asiática. É chocante vermos um político a desvalorizar estes casos quando os ataques racistas continuam a aumentar. As palavras importam, e muitas vezes têm mais peso quando são proferidas pelos nossos políticos”, disse o responsável.

No domingo, um dos responsáveis pelo combate ao novo coronavírus nos Estados Unidos e presença assídua nas conferências de imprensa na Casa Branca ao lado do Presidente Trump, o imunologista Anthony Fauci, disse numa entrevista ao site da revista Science que se recusa a usar o termo “vírus da China".

Vários jornais, como o South China Morning Post, de Hong Kong, e o chinês Caixin, noticiaram nas últimas semanas que os primeiros casos de covid-19 (na altura registados como uma pneumonia provocada por um vírus desconhecido) terão surgido na China ainda em Novembro – muito antes da data oficial de 8 de Dezembro.

A detecção de um novo coronavírus na província chinesa de Hubei só viria a ser revelada pela China ao resto do mundo em finais de Dezembro – a 21 de Dezembro, as autoridades admitiram que o vírus era transmissível de pessoa para pessoa, e os dados técnicos foram partilhados com as agências internacionais a 11 de Janeiro.

De acordo com as notícias das últimas semanas, sabe-se que algumas das pessoas que tentaram revelar os primeiros casos foram punidas pelas autoridades chinesas, mas admite-se que essa resposta inicial tenha resultado de uma desvalorização da gravidade do problema.