Os eventos vão mudar e muito
A oportunidade para o mercado dos eventos fazerem uma autocrítica e se transformarem.
Todos os empresários, quando estão de frente para uma grande crise, passam por três estágios bastante comuns: a negação; o pânico; e, por fim, se aí conseguirem chegar, a fase da reinvenção do negócio. Por outras palavras, na primeira fase negamos o óbvio, na segunda fazemos planos para o fim do mundo e na última, finalmente, metemos mãos à obra e pensamos como poderemos sobreviver. Alguns sobreviveremos, outros morreremos. É e sempre assim foi. Pelo meio, perdem-se empregos, destroem-se famílias e diminui a esperança média de vida. É a má moeda do capitalismo a funcionar.
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Todos os empresários, quando estão de frente para uma grande crise, passam por três estágios bastante comuns: a negação; o pânico; e, por fim, se aí conseguirem chegar, a fase da reinvenção do negócio. Por outras palavras, na primeira fase negamos o óbvio, na segunda fazemos planos para o fim do mundo e na última, finalmente, metemos mãos à obra e pensamos como poderemos sobreviver. Alguns sobreviveremos, outros morreremos. É e sempre assim foi. Pelo meio, perdem-se empregos, destroem-se famílias e diminui a esperança média de vida. É a má moeda do capitalismo a funcionar.
O tecido empresarial português, ao contrário do que alguma propaganda possa querer passar, é constituído essencialmente por pequenas empresas, muitas delas familiares e que vivem quase sempre para o amanhã. A falta de liquidez é por isso hoje um assunto muito sério e que sinceramente não se pode resolver com um brutal aumento do endividamento. Principalmente quando os cenários macroeconómicos nos empurram para um panorama de recessão que poderá facilmente superar os piores anos da última crise. Muitas das empresas que hoje recorrem ao financiamento fácil, amanhã estarão mortas. É uma questão de meses, para estar montado o cenário da tempestade perfeita.
Na área dos eventos o impacto é óbvio e muito notório. Todos os grandes eventos se encontram ou adiados ou cancelados. Sejam eles desportivos, culturais, empresariais ou de negócios – esta última área na qual a minha empresa actua. Nenhum de nós sabe bem o que poderá fazer num cenário em que as marcas desinvestem em patrocínios e em que as pessoas retraem o consumo e por isso deixam de adquirir bilhetes. O fim parece estar à vista. Mas pode não estar.
Será então altura de deixarmos a negação e o pânico e nos focarmos na reinvenção? Nunca estive tão certo que sim. Nas últimas duas semanas, milhões de pessoas em todo o mundo descobriram as maravilhas do teletrabalho, do Teams, do Skype, do Zoom e de tantos outros softwares de video-call. Mesmo quando tudo isto passar, muitas destas pessoas alterarão drasticamente a forma como consomem música ao vivo, summits de negócio, cultura e todo o outro tipo de espetáculos. Antes de mais, porque o mais provável é que pandemias deste género façam cada vez mais parte do nosso dia-a-dia, depois porque uma inovação, quando é penetrada no nosso quotidiano, normalmente tende a ficar e apenas a ser substituída por outra inovação ainda melhor.
Até há poucas semanas, os eventos viviam muito dos audiovisuais incríveis, de promotores com bom aspeto, de salas muito cheias e de caterings espetaculares. O paradigma vai mudar e o conteúdo será cada vez mais importante. Mesmo que possamos voltar a encher grandes salas, haverá muita gente que preferirá assistir aos nossos eventos no conforto da sua secretária ou do seu sofá. Aqui reside uma oportunidade de negócio única – e os primeiros que lá conseguirmos chegar iremos, sem dúvida, conseguir reinventar o nosso setor.
Não adianta taparmos mais o sol com a peneira. A situação é grave, muito grave. Não sabemos quanto mais tempo irá durar, nem o real impacto que terá no sector. Por isso mesmo, é hora de procurarmos alternativas e reinventarmos o nosso negócio. Ou isso, ou será a nossa morte.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico